A GUERRA SOB A VISÃO ESPÍRITA

ORIENTAÇÕES DE KARDEC SOBRE PROTEÇÃO ESPIRITUAL

SIGNIFICADO DA PAZ

“A paz não é nada que venha de fora.
É uma imensa construção para a qual fomos feitos e que começa exatamente no coração de cada um.
Nós somos responsáveis pela nossa paz e pela paz no mundo.”
Antônio Alçada Baptista

guerra sob a visão espírita

 

O LIVRO DOS ESPÍRITOS, ALLAN KARDEC,
LIVRO III, CAP. VI
GUERRAS

Per. 742 – Qual é a causa que leva o homem à guerra?
– Predominância da natureza animal sobre a natureza espiritual e satisfação das paixões. No estado de barbárie, não conhecem senão o direito do mais forte; por isso, a guerra é para eles um estado normal. À medida que o homem progride, ela se torna menos frequente, porque lhe evita as causas e, quando é necessária, sabe aliá-la à humanidade.
Per. 743 – A guerra desaparecerá um dia da face da Terra?
– Sim, quando os homens compreenderem a justiça e praticarem a lei de Deus; então todos os povos serão irmãos.
Per. 744 – Qual foi o objetivo da Providência, tornando a guerra necessária?
– A liberdade e o progresso.
– Se a guerra deve ter por resultado alcançar a liberdade, como ocorre que ela, frequentemente, tenha por objetivo e por resultado a subjugação?
– Subjugação momentânea para abater os povos, a fim de os fazer chegar mais depressa.
Per. 745 – Que pensar daquele que suscita a guerra em seu proveito?
– Este é o verdadeiro culpado e precisará de muitas existências para expiar todos os homicídios dos quais foi a causa, porque responderá pelo homem, cada um deles, ao qual causou a morte para satisfazer sua ambição.

guerra visão espírita

O LIVRO DOS ESPÍRITOS, ALLAN KARDEC,
LIVRO II, CAP. IX

Per. 541 – Em uma batalha há Espíritos que assistem a sustentam cada partido?
– Sim, e que estimulam a sua coragem.
Os Antigos, outrora, representavam os deuses tomando partido por tal ou tal povo. Esses deuses não eram outros senão Espíritos representados sob figuras alegóricas.
Per. 542 -Em uma guerra, a justiça está sempre de um lado; como os Espíritos tomam partido pela injustiça?
– Sabeis bem que há Espíritos que não procuram senão a discórdia e a destruição. Para eles a guerra é a guerra: a justiça da causa pouco os impressiona.
Per. 543 – Certos Espíritos podem influenciar o general na concepção de seus planos de campanha?
– Sem nenhuma dúvida, os Espíritos podem influenciar por esse motivo, como por todas as concepções.
Per. 544 – Os maus Espíritos poderiam suscitar-lhe maus planos, tendo em vista perdê-lo?
– Sim, mas não tem ele seu livre arbítrio? Se seu julgamento não lhe permite distinguir uma ideia justa de uma ideia falsa, suporta as consequências, e faria melhor obedecer do que comandar.
Per. 545 – O general pode, algumas vezes, ser guiado por uma espécie de segunda vista, uma vista intuitiva, que lhe mostre antecipadamente o resultado de seus planos?
– Frequentemente é assim no homem de gênio, é o que se chama inspiração, e faz com que ele aja com uma espécie de certeza. Essa inspiração lhe vem dos Espíritos que o dirigem e sabem aproveitar as faculdades de que é dotado.
Per. 546 – No tumulto do combate, o que ocorre com os Espíritos que sucumbem? Ainda se interessam pela luta, depois da morte?
– Alguns se interessam, outros se afastam.
Nos combates acontece aquilo que ocorre em todos os casos de morte violenta: no primeiro momento o Espírito está surpreso e como perturbado, e não crê estar morto, parecendo-lhe, ainda, tomar parte na ação. Não é senão pouco a pouco que a realidade lhe aparece.
Per. 547 – Os Espíritos que se combatiam, estando vivos, uma vez mortos se reconhecem por inimigos e são ainda obstinados uns contra os outros?
– O Espíritos, nesses momentos, não está jamais de sangue-frio. No primeiro momento, ele pode ainda querer seu inimigo e mesmo persegui-lo, mas quando as ideias lhe retornam, vê que sua animosidade não tem mais objetivo. Entretanto, pode ainda conservar-lhe as impressões, mais ou menos segundo o seu caráter.
– Percebe ainda o ruído das armas?
– Sim, perfeitamente.
Per. 548 – O Espírito que assiste de sangue-frio a um combate como espectador, testemunha a separação da alma e do corpo, e como esse fenômeno se apresenta a ele?
– Há poucas mortes instantâneas. Na maioria das vezes, o Espírito cujo corpo vem a ser mortalmente ferido, não tem consciência sobre o momento. Quando ele começa a se reconhecer, é então que se pode distinguir o Espírito que se move ao lado do cadáver. Isso parece tão natural que a visão do corpo morto não produz nele nenhum efeito desagradável. Toda a vida estando transportada no Espírito, só ele atrai atenção e é com ele que se conversa ou a ele que se dirige.
(Mais sobre o tema em O Livro dos Espíritos, cap. VI – V: LEI DE DESTRUIÇÃO)

A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL VISTA DE “NOSSO LAR”

NOSSO LAR, CAP. 41 – ANDRÉ LUIZ
CONVOCADOS À LUTA

…Nos primeiros dias de setembro de 1939, “Nosso Lar” sofreu, igualmente, o choque por que passaram diversas colônias espirituais, ligadas à civilização americana. Era a guerra européia, tão destruidora nos círculos da carne, quão perturbadora no plano do espírito. Entidades numerosas comentavam os empreendimentos bélicos em perspectiva, sem disfarçarem o imenso terror de que se possuíam.
…..Sabia-se, desde muito, que as Grandes Fraternidades do Oriente suportavam as vibrações antagônicas da nação japonesa, experimentando dificuldades de vulto. Anotavam-se, porém, agora, fatos curiosos de alto padrão educativo.
Assim como os nobres círculos espirituais da velha Ásia lutavam em silêncio, preparava-se “Nosso Lar” para o mesmo gênero de serviço. Além de valiosas recomendações, no campo da fraternidade e da simpatia, determinou o Governador tivéssemos cuidado na esfera do pensamento, preservando-nos de qualquer inclinação menos digna, de ordem sentimental.

guerra-mundial

…Reconheci que os Espíritos superiores, nessas circunstâncias, passam a considerar as nações agressoras não como inimigas, mas como desordeiras e cuja atividade criminosa é imprescindível reprimir.
…..- Infelizes dos povos que se embriaguem com o vinho do mal – disse-me Salústio -; ainda que consigam vitórias temporárias, elas servirão somente para lhes agravar a ruína, acentuando-lhes as derrotas fatais. Quando um país toma a iniciativa da guerra, encabeça a desordem da Casa do Pai, e pagará um preço terrível.
…..Observei, então, que as zonas superiores da vida se voltam em defesa justa, contra os empreendimentos da ignorância e da sombra, congregados para a anarquia e, consequentemente, para a destruição. Esclareceram-me os colegas de trabalho que, nos acontecimentos dessa natureza, os países agressores convertem-se, naturalmente, em núcleos poderosos de centralização das forças do mal.
Sem se precatarem dos perigos imensos, esses povos, com exceção dos espíritos nobres e sábios que lhes integram os quadros de serviço, embriagam-se ao contato dos elementos de perversão, que invocam das camadas sombrias. Coletividades operosas convertem-se em autômatos do crime. Legiões infernais precipitam-se sobre grandes oficinas do progresso comum, transformando-as em campos de perversidade e horror. Mas, enquanto os bandos escuros se apoderam da mente dos agressores, os agrupamentos espirituais da vida nobre movimentam-se em auxílio dos agredidos.
…..Se devemos lastimar a criatura em oposição à lei do bem, com mais
propriedade devemos lamentar o povo que olvidou a justiça.
…..Logo após os primeiros dias que assinalaram as primeiras bombas na terra polonesa, encontrava-me, ao entardecer, nas Câmaras de Retificação, junto de Tobias e Narcisa, quando inesquecível clarim se fez ouvir por mais de um quarto de hora. Profunda emoção nos invadira a todos.
…..É a convocação superior aos serviços de socorro a Terra – explicou-me Narcisa, bondosamente.
…..- Temos o sinal de que a guerra prosseguirá, com terríveis tormentos para o espírito humano – exclamou Tobias, inquieto -, embora a distância, toda a vida psíquica americana teve na Europa a sua origem. Teremos grande trabalho em preservar o Novo Mundo.
…..A clarinada fazia-se ouvir com modulações estranhas e imponentes. Notei que profundo silêncio caiu sobre todo o Ministério da Regeneração.
guerra na visão espírita

 

 

…Atento à minha atitude de angustiosa expectativa, Tobias informou:
…..- Quando soa o clarim de alerta, em nome do Senhor, precisamos fazer calar os ruídos de baixo, para que o apelo se grave em nossos corações.
…..Quando o misterioso instrumento desferiu a última nota, fomos ao grande parque, a fim de observar o céu. Profundamente comovido, vi inúmeros pontos luminosos, parecendo pequenos focos resplandecentes e longínquos, a librarem-se no firmamento.
-….. Esse clarim – disse Tobias igualmente emocionado – é utilizado por espíritos vigilantes, de elevada expressão hierárquica.
…..Regressando ao interior das Câmaras, tive a atenção atraída para enormes rumores provenientes das zonas mais altas da colônia, onde se localizavam as vias públicas.
…..Tobias confiou a Narcisa certas atividades de importância junto aos enfermos e convidou-me a sair, para observar o movimento popular.
…..Chegados aos pavimentos superiores, de onde nos poderíamos encaminhar à Praça da Governadoria, notamos intenso movimento em todos os setores. …..Identificando-me o espanto natural, o companheiro explicou:
…..- Estes grupos enormes dirigem-se ao Ministério da Comunicação, à procura de noticias. O clarim que acaba de soar, só vem até nós em circunstâncias muito graves. Todos sabemos que se trata da guerra, mas é possível que a Comunicação nos forneça algum detalhe essencial. Observe os transeuntes.
…..Ao nosso lado, vinham dois senhores e quatro senhoras, em conversação animada.
…..- Imagine – dizia uma – o que será de nós no Auxílio. Há muitos meses consecutivos, o movimento de súplicas tem sido extraordinário. Experimentamos justa dificuldade para atender a todos os deveres.
…..- E nós, com a Regeneração? – objetava o cavalheiro mais idoso – os serviços prosseguem consideravelmente aumentados. No meu setor, a vigilância contra as vibrações umbralinas reclama esforços incessantes. Estou avaliando o que virá sobre nós…
…..Tobias segurou-me o braço, de leve, e exclamou:
…..- Adiantemo-nos um pouco. Ouçamos o que dizem outros grupos.
…..Aproximando-nos de dois homens, ouvi um deles perguntando:
…..- Será crivei que a calamidade nos atinja a todos?
…..O interpelado, que parecia portador de grande equilíbrio espiritual, replicou, sereno:
…..- De qualquer modo, não vejo motivo para precipitações. A única novidade é o acréscimo de serviço que, no fundo, constituirá uma bênção.
Quanto ao mais, tudo é natural, a meu ver. A doença é mestra da saúde, desastre dá ponderação. A China está sob a metralha, há muito tempo, e não mostrou você, ainda, qualquer demonstração de assombro.
…..- Mas agora – objetou o companheiro, desapontado – parece que serei compelido a modificar meu programa de trabalho.

…..O outro sorriu e ponderou:
…..- Helvécio, Helvécio, esqueçamos o “meu programa” para pensar em “nossos programas”.
…..Atendendo a novo gesto de Tobias, que me reclamava atenção, observei três senhoras que iam na mesma direção à nossa esquerda, verificando que o pitoresco não faltava, igualmente ali, naquele crepúsculo de inquietação.
…..- A questão impressiona-me sobremaneira – dizia a mais moça -, porque Everardo não deve regressar do mundo agora.
…..- Mas a guerra – disse uma das companheiras -, ao que parece, não alcançará a Península. Portugal está muito longe do teatro dos acontecimentos.
…..- Entretanto – indagou a outra componente do trio -, por que semelhante preocupação? Se Everardo viesse, que aconteceria?
…..- Receio – esclareceu a mais jovem – que ele me procure na qualidade de esposa. Não o poderia suportar. É muito ignorante e, de modo algum, me submeteria a novas crueldades.
…..- Tola que és! – comentou a companheira – olvidaste que Everardo será barrado pelo Umbral, ou coisa pior?
…..Tobias, sorrindo, informou:
…..- Ela teme a libertação de um marido imprudente e perverso.
…..Decorridos longos minutos, em que observávamos a multidão espiritual, atingimos o Ministério da Comunicação, detendo-nos ante os enormes edifícios consagrados ao trabalho informativo.
…..Milhares de entidades acotovelavam-se, aflitamente. Todos queriam informações e esclarecimentos. Impossível, porém, um acordo geral.
…..Extremamente surpreendido com o vozerio enorme, vi que alguém subira a uma sacada de grande altura, reclamando a atenção popular. Era um velho de aspecto imponente, anunciando que, dentro de dez minutos, far-se-ia ouvir um apelo do Governador.
…..- É o Ministro Esperidião informou Tobias, atendendo-me a curiosidade.
Serenado o barulho, daí a momentos ouviu-se a voz do próprio Governador, através de numerosos alto-falantes:
…..- “Irmãos de “Nosso Lar”, não vos entregueis a distúrbios do pensamento ou da palavra. A aflição não constrói, a ansiedade não edifica. Saibamos ser dignos do clarim do Senhor, atendendo-Lhe a Vontade Divina no trabalho silencioso, em nossos postos.”
…..Aquela voz clara e veemente, de quem falava com autoridade e amor, operou singular efeito na multidão. No curto espaço de uma hora, toda a colônia regressava à serenidade habitual.

guerra no iraque

A guerra segundo o espiritismo

Uma vez mais a humanidade se vê sob a tensão de um novo conflito mundial. Ameaças proliferam a toda hora. O fio da racionalidade se estica a cada dia e pode se romper a qualquer momento. A tensão aumenta, fazendo com que muitos, à essa altura, cheguem a duvidar de uma solução obtida por meios diplomáticos. Um novo conflito de proporções e consequências imprevisíveis se desenha no cenário sombrio do Planeta, atemorizando a todos.
E o Espiritismo, o que pode nos dizer a respeito? Como Doutrina filosófica, de bases científicas e conseqüências morais, o Espiritismo se relaciona com tudo o que diz respeito ao nosso processo existencial, pois objetiva contribuir para o progresso da humanidade, tornando-a melhor.
Allan Kardec tratou do tema na parte terceira do Livro dos Espíritos, que reservou para o ensinamento dos Espíritos a respeito das Leis Morais. No capítulo referente à Lei de Destruição, a guerra foi arrolada pelos Espíritos como um de seus agentes. Indagados sobre a sua causa, os orientadores espirituais afirmaram que é consequência da predominância da natureza animal do homem sobre a espiritual e do transbordamento de suas paixões. Esclarecem, ainda, que Deus permite que assim aconteça para propiciar ao homem a oportunidade de uma evolução mais rápida, no sentido de atingir a liberdade e o progresso.
Temos aí, portanto, pelo ensinamento da Espiritualidade, um diagnóstico das causas desse mal. Ensinam, também, os benfeitores espirituais que, no estado de barbaria, os povos somente conhecem o direito dos mais fortes, daí vivenciarem um estado de guerra permanente, que vai se modificando à medida que o homem progride. Fica-nos, então, um questionamento: da época da revelação dos Espíritos até os dias de hoje, decorridos quase cento e cinquenta anos, não terá a humanidade progredido o suficiente para evitá-la?
A explicação vamos encontrar mais adiante, no capítulo que estuda a Lei do Progresso. Lá encontramos que o progresso possui duas vertentes: a moral e a intelectual. Vemos mais: que o progresso moral decorre do intelectual, que faz o homem compreender a diferença entre o bem e o mal. Enquanto não desenvolve o senso moral, o progresso intelectual é utilizado para a prática do mal, servindo-lhe de instrumento.
Não há como deixar de reconhecer o quanto a humanidade progrediu em termos científicos e tecnológicos, trazendo condições de vida mais seguras e confortáveis a muitos. Todavia, o progresso moral, como disseram os Espíritos, é sempre mais demorado e não consegue acompanhar o avanço da inteligência.

pedra de origem

Se compararmos com a situação vivenciada há alguns milênios, é claro que a humanidade progrediu também moralmente. Naquelas priscas eras, uma verdadeira selva reinava na face do planeta. O estado de barbaria então vigente é testemunhado em várias obras psicografadas pelos que o viveram, dentre quais podemos destacar as que compõem a chamada “série histórica” de Emmanuel. Naquela época, o direito à vida não era minimamente respeitado e matava-se por tudo e por qualquer coisa.
Hoje a sociedade se humanizou um pouco mais, embora em diferentes graus, que variam conforme a evolução já alcançada pelos diversos povos que a compõem. Mas ainda nos encontramos moralmente atrasados em comparação com a evolução intelectual alcançada.
Assim, a predominância do mal, que caracteriza um mundo de provas e de expiações, impele os mais desenvolvidos intelectualmente e, em consequência mais fortes, a buscarem, cada vez mais, ampliar seus poderes em detrimento dos mais fracos.
As consequências de uma guerra somente são avaliadas em termos materiais. Estima-se o seu custo econômico e quantas vidas físicas serão ceifadas. Mas as consequências espirituais sequer são mencionadas, permanecendo ignoradas pela imensa maioria. O Espiritismo esclarece o quanto os danos materiais, que são passageiros, são ínfimos, se comparados ao custo espiritual que o indesejado acontecimento acarreta. Os seus responsáveis terão de suportar, no mundo espiritual e em encarnações futuras, os efeitos da lei de ação e reação que rege o Universo. Na questão 745 do Livro dos Espíritos, respondendo a Kardec sobre a responsabilidade daquele que suscita a guerra para proveito seu, os Espíritos ensinam que “grande culpado é esse e muitas existências lhe serão necessárias para expiar todos os assassínios de que haja sido causa, porquanto responderá por todos os homens cuja morte tenha causado para satisfazer à sua ambição”.
No livro “Nosso Lar”, André Luiz relata a repercussão, na Colônia do mesmo nome, dos momentos que antecederam a eclosão da segunda guerra mundial. Toda a Colônia se mobilizou em preparativos para receber os espíritos que deixariam a carne em consequência do conflito, que, certamente, seriam em grande número, como de fato aconteceu.
Do plano espiritual nos vem também a notícia de que muitos dos protagonistas daquele episódio, responsáveis por tantos sofrimentos, expiam suas faltas em regiões da África de absoluta miséria, onde têm de suportar uma existência penosa, sem nenhum tipo de facilidade, como forma de se reequilibrarem perante a Lei.
Portanto, segundo o Espiritismo, a guerra, longe de ser uma situação irreversível, é resultado de um estado passageiro da humanidade. À medida que o homem progride moralmente, ainda que de maneira lenta, pois a Natureza não dá saltos, as guerras tendem a se tornar menos frequentes, porque ele passa a evitar as suas causas. Dia virá, certamente, em que ela estará totalmente banida do nosso meio, pois a humanidade se elevará e aprenderá a conviver com seus semelhantes, respeitando a Lei de Igualdade.
O ensinamento do Cristo, revivido e esclarecido pelo Espiritismo, é a bússola que nos levará a esse porto seguro. Quando todos conhecerem a imortalidade do espírito, a realidade da vida futura, o processo da reencarnação e a justiça da lei de causa e efeito, o homem não mais provocará a guerra. Se os governantes já estivessem de posse do conhecimento dessas verdades, por certo agiriam de maneira diferente, pois temeriam as consequências de seus atos. Enquanto isso não acontece, continuemos fazendo a nossa parte, orando e trabalhando pela paz, rogando todos os dias à Espiritualidade Superior para que ilumine e apascente os homens, fazendo-os moderar suas ambições.
Por Sérgio dos Santos Rodrigues / Equipe CVDEE

GUERRAS, POR QUÊ ?

No dia 12 de junho de 2014 três jovens israelenses foram sequestrados nas proximidades das colônias de Gush Etzion, localizadas entre as cidades palestinas de Belém e Hebron. Dezoito dias depois, os corpos foram encontrados com marcas de tiros, e com a suspeita de que os disparos teriam sido realizados ainda no dia em que os adolescentes desapareceram. Este recente episódio serviu de pavio para que se escrevesse mais uma página da secular guerra existente entre judeus e árabes, ou ainda, entre israelenses e palestinos.
Voltando dois mil anos atrás, a história nos mostra o Império Romano forçando um êxodo de judeus da então Terra de Israel, a qual os romanos passaram a chamar de palestina. Esta saída imposta foi denominada pelos historiadores como diáspora. No século VII, os árabes invadem a palestina e passam a ser a maioria na região. Doze séculos depois, os judeus emigram da Europa retornando para os territórios palestinos, formando diversas comunidades judaicas. Devido à denominação anterior “Terra de Israel”, os mesmos passam a se denominar israelenses. Desta forma, começam as tensões entre os dois povos e os conflitos, iniciados no século XIX, percorrendo todo o século XX e adentrando o século XXI sem nenhuma solução pacífica definitiva até então.
Um dos pontos cruciais do atual conflito ocorreu no dia 24 de julho de 2014, quando uma escola da ONU, localizada em Beit Hanoun, no norte da Faixa de Gaza, foi atingida por armamentos do exército israelense, matando 15 refugiados e ferindo muitos outros. As cenas que percorreram o mundo nas diversas mídias foram chocantes, contando com crianças enfermas sendo retiradas de ambulâncias em situação crítica.
O confronto ainda continua, com a intensificação das ações de Israel sobre a faixa de Gaza no dia 29 de julho. Segundo dados das agências de notícias, mais de mil pessoas morreram nos confrontos até agora.
Embora as câmeras voltem-se neste mês para os conflitos israelenses, dezenas de conflitos armados ocorrem ao redor do globo. Como por exemplo, na África temos a Guerra Civil da Somália, com um saldo de quase mil mortos só em 2014. Na América do Norte, o México luta na Guerra contra o narcotráfico. Na Ásia, ainda não se acalmaram totalmente as tensões entre as Coréias do Sul e do Norte. Enfim, não temos uma Guerra envolvendo todo o mundo, todavia, ainda temos um mundo envolvido em Guerras.
Mas, por que as guerras ainda persistem no século XXI onde a sociedade moderna já se encontra mais intelectualizada e tecnologicamente bem mais desenvolvida? Talvez não fosse o momento de extinguirmos de nosso planeta uma das chagas mais dolorosas da humanidade: a guerra?
Nesta abordagem não vamos considerar as questões político-sociais que envolvem os conflitos. Muito menos iremos analisar justificativas elaboradas por estrategistas renomados na história, tais como Sun Tzu ou Carl von Clausewitz. Apenas vamos nos ater à visão da Doutrina Espírita no que tange à guerra.
As guerras ainda ocorrem em nosso planeta devido às condições em que nos encontramos em nossa linha de evolução. Como espíritos encarnados em um mundo de expiações e provas, a prevalência da “natureza animal e o transbordamento das paixões” ainda impele o homem de lutar contra o mais fraco a fim de impor a sua força em seu próprio benefício.
A Providência Divina permite que tais conflitos ocorram porque eles contribuem para a liberdade e o progresso dos povos. Mesmo em situações em que uma nação é subjulgada, a guerra, na falta de um termo melhor, assume um caráter benéfico para o povo que por meio da expiação possa progredir mais depressa. Por outro lado, aquele que suscita a guerra acumula incontáveis débitos os quais levarão diversas existências para serem dirimidos, em face dos homicídios com os quais contribuiu.
Tais questões são abordadas por Allan Kardec nas perguntas de número 742 a 745 do capítulo que aborda a Lei de Destruição no Livro dos Espíritos.
Nações que se envolvem com estes conflitos acumulam débitos coletivos terríveis, conforme nos mostra o Espírito de André Luiz, na obra Nosso Lar, pela psicografia de Francisco Cândido Xavier. “Os países agressores convertem-se, naturalmente, em núcleos poderosos de centralização das forças do mal”. Com isso, os espíritos ali encarnados estabelecem um hífem de conexão com as camadas mais sombrias, envolvendo a todos em uma psicosfera de “perversidade e de horror”. Somente os espíritos mais elevados, encarnados nessas nações dominadoras para exercerem tarefas nobres, conseguem não se envolver na embriaguez da guerra.
No livro “A Caminho da Luz” Emmanuel nos cita o exemplo da cidade de Esparta, no auge da Grécia antiga. Seu povo ficou conhecido na história por serem soldados que espalhavam na antiguidade a destruição e os flagelos da guerra. Para a humanidade, nenhuma contribuição construtiva eles deixaram. Para eles mesmos, indubitavelmente acumularam uma grande soma de débitos para serem expiados em várias encarnações.
Vejamos agora o caso individual de um soldado que é compelido à guerra para defender seu país. Conforme respondem os espíritos em diversas passagens do Livro dos Espíritos, “a intenção é tudo, que o fato nada vale”. Logo, um homicídio não deixa de ser um “grande crime”, no entanto, muito mais será cobrado daquele que o fizer em uma situação de conflito com dolo do que aquele que o fizer em legítima defesa. Cada caso é um caso, mas o que sempre será observado será a intenção (perguntas de nº 746 a 748).
Por fim, ainda de acordo com o Livro dos Espíritos, a marcha do progresso é constituída pelo Progresso Intelectual e o Progresso Moral. Geralmente o Progresso Intelectual caminha à frente do Moral, permitindo ao homem entender o bem e o mal e fazer as suas escolhas (pergunta nº 780). Com este livre-arbítrio, o homem aumenta a responsabilidade de seus atos e passa a avançar ou não em seu Progresso Moral.
É notório que já não estamos mais no alvorecer de nossas encarnações. Em Obras Póstumas, no item “Aristocracias”, Allan Kardec nos mostra que a primeira aristocracia era a aristocracia patriarcal, aonde na Terra ainda Primitiva, os chefes das tribos selvagens conduziam as suas famílias. Mais tarde, divergências entre as povoações vizinhas deram lugar ao emprego da força bruta, às primeiras guerras. Isto foi a segunda aristocracia. Com os bens e a autoridade adquiridos em combates, o poder passou a ser passado de pai para filho, consolidando a autoridade do nascimento.
Neste ponto já estamos na Terra de Expiações e Provas, e com o surgimento de classes superiores e inferiores, o trabalho da segunda na busca de melhores condições de vida dá lugar à uma nova potência: o dinheiro. Para gerenciá-lo surge a nova aristocracia baseada na inteligência.
Chegamos ao final da idade média e no alvorecer do mundo moderno/contemporâneo intelectualizado. Mas como vimos anteriormente, o Progresso Intelectual não implica em Progresso Moral. Logo, ainda resta ao homem desenvolver-se pelos caminhos da justiça e da caridade. Este desenvolvimento abrirá as portas para a última aristocracia que será a Aristocracia Intelecto-Moral. Com ela teremos efetivamente o advento de uma nova era sem guerras e nem destruição.
Assim, guerras, por quê? Pela nossa condição de seres humanos que ainda carregam no âmago o orgulho e o egoísmo (pergunta nº 785) e se tornam um obstáculo ao nosso Progresso Moral. Além disso, por meio delas somos impelidos a progredirmos (pergunta nº 744). A partir do momento que nos livrarmos destas chagas, estaremos prontos para nos dar as nossas mãos ao próximo.
Unidos pela paz, poderemos chegar a um Mundo de Regeneração.
Márcio Martins da Silva Costa

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