A DIFERENÇA – Bezerra de Menezes

bezerra

A diferença

 

A reunião alcançava a parte final, e, na organização mediúnica Bezerra de Menezes retinha a palavra.
O Benfeitor distribuía consolações, quando um companheiro o alvejou com azedume:
– Bezerra não concordo com tanta máscara no ambiente espírita.
– Estou cansado de ser hipócrita. Falo contra mim mesmo. Posso, acaso, dizer que sou espírita-cristão?
– Vejo-me fustigado por egoísmo e intolerância, avareza e ciúme; cometo desatenções e disparates; reconheço-me frequentemente caído em maledicência e cobiça; ainda não venci a desconfiança, nem a propensão para ressentir-me;
quando menos espero, chafurdo-me nos erros da vaidade e do orgulho; involuntariamente, articulo ofensas contra o próximo; a ambição mora comigo e, por isso, agrido os meus semelhantes com toda a força de minha brutalidade; a crítica, o despeito, a maldade e a imperfeição me seguem constantemente.
– Posso declarar-me espírita-cristão com tantos defeitos?
O venerável Bezerra de Menezes respondeu sereno:
– Eu também, meu amigo, ainda estou em meio de todas essas mazelas e sou espírita-cristão…
– Como assim? – revidou o consulente agitado.
– Perfeitamente – concluiu Bezerra de Menezes, sem alterar-se.
– Todas essas qualidades negativas ainda me acompanham…
– Só existe, porém, um ponto, meu caro, que não posso esquecer. É que, antes de ser espírita-cristão, eu fazia força para correr atrás de todas elas e agora, que sou cristão e espírita, faço força para fugir delas todas…
E, Bezerra de Menezes sorrindo:
– Como vê meu amigo, há muita diferença.
Pelo Espírito Irmão X. Psicografia de Francisco Cândido Xavier.
Livro “Momentos de Ouro”. Lição nº 12. Página 67.

FORÇA PACÍFICA

Extinção do Mal

Na didática de Deus, o mal não é recebido com a ênfase que caracteriza muita gente na Terra, quando se propõe a combatê-lo.
Por isso, a condenação não entra em linha de conta nas manifestações da Misericórdia Divina.
Nada de anátemas, gritos, baldões ou pragas.
A Lei de Deus determina, em qualquer parte, seja o mal destruído não pela violência, mas pela força pacífica e edificante do bem.
A propósito, meditemos.
O Senhor corrige:
a ignorância: com a instrução;
o ódio: com o amor;
a necessidade: com o socorro;
o desequilíbrio: com o reajuste;
a ferida: com o bálsamo;
a dor: com o sedativo;
a doença: com o remédio;
a sombra: com a luz;
a fome: com o alimento;
o fogo: com a água;
a ofensa: com o perdão;
o desânimo: com a esperança;
a maldição: com a benção.
Somente nós, as criaturas humanas, por vezes, acreditamos que um golpe seja capaz de sanar outro golpe.
Simples ilusão.
O mal não suprime o mal.
Em razão disso, Jesus nos recomenda amar os inimigos e nos adverte de que a única energia suscetível de remover o mal e extingui-lo é e será sempre a força suprema do bem.
Pelo Espírito Bezerra de Menezes
XAVIER, Francisco Cândido; BACCELLI, Carlos A.. Brilhe Vossa Luz. Espíritos Diversos. IDE.
FIM
PRESENÇA BEZERRA DE MENEZES

 


“NESTA VERDADEIRA ESCOLA, UM DIA, VOCÊ
SERA UM DOS NOSSOS…”

Quando, pela primeira vez, ouvimos o nome de Bezerra de Menezes
Ano de 1921.

Entre-Rios (hoje Três-Rios), então, próspero Distrito de Paraíba do Sul, atravessava sua fase crucial no campo da Instrução.

Milhares de crianças, entre 8 e 12 anos, viviam analfabetas, por falta de um Grupo Escolar.

Com uma população de mais de dez mil habitantes, Entre-Rios possuía apenas duas Escolas públicas, que atendiam, com imensa dificuldades, a algumas centenas de alunos.

O Governo Fluminense, no afã de solucionar o grave problema, ainda que em caráter de emergência, determinou ao seu Secretário a Instrução que comprasse para o primeiro distrito paraibano do sul um imóvel que, com algumas modificações, servisse de Grupo Escolar.

Em virtude de dirigirmos o semanário Entre-Rios, fomos incumbido de procurar o imóvel entressonhado.

Manoel Pessoa de Campos, um bom rico, coração generoso, por ser Espírita Convicto, concluíra um grande e belo prédio à esquina da rua Barão de Rio Branco com a rua Barão de Piabanha, hoje Prefeito Walter Francklin. Possuía esse prédio duas grandes salas, outras menores e demais dependências com todas as instalações higiênicas. Destinava-o a sede própria do Grupo Espírita Fé e Esperança.

Era apropriadíssimo para um Grupo Escolar, não precisando mesmo de nenhuma adaptação.

Satisfeito com o achado, imediatamente, fomos procurar o bondoso Campos.

O Governo Fluminense ofertava-lhe cento e cinquenta mil cruzeiros pelo prédio, que, segundo soubemos, ficara em oitenta.

O Campos não deixaria de aceitar tão bela oferta, pensávamos, alegremente, pelo caminho, indo ao seu encontro.

Recebeu-nos entre surpreso e alegre.

Falamos-lhe do nosso intento. Abrimos aos seus olhos e ao seu coração o panorama tristonho em que viviam infinidades de crianças sem instrução por falta de um Grupo Escolar e o colocamos a par do interesse do Governo Fluminense em desejar comprar o lindo prédio que acabara de construir, tão
apropositado para o nosso desiderando.
Oferecia-lhe quase o dobro do que gastara.

Ouviu-nos atenciosa e comovidamente. Quando terminamos nossas considerações, com a convicção de que seríamos atendido, ele, com os olhos lacrimosos, com velada palidez no rosto, pousou-nos a mão no ombro e disse-nos:

— Ramiro, sinto sinceramente não poder lhe atender e ao Governo Fluminense. É justíssimo o seu anseio e eu sofro com o que me disse. Mas, eu prometi a mim mesmo destinar o prédio, que você visitou, à sede própria do Grupo Espírita Fé e Esperança, que vai reunir em seu seio todos os espiritistas entrerrienses. Será inaugurado em três de maio do ano vindouro e sua Diretoria já foi escolhida e terá como Presidente o nosso caro José Vaz, que você conhece e estima.
Um Grupo Espírita bem organizado, qual o que vamos inaugurar, acredite, é também uma Escola, a verdadeira Escola, pois que vai ensinar aos seus alunos, os adeptos do Espiritismo, a Ciência do Amor, a Filosofia do Bem, a Religião da Caridade.

E, surpreendendo-nos mais ainda com o seu gesto, que não esperávamos, terminou, vaticinando:
— Nesta verdadeira Escola, creia, um dia, você será um dos nossos. Alguém da Espiritualidade, talvez o Espírito do Dr. Bezerra de Menezes, um de nossos Protetores, está intuindo-me isto… 

Saímos.

Nossa alma estava perplexa, aturdida, não encontrando nenhuma justificativa para o ato do Campos, a nosso ver (naquele tempo) antipatriótico; gesto de um ingrato, de um antiprogressista…

E. pelo nosso jornal, no dia seguinte, exprobramos a ação antipatriótica, injustificável mesmo, do Campos. E o fizemos com ardor, com a mente obnubilada pela paixão à Causa do Ensino.

Lembramo-nos de que até o chamamos, dentre outras coisas injuriosas, de Vaso Chinês, aludindo ao seu enorme físico de obeso…

Nosso artigo ecoou como uma bomba no meio dos entrerrienses. Uns, mais corajosos, nos aplaudiam. Outros, mais sensatos, se aquietavam, respeitando o ponto de vista do Campos, tolhidos ainda pelos seus exemplos insignificantes de bondade e humildade que ele dava ao povo entrerriense.

Um jornalista, simpático ao Espiritismo, procurou-o e se ofereceu para o defender. Excusou-se delicadamente, afirmando:

— Deixe o Ramiro em paz. Sua crítica ao meu espírito sem luz e até ao meu físico disforme me exercita a paciência, ensinando-me a amar e perdoar aos que me ofendem, porque sei que, noutras vidas, fiz mais do que isto, pior do que ele me tez. E um dia, ele me compreenderá…

Soubemos de seu gesto digno de um verdadeiro cristão e ficamos, já aí, doutrinado. Seu gesto era novo para nosso espírito cheio de ilusões, irreligioso, sem nenhum Roteiro certo para Deus e abrandou-nos e nos enterneceu, trazendo-nos sinceros remorsos…

E, mais tarde, inesperadamente, nos encontramos.

Abraçou-nos como se nada houvesse acontecido.

E tivemos, então, a felicidade de lhe sentir, de perto, a grandeza do coração
e a nobreza do Espírito.

Falou-nos entre amoroso e sensível:

— Não me queira mal. Um dia, você me compreenderá porque não venais meu prédio ao Governo Fluminense, que já arranjou o imóvel de que necessitava, não havendo, pois, prejuízo para ninguém. E verificará, afinal, que um Grupo Espírita bem organizado, qual é o nosso como lhe disse, é uma verdadeira Escola. É, despedindo-se e santificando-nos:

‘ — E não se esqueça de que, um dia, que não está longe, você será um dos nossos…

Abraçamo-lo e o deixamos emocionado.

Seu convívio cristão, ainda que por momentos, nos fizera um bem imenso.

Sentíamos que algo acontecia conosco…

E, aos nossos ouvidos, quando caminhávamos, sozinho, pela rua 15, a caminho do lar, ecoava seu prognóstico, tão absurdo para nós que não tínhamos, nesta época, nenhuma simpatia pelo tal de Espiritismo…

Mas uma semente da luz, de seu bom exemplo, nos caíra às leiras do espírito, com vistas ao Futuro.
Livro: lindos casos de Dr. Bezerra de Menezes
Autor: Ramiro da Gama.

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