Ninguém Contemplará o Céu se Acolhe o Inferno no Coração

Ninguém Contemplará o Céu se Acolhe o Inferno no Coração – Emmanuel

 NINGUÉM É IRRECUPERÁVEL

“Ninguém contemplará o céu se acolhe o inferno no coração.”
Emmanuel (“Pão Nosso” cap. 156).
Os jornais estão repletos de notícias sobre eles. Todos os dias, são os assassinos e ladrões que promovem o crescimento das vendagens de jornais e revistas, bem como o aumento do Ibope, no caso das emissoras de televisão.
De um lado, a vítima e seus sofrimentos. Morte, violência, perseguição e ódio são algumas das emoções que machucam a alma de quem sofre o impacto da crueldade humana. De outro, o criminoso, o bandido, fugitivo da lei dos homens, disposto a tudo para continuar solto, cometendo atrocidades.
No mesmo contexto desta relação, estão a sociedade, quase sempre exigindo a tão usada frase que se faça justiça, e os grupos de direitos humanos, atentos às agressões de que podem ser vítimas os que causaram tanta dor.
É isto o que ocorre em quase todos os cantos do mundo, onde exista um crime, um criminoso e o desejo de que o ato ilegal seja punido.
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Em 1972, um grupo de pessoas, entre advogados, estudantes de Direito e cidadãos comuns, reuniu-se para analisar tão grave situação. As reuniões aconteceram em São José dos Campos (SP). Das discussões, surgiu a proposta de criação de uma entidade, que teria o objetivo de desenvolver, nos presídios, uma atividade relacionada com a recuperação do preso.

Ninguém Contemplará o Céu se Acolhe o Inferno no Coração

Além de procurar suprir as deficiências do Estado nessa área, a entidade atuaria na qualidade de órgão auxiliar da Justiça e da Segurança na execução da pena.
A APAC – Associação de Proteção e Assistência aos Condenados – teve, desde o início, a tarefa básica de assistir o preso sob o ponto de vista de sua família, da educação, saúde, bem-estar, profissionalização, pesquisas psicossociais, recreação e assistência espiritual.
Quase 27 anos depois, a instituição conseguiu, a despeito das críticas de muitos estudiosos do sistema penal brasileiro, o reconhecimento de boa parcela da comunidade internacional, sobretudo a Prision Fellowship International, órgão consultivo da ONU para assuntos penitenciários. Membros desta entidade já visitaram a cidade paulista diversas vezes, para conhecer de perto a proposta de trabalho desenvolvida na APAC.
Os integrantes partem do princípio de que a pena imposta ao criminoso tem uma finalidade pedagógica, e não apenas punitiva, de castigo. Por isso, dedicam-se a preparar o preso para voltar ao convívio social. Eles acreditam que, ao agir desta forma, estão protegendo a sociedade, ou devolvendo ao seu convívio apenas homens em condições de respeitá-la.
O reconhecimento ao serviço desenvolvido pelos membros fez com que a Justiça aceitasse a APAC como fiscalizadora do cumprimento das penas e em condições de opinar sobre a conveniência da concessão de benefícios e favores penitenciários. É por isso que a instituição se considera protetora dos condenados, no que diz respeito aos direitos humanos.
Em regras gerais, a filosofia de trabalho da organização segue os seguintes princípios: “matar” o criminoso e salvar o homem; investir no resgate da autoimagem e na valorização das qualidades intrínsecas do ser humano; ouvir o recuperando e contar com suas sugestões; através da regra o preso ajudando o preso, desenvolver em cada recuperando o sentimento de solidariedade e ensiná-lo a viver comunitariamente.
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Para nós, acostumados ao estudo dos princípios de ordem e justiça analisados à luz do Espiritismo, esses aspectos aparecem como uma luz no meio do túnel, já que estão em vigor há quase três décadas.
Atuar junto ao sistema penitenciário, com pessoas excluídas temporariamente da liberdade, pode se tornar uma atividade muito difícil, partindo-se da premissa de que um dos maiores entraves que o preso enfrenta para sua recuperação é justamente a falta de credibilidade do sistema como instrumento legal de resgate da cidadania.
Preconceitos e receios generalizados quanto às reais condições de recuperação do presidiário são os maiores bloqueios que ele tem de enfrentar, em seu duro caminho de volta à liberdade. Além disso, o fator adverso das cadeias abarrotadas e malcheirosas, em celas-cubículos onde permanecer por mais de 5 minutos é humanamente impossível, acaba propiciando a exacerbação das qualidades inferiores dos que ali se encontram, fazendo com que as regras da cela se imponham, quase sempre sob o olhar indiferente da Justiça, impotente para alterar a situação percebida.
Atualmente, o quadro que se pinta do “fora-da-lei” é tão severo que a sociedade acaba optando pelo apoio, ainda que de forma velada, à eliminação sumária do delinquente – seja em chacinas ou guerras de quadrilhas dentro dos próprios presídios, seja através de linchamentos ou execração da moral do indivíduo, antes mesmo que ele seja condenado pela Justiça.
O processo de trabalho desenvolvido pela APAC é uma tentativa de se fazer cumprir o que, na essência, deveria estar acontecendo em todas as penitenciárias do mundo, ou seja, a recuperação integral do prisioneiro.
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No início, os apaqueanos se depararam com uma questão: por que são encontradas tantas dificuldades para alterar o comportamento dos condenados? A resposta foi obtida em uma pesquisa, feita com os próprios detentos:
Þ 97% afirmaram ter vivido desde a infância em famílias desestruturadas;
Þ 65% dos crimes são praticados sob o efeito de drogas;
Þ 80% da população carcerária usam drogas;
Þ 60% desta mesma população têm entre 18 e 28 anos de idade;
Þ 20% completaram 28 anos de idade cumprindo pena;
Þ 75% são condenados analfabetos ou semi-alfabetizados;
Þ 87% não têm profissão definida.
Vê-se, por esse quadro, os problemas de ordem político-social atuando na base da problemática do crime. Juventude comprometida com as drogas, em função da falta de escola na infância e espaço livre para a ociosidade na adolescência; analfabetismo decorrente da falta de educação; desemprego advindo do analfabetismo e da ausência de formação básica e profissional adequadas; e por fim, o fato mais grave, a família desestruturada, atuando na base da formação negativa de um criminoso.
Ao comentarmos o trabalho desenvolvido pela APAC, queremos destacar o fato de que esta experiência já foi adotada em 120 cidades brasileiras e mais de quinze países, como Equador, Estados Unidos, Argentina, Coréia do Sul e Rússia (esta ainda em fase de estudos e implantação).
Quanto ao ponto de vista espírita, um proposta de reeducação de pessoas criminosas não pode deixar de considerar o reencontro do ser faltoso com sua consciência de espírito imortal, inserida nas normas de equilíbrio universal, advindas da Lei de Causa e Efeito.
O homem com perspectiva de passar 3, 7 ou 30 anos na cadeia precisa ter abertas as portas da conscientização da realidade espiritual, seja através de um trabalho manual, uma palestra ou uma dinâmica de grupo, como os integrantes da APAC fazem (é importante lembrar que o trabalho não tem nenhum credo estabelecido, muito embora seu estatuto defina como uma das atividades básicas a realização de jornadas de estudos evangélicos).
É desta forma que ele poderá compreender que ninguém volta à vida, pela reencarnação, para cumprir um programa evolutivo encarcerado em uma cela. Se isto acontece, é por contingência de erros graves, contraídos na atual existência e punidos pela lei humana, que precisa restringir a liberdade de quem se transforma em um perigo para a convivência coletiva.
Só desta forma ele entenderá sua condição de criatura social, com deveres de respeito e gratidão a cumprir para com os outros, e confirmar a norma de que só se deve fazer ao semelhante aquilo que ele gostaria que lhe fosse feito. É com base nisto que Emmanuel afirma que ninguém contemplará o céu se acolhe o inferno no coração.
Diante desta perspectiva, essencialmente libertadora, torna-se possível compreender por que ninguém é irrecuperável *. O estudo sério e organizado do Espiritismo dentro das cadeias, como alguns grupos espíritas fazem pelo País, é uma excelente forma de trabalhar esse conhecimento por parte dos detentos, e uma nobre lição de fraternidade, por parte do trabalhador. .

* Ninguém é irrecuperável é o título do livro do pesquisador Mário Ottoboni, um dos membros do grupo fundador da APAC. A obra, publicada em 1997, é um relato da história da instituição e dos princípios que norteiam suas atividades. Obra da Editora Cidade Nova, de São Paulo.

CARLOS AUGUSTO ABRANCHES
Reformador Jan1999.
ERROS ALHEIOS EMMANUEL

Em torno da virtude

1 Se uma criatura possui enorme fortuna, podendo desmandar-se na prodigalidade ou na avareza, e busca empregá-la no bem-estar e no progresso, na educação e no aprimoramento dos semelhante.
2 Se dispõe de autoridade com recursos para manejar a própria influência em seu exclusivo proveito, e procura aplicá-la no auxílio aos outro
3 Se sofre acusação indébita com elementos para justiçar-se do modo que considere mais justo, e prefere esquecer a ofensa recebida, reconhecendo-se igualmente passível de errar…
4 Se já efetuou em favor de alguém todos os serviços ao seu alcance, recolhendo invariavelmente a incompreensão por resposta, e prossegue amparando esse alguém, através dos meios que se lhe fazem possíveis, sem exigência e sem queixa…
5 Essa pessoa ter-se-á colocado, evidentemente, a cavaleiro das piores tentações que lhe assediavam a vida.
6 Todos nós — os Espíritos em evolução e resgate nas trilhas do Universo — recapitulamos as experiências em que tenhamos falido.
7 À vista disso, todas as provações na escola terrestre assumem a feição de ensinamentos e testes indispensáveis.
8 Há quem renasça mostrando extrema beleza física, a fim de superar inclinações ao desregramento;
9 carregando um cérebro privilegiado para vencer a vaidade da inteligência;
10 detendo valiosa titulação acadêmica de modo a subjugar a propensão para o abuso;
11 ou exercendo encargos difíceis nas causas nobres, de maneira a extinguir os impulsos de deserção ou deslealdade.
12 Cada qual de nós, no internato da reencarnação, é examinado nas tendências inferiores que trazemos das existências passadas, a fim de aprendermos que somente nos será possível conquistar o bem vencendo o mal que nos procure, tantas vezes quantas necessárias, mesmo além do débito pago ou da sombra extinta.
13 Fácil, pois, observar que, sem a presença da tentação, a virtude não aparece, 14 e assim será sempre para que a inocência não seja uma flor estéril e para que as grandes teorias de elevação não se façam sementes frustras no campo da Humanidade.

Alma e coração — Emmanuel

PERMITO SER CHICO XAVIER

Conforto

“Se alguém me serve, siga-me.” – Jesus. (JOÃO, capítulo 12, versículo 26.)
Frequentemente, as organizações religiosas e mormente as espiritistas, na atualidade, estão repletas de pessoas ansiosas por um conforto.
De fato, a elevada Doutrina dos Espíritos é a divina expressão do Consolador Prometido. Em suas atividades resplendem caminhos novos para o pensamento humano, cheios de profundas consolações para os dias mais duros.
No entanto, é imprescindível ponderar que não será justo querer alguém confortar-se, sem se dar ao trabalho necessário…
Muitos pedem amparo aos mensageiros do plano invisível; mas como recebê-lo, se chegaram ao cúmulo de abandonar-se ao sabor da ventania impetuosa que sopra, de rijo, nos resvaladouros dos caminhos?
Conforto espiritual não é como o pão do mundo, que passa, mecanicamente, de mão em mão, para saciar a fome do corpo, mas, sim, como o Sol, que é o mesmo para todos, penetrando, porém, somente nos lugares onde não se haja feito um reduto fechado para as sombras.
Os discípulos de Jesus podem referir-se às suas necessidades de conforto. Isso é natural. Todavia, antes disso, necessitam saber se estão servindo ao Mestre e seguindo-o. O Cristo nunca faltou às suas promessas. Seu reino divino se ergue sobre consolações imortais; mas, para atingi-lo, faz- se necessário seguir-lhe os passos e ninguém ignora qual foi o caminho de Jesus, nas pedras deste mundo.
XAVIER, Francisco Cândido. Caminho, Verdade e Vida. Pelo Espírito Emmanuel. 28.ed. Brasília: FEB, 2009. Capítulo 11.

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