A Árvore que dá Frutos

árvore que dá frutos vera jacubowski
A Árvore que dá Frutos

A Árvore que dá Frutos

“A árvore que dá frutos é
a mesma que produz com amor.”

 

Vera Jacubowski

A árvore e o fruto

 

“(…) cada árvore se conhece pelo seu próprio fruto;
pois não se colhem figos dos espinheiros,
nem se vindimam uvas dos abrolhos.”
– Jesus[1]

pomba

OPORTUNA METÁFORA

 

Jesus apresenta-nos uma oportuna metáfora que permite fazer uma avaliação de várias propostas dos campos do conhecimento humano, tanto quanto das gentes que as apresentam. Podemos avaliar o valor de uma filosofia ou de uma orientação religiosa qualquer pelo que a mesma dissemina nos caminhos dos seus profitentes.
Assim, o preclaro Codificador Allan Kardec, na esteira do ensinamento do Grande Mestre Jesus, apresenta-nos no Código da Vida – O Evangelho segundo o Espiritismo – uma revisão dessa máxima lembrando que o cristão é reconhecido pelas suas obras, assim como o fruto denuncia a natureza da árvore que o produz ressaltando, ainda, que o “primeiro cuidado de todo espírita sincero deve ser o de procurar saber se, nos conselhos que os Espíritos dão, alguma coisa não há que lhe diga respeito”.[2]

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UM ALERTA DE KARDEC

 

A Revista Espírita se configura num estudo que revela o processo de construção da Ciência Espírita e, ao mesmo tempo, num repositório da Filosofia Espírita cuja fonte são as comunicações dos Espíritos Superiores.
Num de seus esclarecedores textos, Kardec apresenta um alerta a respeito do que ele convencionou chamar de “falsos irmãos e amigos inábeis”[3], aliás, expressão da qual se utiliza para nomear o artigo com que nos ocuparemos nessa reflexão.
O mestre lionês refere-se, inicialmente, às atitudes irrefletidas de certos adeptos que deixam de lado a prudência e agem com um zelo terrível pela Doutrina, gerando mais mal do que bem porque, segundo ele, “não calculam bem o alcance de seus atos e de suas palavras, produzindo, por isso mesmo, uma impressão desfavorável sobre as pessoas ainda não iniciadas na doutrina, mais própria a afastá-las do que as diatribes dos adversários”[4].
Para o Codificador, o Espiritismo estaria mais espraiado, realizando consolações e libertando consciências pelo esclarecimento de sua filosofia racional se não fossem as atitudes impensadas de alguns adeptos descuidados dos conselhos da prudência.
Aqui ressalta do texto, em análise, a preocupação do missionário da era nova quanto à postura insensata daqueles adeptos que pareciam crer na infalibilidade de suas opiniões pessoais, descartando o conselho da maioria e, do mesmo modo, a recomendação da prudência que aponta a necessidade de se pensar com maturidade antes de agir, ouvindo também a opinião de seus pares.
A crença na própria infalibilidade denotaria orgulho ou obsessão. O adepto de uma doutrina como o Espiritismo, que consiste num imenso campo de saber a descobrir e aprofundar através do estudo sério da produção kardequiana, que por sua vez imagine a si mesmo detentor exclusivo da razão, demonstra atitude incoerente para com o bom senso recomendado e “encarnado” na prática por Allan Kardec, conforme a expressão de Camille Flammarion ante seu túmulo.
Por outro lado, quando nos cremos os únicos dotados de bom senso, detentores da verdade e quase “mais espíritas que Kardec”, estamos, possivelmente, apresentando um processo obsessivo definido em O Livro dos Médiuns como o de fascinação. Recordemos que a fascinação se caracteriza, principalmente, pela influência do Espírito sobre o pensamento daquele que é objeto de sua ação pertinaz, paralisando-lhe o discernimento.
Segue o texto da Revue se referindo ainda a outras posturas dos amigos inábeis do Espiritismo. Kardec destaca a questão das publicações intempestivas ou excêntricas, o que quer dizer, aqueles escritos ditados pelos Espíritos que deveriam levar o tempo necessário de maturação da cultura ou das ciências para que viessem a lume, ou ainda, aquelas comunicações que deveriam ser, como todas e sem exceção, objeto de análise e estudo comparativo em relação ao ensino universal dos Espíritos.
De igual modo, o exame sério dos ditados oriundos do mundo invisível evitaria sobremaneira o despropósito das publicações que denigrem a imagem da Doutrina Espírita e que geram desnorteio quanto ao seu lúcido conteúdo, cuja autoridade está fundamentada no ensino coletivo dado pelos Espíritos Superiores. Isso eliminaria publicações que somente revelam sistemas particulares de Espíritos personalistas e pseudossábios.
Outro assunto considerado mais grave ainda pelo Codificador trata-se dos falsos adeptos. O artigo aponta para uma estratégia dos adversários do Espiritismo dos dois planos da vida: produzir fatos comprometedores ou fazer com que os sujeitos que aderem à Doutrina os levem a efeito, fabricando-se, pouco a pouco, intrigas ocultas supostamente capazes de desacreditar ou arruinar o Espiritismo.
Os falsos adeptos eram pessoas que o modo de vida, as suas relações e antecedentes inspiravam pouca confiança quanto às suas convicções concernentes ao ensino espírita. Apresentavam uma admiração fanática e se supunham mártires da Doutrina, nada obstante, como afirma Kardec, “não atraem simpatias: um fluido malsão parece envolvê-los e sua presença nas reuniões lança um manto de gelo”[5].
Mas o golpe de misericórdia na caracterização dos falsos adeptos do Espiritismo está na seguinte referência que, apesar de longa, nos permitimos citar para que possamos pensar em diálogo com o texto kardequiano:
“O que caracteriza principalmente esses pretensos adeptos é sua tendência em fazer o Espiritismo sair de seus caminhos de prudência e de moderação pelo seu ardente desejo do triunfo da verdade; a impelir as publicações excêntricas, a se extasiar de admiração diante das comunicações apócrifas mais ridículas, e que eles têm o cuidado de difundir; a provocar, nas reuniões, assuntos comprometedores sobre a política e a religião, sempre para o triunfo da verdade que não precisam ter sob o alqueire; seus elogios sobre os homens e as coisas são golpes de turíbulo a quebrar cinquenta faces: são os fanfarrões do Espiritismo. Outros são mais adocicados e mais insinuantes; sob seu olhar oblíquo e com palavras melosas, sopram a discórdia, pregando a desunião; lançam jeitosamente sobre o tapete questões irritantes ou ferinas, assunto de natureza a provocar dissidências; excitam um ciúme de preponderância entre os diferentes grupos, e ficam encantados em vê-los se lançarem pedra, e, em favor de algumas divergências de opinião sobre certas questões de forma e de fundo, o mais frequentemente provocadas, levantar bandeira contra bandeira”[6].
Meditemos em torno dessa rica análise que o Codificador nos apresenta a partir de suas vivências no movimento espírita nascente e logo seremos levados a admitir a atualidade de suas palavras. Pensemos nisso não como quem procura culpados aqui ou acolá. Simplesmente, revivamos na memória essas assertivas e perguntemos a nós mesmos, em nossos momentos de oportuna introspecção: o que estamos fazendo dessa Doutrina em nossos fazeres espiritistas?
As imposturas no movimento espírita revelam, conforme cada caso, vaidades, obsessões, má-fé, mas, sobretudo, ignorância quanto à Filosofia Espírita e as suas consequências morais. Portanto, é justo recordemos outro alerta de Kardec: “o Espiritismo é mais entravado pelos que o compreendem mal do que pelos que não o compreendem absolutamente, e, mesmo pelos inimigos declarados”[7].
Os pretensos adeptos não somente procuravam afastar a ação espírita da finalidade séria de seu conteúdo filosófico – que, segundo Kardec, não os interessava -, como, igualmente, organizavam reuniões, as de diálogo e estudo com os Espíritos, em lugares impróprios e atraíam estranhos para as mesmas, misturando o que deveria ser encarado com religioso respeito com aquilo que é profano e vulgar.
Outros ainda se dedicariam a publicações de ideias que na aparência professariam os princípios do Espiritismo e que, através do estudo das mesmas, seria fácil identificar o objetivo de fomentar dissensões no seio da família espírita.

CONTRAPONTO PRÁTICO

 

Allan Kardec, ao nos apresentar esse grave texto sobre os “falsos irmãos e amigos inábeis”, não deixa de se referir ao contraponto destas imposturas cujo critério de verdade está na práxis do adepto do Espiritismo. Diz-nos ele: “não nos poderíamos equivocar quanto ao caráter do verdadeiro espírita; há nele uma franqueza de atitudes que desafia toda suspeição, sobretudo quando corroborada pela prática dos princípios da doutrina”[8].
Desse modo, para que possamos investigar quanto à qualidade de nossos serviços prestados ao Espiritismo ou para que tenhamos um critério de verdade visando saber com quem estamos lidando nas hostes espiritistas – evitando-se ingenuidade que mais faz mal do que bem -, observemos com autocrítica e criticidade construtiva o que nós todos estamos apresentando em nossas atitudes dentro e fora de nossas atividades de cunho exclusivamente espírita.
Prossigamos em nossos estudos em torno da produção kardequiana, procurando compreender e viver em profundidade o pensamento espírita.

prece espírita

[1] Lucas 43:44.

 

[2]O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XVIII, item 12.

 

[3] KARDEC, Allan. Revista Espírita: jornal de estudos psicológicos: Ano sexto – 1863. 3. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2006, p. 109-118.
[4]KARDEC, Allan. Revista Espírita: jornal de estudos psicológicos: Ano sexto – 1863. 3. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2006, p. 110.
[5]KARDEC, Allan. Revista Espírita: jornal de estudos psicológicos: Ano sexto – 1863. 3. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2006, p. 112.
[6] KARDEC, Allan. Revista Espírita: jornal de estudos psicológicos: Ano sexto – 1863. 3. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2006, p. 113.
[7]KARDEC, Allan. Revista Espírita: jornal de estudos psicológicos: Ano sétimo – 1864. 3. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2006, p. 431.
[8]KARDEC, Allan. Revista Espírita: jornal de estudos psicológicos: Ano sexto – 1863. 3. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2006, p. 117.

 


Jesus e o Mundo

 

“Aquele que se identifica com a vida futura assemelha-se ao rico que perde sem emoção uma pequena soma. Aquele cujos pensamentos se concentram na vida terrestre assemelha-se ao pobre que perde tudo o que possui e se desespera.” O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO Capítulo 2º – Ítem 6.
Muitos cristãos-espíritas afervorados às questões imediatas, às quais sentem dificuldades em renunciar, procuram justificar suas atitudes fundamentando-as em bases falsas.
Informam-se vinculados ao espírito do Cristo, todavia…
Gozam, porque o prazer faz parte da vida.
Usurpam, tendo em vista ser a Terra um ninho próprio aos que se nutrem à custa dos menos hábeis.
Exploram, para evitar serem explorados.
Mentem, tendo em vista os fatores circunstanciais.
Enganam, a fim de sobreviverem.
Lutam com todas as armas, já que outros são adversários insidiosos.
Não vêem mal algum “nisto” ou “naquilo”, e definem o espírita como alguém que não tem necessidade de abandonar ou fugir do mundo…
Ajustam a expressão “racional” ao vocábulo “astúcia” e ridicularizam o verbete “místico” como se ele identificasse indignidade.
Pensam no Céu e querem a Terra a qualquer custo.
Tentam conciliação entre Deus e César ao bel-prazer, tirando o melhor proveito para o corpo e a emoção que se desvaira, longe do equilibrio da mente e da renovação do espírito.
“Viver no mundo sem ser do mundo” – eis a questão.
Aplicar o instrumento do sexo na construção da família, facultando a santificante tarefa da reencarnação às entidades da própria grei espiritual, a quem se vinculou no passado por créditos ou débitos seguros. O sexo é abençoada porta para a felicidade. No entanto, evitar viver para o sexo, considerando os abismos de crime e sombra que a ele se identificam, quando desatina.
Utilizar o dinheiro na execução dos deveres normais, consolidando a alegria na esfera das obrigações próximas e dilatando-o na prática do bem geral, em forma de agasalho, teto, alimento, remédio e segurança para outros espíritos colhidos pelas rudes provações. O dinheiro é veículo de bênçãos. Todavia, poupar-se a viver para o dinheiro, que se faz verdugo de quem a ele se ata, favorecendo imprevisíveis conseqüências.
Motivar o ideal com os estímulos da vida hodierna para que o trabalho se enriqueça de frutos sazonados, edificando para a alegria geral do domicílio da esperança e o abrigo da paz.
Não esperar, no entanto, as motivações fortes da vaidade e do orgulho para criar e agir. A motivação que estimula, faculta o exercício do bem, mas o estímulo que não prescinde de motivos fortes se converte em degeneração por processo danoso.
Cultiva a beleza como expressão de sensibilidade em expansão, favorecendo o asseio e a higiene, o bom gosto e a distinção. Entrementes viver para cuidar de adornos deste ou daquele jaez é desrespeito à vida em flagrante atentado às Leis da harmonia universal.
Não são as coisas em si boas ou más.
Não é o mundo no sentido etimológico.
É o que fazemos com as coisas do mundo e o como vivemos no mundo que importa considerar.
O sexo não é nobre nem degradante.
O dinheiro não é amigo nem adversário.
A motivação não é necessária nem supérflua.
A beleza não é glória nem castigo.
O uso que lhes damos se encarrega de transformá-los em escada de acesso ou rampa de degredo.
A cocaína de tão positivos resultados terapêuticos, por degradação dos costumes é responsável por crimes hediondos.
O átomo aplicado na paz, na movimentação do progresso da Humanidade, é arma ameaçadora em mãos despóticas, que já vitimou mais de uma centena de milhar de vidas.
A palavra que ergue impérios, tem levado civilizações ao caos…
Viver no mundo entre as contingências do mundo mas pensar nas coisas do Alto” e agir consoante os impositivos da Vida Imperecível.
Aos que pretendem considerar impossível a vida sem os atos esconsos, orgíacos e loucos, tentando conciliar Jesus e o mundo numa aliança utopista, recordamos os que edificaram o Cristianismo nos corações depois do Senhor, com dignidade, e focalizamos o próprio Amigo Celeste que, possuindo o mundo, por tê-lo criado, viveu, entre nós, no mundo e junto às suas tentações, para legar-nos, intemerato, a certeza de que para chegar à paz real é necessário, no mundo, tomar a cruz, depô-la sobre os ombros e segui-lo.

 

FRANCO, Divaldo Pereira. Espírito e Vida. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. LEAL. Capítulo 24.


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