Acima da condição religiosa da criatura – Chico Xavier

sofrimento

Diante de Deus e de César

Em nosso relacionamento habitual com César ­ simbolizando o governo político ­ não nos esqueçamos de que o mundo é de Deus e não de César, a fim de que não sejamos parasitas na organização social em que fomos chamados a viver.
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Muitos se acreditam plenamente exonerados de quaisquer obrigações para com o poder administrativo da Terra, simplesmente porque, certo dia, pagaram à máquina governamental que os dirige os impostos de estilo, exigindo-lhes em troca serviços sacrificiais por longo tempo.
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É justo não olvidar que somos de Deus e não de César e que César não dispõe de meios para substituir junto de nós a assistência de Deus.
Por isso mesmo, a Lei, expressando as determinações do Alto, conta com a nossa participação constante no bem, se nos propomos alcançar a vitória com progresso real.
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Examinando o assunto nestes termos, ouçamos a voz do Senhor que nos fala na acústica da própria consciência e procuremos a execução de nossos deveres sem esperar que César nos visite com exigências ou aguilhões.
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O trabalho é regulamento da vida e cultivemo-lo com diligência, utilizando os recursos de que dispomos na consolidação do melhor para todos os que nos cercam.
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Auxiliar aos outros é recomendação do Céu e em razão disso, auxiliemos sempre, seja amparando a um companheiro infeliz, protegendo uma fonte ameaçada pela secura ou plantando uma árvore benfeitora que amanhã falará por nós à margem do caminho.
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Todos prestaremos contas à Divina Providência quanto aos bens que nos são temporariamente emprestados e, sem qualquer constrangimento da autoridade humana, exercitemos a compreensão e a bondade, a paciência e a tolerância, o otimismo e a fé, apagando os incêndios da rebelião ou da crítica onde estiverem e estimulando, em toda parte, a plantação de valores suscetíveis de estabelecer a harmonia e a prosperidade em torno de nós.
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Não vale dar a César algumas moedas por ano, cobrindo-o de acusações e reprovações, todos os dias.
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Doemos a Deus o que é de Deus, oferecendo o melhor de nós mesmos, em favor dos outros e, desse modo, César estará realmente habilitado a amparar-nos e a servir-nos, hoje e sempre, em nome do Senhor.
XAVIER, Francisco Cândido. Dinheiro. Pelo Espírito Emmanuel. IDE. Capítulo 8.
condição religiosa chico

Condição Moral

“Acima da condição religiosa da criatura, deve estar a sua condição moral.
Tenho visto pessoas que se dizem descrentes fazendo muito mais pelos semelhantes do que aqueles que rezam o dia inteiro.”
Chico Xavier
caridade

A Fé Religiosa – Condição da Fé Inabalável
 
Do ponto de vista religioso, a fé consiste na crença em dogmas especiais, que constituem as diferentes religiões. Todas elas têm seus artigos de fé. Sob esse aspecto, pode a fé ser raciocinada ou cega. Nada examinando, a fé cega aceita, sem verificação, assim o verdadeiro como o falso, e a cada passo se choca com a evidência e a razão. Levada ao excesso, produz o fanatismo. Em assentando no erro, cedo ou tarde desmorona; somente a fé que se baseia na verdade garante o futuro, porque nada tem a temer do progresso das luzes, dado que o que é verdadeiro na obscuridade, também o é à luz meridiana. Cada religião pretende ter a posse exclusiva da verdade; preconizar alguém a fé cega sobre um ponto de crença é confessar-se impotente para demonstrar que está com a razão.
Diz-se vulgarmente que a fé não se prescreve, donde resulta alegar muita gente que não lhe cabe a culpa de não ter fé. Sem dúvida, a fé não se prescreve, nem, o que ainda é mais certo, se impõe. Não; ela se adquire e ninguém há que esteja impedido de possuí-la, mesmo entre os mais refratários. Falamos das verdades espirituais básicas e não de tal ou qual crença particular. Não é à fé que compete procurá-los; a eles é que cumpre ir-lhe, ao encontro e, se a buscarem sinceramente, não deixarão de achá-la. Tende, pois, como certo que os que dizem: “Nada de melhor desejamos do que crer, mas não o podemos”, apenas de lábios o dizem e não do íntimo, porquanto, ao dizerem isso, tapam os ouvidos. As provas, no entanto, chovem-lhes ao derredor; por que fogem de observá-las? Da parte de uns, há descaso; da de outros, o temor de serem forçados a mudar de hábitos; da parte da maioria, há o orgulho, negando-se a reconhecer a existência de uma força superior, porque teria de curvar-se diante dela.
Em certas pessoas, a fé parece de algum modo inata; uma centelha basta para desenvolvê-la. Essa facilidade de assimilar as verdades espirituais é sinal evidente de anterior progresso. Em outras pessoas, ao contrário, elas dificilmente penetram, sinal não menos evidente de naturezas retardatárias. As primeiras já creram e compreenderam; trazem, ao renascerem, a intuição do que souberam: estão com a educação feita; as segundas tudo têm de aprender: estão com a educação por fazer. Ela, entretanto, se fará e, se não ficar concluída nesta existência, ficará em outra.
A resistência do incrédulo, devemos convir, muitas vezes provém menos dele do que da maneira por que lhe apresentam as coisas. A fé necessita de uma base, base que é a inteligência perfeita daquilo em que se deve crer. E, para crer, não basta ver; é preciso, sobretudo, compreender. A fé cega já não é deste século (1), tanto assim que precisamente o dogma da fé cega é que produz hoje o maior número dos incrédulos, porque ela pretende impor-se, exigindo a abdicação de uma das mais preciosas prerrogativas do homem: o raciocínio e o livre-arbítrio. É principalmente contra essa fé que se levanta o incrédulo, e dela é que se pode, com verdade, dizer que não se prescreve. Não admitindo provas, ela deixa no espírito alguma coisa de vago, que dá nascimento à dúvida. A fé raciocinada, por se apoiar nos fatos e na lógica, nenhuma obscuridade deixa. A criatura então crê, porque tem certeza, e ninguém tem certeza senão porque compreendeu. Eis por que não se dobra. Fé inabalável só o é a que pode encarar de frente a razão, em todas as épocas da Humanidade.
A esse resultado conduz o Espiritismo, pelo que triunfa da incredulidade, sempre que não encontra oposição sistemática e interessada.
Nota de Rodapé(1): Kardec escreveu essa palavras no século XIX. Hoje, o espírito humano tornou-se ainda mais exigente: a fé cega está abandonada; reina descrença nas Igrejas que a impunham. As massas humanas vivem sem ideal, sem esperança em outra vida e tentam transformar o mundo pela violência. As lutas econômicas engendraram as mais exóticas doutrinas de ação e reação. Duas guerras mundiais assolaram o planeta, numa ânsia furiosa de predomínio econômico. Toda a esperança da Humanidade hoje se apoia no Espiritismo, na restauração do Cristianismo, baseada em fatos que demonstram os princípios básicos da Doutrina cristã: eternidade da vida, responsabilidade ilimitada de pensamentos, palavras e atos. Sem a Terceira Revelação o mundo estaria irremediavelmente perdido pelo choque das mais desencontradas ideologias materialistas e violentistas.
 
– A Editora da FEB, em 1948.
KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. FEB. Capítulo 19. Itens 6 e 7.
servir no caminho

Em defesa da vida

“Não haverá paz na Terra enquanto existirem os abortos criminosos, filhos da falta de humanidade”
Corria o mês de dezembro de 2012. Era um dia como outro qualquer. Eu havia chegado cansada, jantei e fui ver TV. Os comerciais não nos deixavam esquecer de que era tempo de Natal. Falavam de amor e de paz. Contudo, o noticiário chocou a todos. Fui dormir impressionada com as cenas do jovem que assassinara muitas crianças em uma escola americana. Como não podia ser diferente, aquela notícia havia provocado comoção no mundo inteiro.
Antes de dormir, rezei pedindo a Deus pelas famílias daquelas crianças mortas. A oração acalmou meu coração e dormi mais serena.
Era madrugada. Eu tinha consciência de que estava dormindo; no entanto, sonhava. No início, não entendia direito o que se passava. Percebia que alguém me convidava a conhecer um lugar diferente e muito triste, que se assemelhava a um grande hospital de bebês. Ali estavam milhares de bebês de nacionalidades diferentes. Todos eles se mostravam sofridos e choravam bastante. Era um choro diferente, parecia um profundo lamento, só amenizado pelo carinho maternal de algumas mulheres que os abraçavam comovidas.
De repente, sem que entendesse o porquê, eu me encontrava de frente para um telão, assistindo outro noticiário que mostrava a cena de uma mulher jovem matando crianças. As pessoas estavam desesperadas. Para minha grande surpresa, constatei que ela não estava só. Muitas outras mulheres e homens a apoiavam. O que mais me espantava era que os próprios governantes, alguns profissionais da saúde, da Justiça e até familiares das vítimas concordavam com o massacre, que se repetia a cada minuto e em muitos outros lugares, simultaneamente. O número de vidas ceifadas era impressionante. Tinha a dimensão de uma grande e cruel guerra, permitida pelas autoridades!
Sem acreditar no que via, eu me perguntava: Que mundo é este? Onde estavam os homens bons? Como podiam aceitar tanta atrocidade? Estávamos no tempo da barbárie?…
Neste momento, passei a ouvir vozes que protestavam. Embora fossem milhares e milhares, vindas de todo lugar, não eram suficientes para evitar outras mortes.
Dentre as pessoas que protestavam havia um cantor conhecido. Ele lutava contra o massacre usando como “arma” a sua música, que trazia em seus acordes o seguinte pedido: “… por isso não mate, evite este aborto, ninguém quer ser morto, nem eu nem você .”
A b o o o r t o ?! Então, os fatos foram ficando mais claros e eu comecei a perceber que o massacre a que o noticiário do sonho se referia era o de crianças abortadas!
O sonho continuava. Agora, eu estava mais lúcida para entendê-lo. No telão do noticiário aparecia uma linda mulher que falava de paz. Ela dizia que estava ali para convidar todos os homens para fazerem parte de um projeto divino que se iniciara no plano espiritual. Tratava-se de uma grande campanha visando defender a inviolabilidade do direito à vida desde a concepção, esclarecer que a gravidez é um momento divino e que o aborto é crime aos olhos de Deus, mesmo que seja legalizado pelos homens!
Ao concluir sua mensagem, a linda mulher mostrou uma estatística impressionante: afirmara que, no exato instante do massacre acontecido no colégio norte-americano, milhares de vidas foram exterminadas cruelmente pelo aborto, sem que o mundo se indignasse! Ela perguntava se mundo não se revoltava com as crianças mortas nos ventres maternos. Se não conseguia ouvir os gritos silenciosos dos inocentes que não podiam se defender, nem correr ou gritar para pedir ajuda!
Neste momento, uma força maior fez com que eu me lembrasse das crianças tristes que vira chorando no hospital de bebês. Compreendi que elas haviam sido abortadas. Vindas de todas as nações e recebidas pela misericórdia divina em um pouso de amor, situado nas paisagens de Deus. As mulheres que lá estavam eram criaturas boas, arrependidas pelos abortos praticados, que procuravam se redimir por meio do amor que cobre a multidão de pecados…
Impactada, compreendi a significativa mensagem do impressionante sonho, que continuava nítido e revelador. Paradoxalmente, eram duas situações tão diferentes, mas incrivelmente semelhantes: o atentado ocorrido na vida real, na escola de um país evoluído, e a cena vivida na paisagem que o sono possibilitara por meio daquele inesquecível sonho, que continuava e mostrava, em uma tela translúcida, a figura da repórter do bem. Agora, ela se despedia explicando que, enquanto as mortes acontecidas no colégio eram noticiadas como um crime contra a humanidade, o aborto era permitido legalmente!
Ambas as situações atentavam contra o direito de viver, a diferença estava na forma com que os assassinatos eram perpetrados: impressionante comparação! No primeiro caso, o assassino era um homem que perdera o juízo. No caso dos abortados, os responsáveis eram as próprias mães, que deveriam ser amparadas e esclarecidas acerca da sublimidade da gravidez e, no entanto, eram ajudadas por profissionais que desrespeitavam vergonhosamente o juramento de cuidar da vida, muitas vezes inspirados por interesses inconfessáveis.
A mulher encerrava o noticiário com os olhos rasos d´água, lembrando que não haverá paz na Terra enquanto existirem os abortos criminosos, filhos da falta de humanidade, que fria e anonimamente eram trucidados (literalmente) pela ignorância, pelo egoísmo e morriam em clínicas clandestinas de justiça, de compreensão e de amor…
Sentindo as vibrações de amor emanado pela repórter do bem, acordei. O sonho fora tão real que a comoção ainda batia em meu peito… e chorei. Chorei pelo desamor que ainda somos capazes sentir e de praticar. Foi aí que decidi escrever o que vi no sonho e transformá-lo em um artigo.
Depois, abracei a esperança em meu coração e sonhei acordada, acreditando com todas as minhas forças que o projeto divino em defesa da vida se consolidaria no coração do mundo. Nós, ainda, veríamos o Brasil sem aborto e a Terra livre da exterminação silenciosa e inconsequente de seres indefesos.
Peço a Jesus que estas palavras não provoquem o arrependimento que deprime no coração de mulheres que um dia praticaram aborto. Que saibam transformar o remorso pelo trabalho em prol do bem, defendendo crianças indefesas.
Calamos nossas palavras lembrando que na “Contabilidade Divina” o amor sempre cobrirá a multidão de pecados, e, repetimos a consoladora frase de Chico Xavier: “Ninguém no mundo pode voltar atrás e fazer um novo começo, mas qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim”.
O ano novo chegou. O mundo novo precisa de nossas mãos para ser construído. A vida precisa ser defendida em todos os aspectos e a fórmula já nos foi dada há mais de dois mil anos: Façamos aos outros apenas o que queremos que eles nos façam. Esta é a lei e os profetas… Feliz ano novo!
Maia, Olga Espíndola Freire. Fonte: O Povo, Jornal de Hoje, Fortaleza, 06 jan. 2013. Olga Espíndola Freire Maia é presidente da Associação Peter Pan (assistência às crianças com câncer).

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