Alma Gêmea – Poema Emmanuel à Lívia

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ALMA GÊMEA

 UM TERNO POEMA À LÍVIA

HÁ DOIS MIL ANOS…
– Este, o primeiro romance enviado por seu mentor Emmanuel, retratando-o na figura do senador romano Públio Lentulus Cornélius, constituindo-se na 10ª obra de Chico Xavier.
Foi recebido através da psicografia nos porões da Fazenda Modelo, ainda na cidade de Pedro Leopoldo-MG, quando Chico era funcionário. Nessa ocasião, entre 24 de outubro de 1938 e 9 de fevereiro de 1939 o médium ali ficava, em horários fora do expediente administrativo, revivendo nas telas o episódio da história que lhe estava sendo passada.
Na verdade, não foi um simples conto permeado de aventuras, mas sim, a descrição minuciosa de um período que o próprio Benfeitor viveu entre os anos 32 e 79, ao final do primeiro século da era cristã.
“Em 7 de setembro de 1938, afirmava ele em pequena mensagem enviada aos seus amigos encarnados:
Algum dia, se Deus mo permitir, falar-vos-ei do orgulhoso patrício Públio Lentulus, a fim de algo aprenderdes nas dolorosas experiências de uma alma indiferente e ingrata.
Esperemos o tempo e a permissão de Jesus”.
Lívia, espírito de elevadas condições morais, foi sua esposa e o acompanhou nessa jornada, vivendo momentos angustiosos.
Ela, que se recolhera ao Mundo dos Espíritos no ano 58, estava presente por ocasião da despedida física de Públio, no ano 79, quando o Vesúvio entrou em atividade e destruiu a cidade romana de Pompéia.
”Pousando as mãos luminosas e puras na fronte abatida do companheiro exausto e agonizante, Lívia elevou os olhos ao firmamento enegrecido e orou com a suavidade da sua fé e dos seus sentimentos diamantinos:
’– Jesus, meigo e divino Mestre: esta hora angustiosa é bem um símbolo dos nossos erros e crimes, através de avatares(1) tenebrosos; mas, vós, Senhor, sois toda a esperança, toda a sabedoria e toda a misericórdia!… Abençoai nossos espíritos neste momento ríspido e doloroso!… Suavizai os tormentos da alma gêmea da minha, concedendo-lhe neste instante o alvará da liberdade!… Aliviai, magnânimo Salvador do mundo, todas as suas mágoas pungentes, suas desoladoras amarguras!.
Concedei-lhe repouso ao coração angustiado e dolorido, antes do seu novo regresso à trama escura das reencarnações no planeta do exílio e das lágrimas dolorosas… Ele já não é mais, Senhor, o vaidoso déspota de outrora, mas um coração inclinado ao bem e à piedade pregados pela vossa doutrina de amor e redenção; sob o peso das provações amargas e remissoras, seus pendores se espiritualizaram a caminho da vossa Verdade e da vossa Vida!…’.”
NOTA:
(1) Avatar: Na crença hinduísta, descida de um ser divino à Terra, em forma materializada.

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Num de seus sonhos-visão, Públio relata:

“A grande multidão de vítimas acercou-se, então, de minh’alma angustiada e sofredora, reclamando justiça e reparação e rebentando em clamores e soluços, que me pereciam no recôndito do coração.
Por quanto tempo estive, assim, prisioneiro desse martírio indefinível? Não sei dizê-lo.
Apenas me recordo de haver lobrigado a figura celeste de Lívia, que, no meio desse vórtice(1) de pavores, estendia-me as mãos fúlgidas(2) e carinhosas.
Afigurava-se-me que minha esposa me era familiar de épocas remotíssimas, porque não hesitei um instante em lhe tomar as mãos suaves, que me conduziram a um tribunal, onde se alinhavam figuras estranhas e venerandas. Cãs(3) respeitáveis aureolavam o semblante sereno desses juízes do Céu, emissários dos deuses para julgamento dos homens da Terra. A atmosfera caracterizava-se por estranha leveza, cheia de luzes cariciosas que iluminavam, perante todos os presentes, os meus pensamentos mais secretos.
Lívia devia ser o meu anjo-tutelar nesse conselho de magistrados intangíveis, porque sua destra pairava sobre minha cabeça, como a impor-me resignação e serenidade, a fim de ouvir as sentenças supremas.
– Públio Lentulus, a justiça dos deuses, na sua misericórdia, determina tua volta ao turbilhão das lutas do mundo, para que laves as nódoas de tuas culpas nos prantos remissores. Viverás numa época de maravilhosos fulgores espirituais, lutando com todas as situações e dificuldades, não obstante o berço de ouro que te receberá ao renasceres, a fim de que edifiques tua consciência denegrida, nas dores que purificam e regeneram!… Feliz de ti se bem souberes aproveitar a oportunidade bendita da reabilitação pela renúncia e pela humildade…
Determinou-se que sejas poderoso e rico, a fim de que, com o teu desprendimento dos caminhos humanos, no instante preciso, possas ser elemento valioso para os teus mentores espirituais. Terás a inteligência e a saúde, a fortuna e a autoridade, como ensanchas(4) à regeneração integral de tua alma, porque chegará um momento em que serás compelido a desprezar todas as riquezas e todos os valores sociais, se bem souberes preparar o coração para a nova senda de amor e humildade, de tolerância e perdão, que será rasgada, em breves anos, à face escura da Terra!…
A vida é um jogo de circunstâncias que todo espírito deve entrosar para o bem, no mecanismo do seu destino. Aproveita, pois, essas possibilidades que a misericórdia dos deuses coloca ao serviço da tua redenção. Não desprezes o chamamento da verdade, quando soar a hora do testemunho e das renúncias santificadoras… Lívia seguirá contigo pela via dolorosa do aperfeiçoamento, e nela encontrarás o braço amigo e protetor para os dias de provações ríspidas e acerbas(5). O essencial é a tua firmeza de ânimo no caminho escabroso, purificando tua fé e tuas obras, na reparação do passado delituoso e obscuro!…”
NOTA:
(1) Vórtice: Movimento forte e giratório; remoinho; turbilhão.
(2) Fúlgida: Mesmo que fulgente, luminoso.
(3) Cãs: Cabelos brancos.
(4) Ensanchas: Sentido figurativo para ilustrar excessos.
(5) Acerbas: Angustiosas.
Públio Lentulus, aproximando-se vagarosamente do aposento da esposa e colando o ouvido à porta, ouviu Lívia cantar em voz suave e mansa, ‘qual cotovia(1) abandonada’, fazendo soar levemente as cordas harmoniosas de uma lira em suas lembranças mais queridas. Públio chorava, comovido, ouvindo-lhe as notas que se abafavam no ambiente restrito do quarto, de seu poema, como se Lívia estivesse cantando para si própria, adormentando o coração humilde e desprezado, para encher de consolo as horas tristes e desertas da noite.
NOTA: (1) Cotovia: Designação comum às aves canoras.

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ALMA GÊMEA

 

Alma gêmea da minh’alma,
Flor de luz da minha vida,
Sublime estrela caída
Das belezas da amplidão!…
Quando eu errava no mundo,
Triste e só, no meu caminho,
Chegaste devagarinho,
E encheste-me o coração.
Vinhas na bênção dos deuses,
Na divina claridade,
Tecer-me a felicidade
Em sorrisos de esplendor!…
És meu tesouro infinito,
Juro-te eterna aliança,
Porque sou tua esperança
Como és todo o meu amor!
Alma gêmea da minh’alma
Se eu te perder, algum dia,
Serei a escura agonia
Da saudade dos seus véus…
Se um dia me abandonares,
Luz terna dos meus amores,
Hei de esperar-te, entre as flores
Da claridade dos céus.
Emmanuel
”Daí a minutos, a voz harmoniosa calava, como se fora obrigada a um divino estacato(1). O senador retirou-se, então, com os olhos marejados de lágrimas, refletindo consigo mesmo: – ‘Sim, Lívia, de hoje a dois dias hei de provar-te que foste sempre a lua da minha vida inteira… Beijarei teus pés com a minha humildade agradecida e saberei entornar no teu coração o perfume do meu arrependimento…’.”

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Liberte-se pela Auto-Iluminação

 

Ninguém poderá carregar os fardos de suas dores.
Eduque-se com o sofrimento.
Ninguém entenderá os problemas complexos de sua existência.
Exercite o silêncio.
Ninguém seguirá com você, indefinidamente.
Acostume-se com a solidão.
Ninguém acreditará que suas aflições sejam maiores do que as do vizinho.
Liberte-se delas, com o trabalho da auto-iluminação.

 

Divaldo Pereira Franco/ Marco Prisco

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