Tem coisas que a gente junta, tem coisas que a gente espalha mas somente o que a gente planta nos dará sombra nos dias seguintes

Autoconhecimento e Reforma Íntima

Autoconhecimento e Reforma Íntima

Ninguém é capaz de mudar o outro.
Nem mesmo por amor.
A mudança se dá por autoconhecimento e reforma íntima.

O QUE JUNTAMOS E O QUE ESPALHAMOS…

“Tem coisas que a gente junta,
tem coisas que a gente espalha,
mas somente o que a gente planta
nos dará sombra nos dias seguintes…”
Sirlei L. Passolongo

O ESPÍRITO MAIS ILUMINADO QUE O CHICO XAVIER VIU…

O Chico contava que o espirito mais iluminado que ele tinha visto em toda sua vida foi um jovem soldado romano.
Este foi acusado pelas autoridades da época de esconder Jesus quando ele desapareceu por uns dias, foi levado, acusado e condenado pelos próprios colegas soldados.
Ele era cristão e com certeza sabia onde Jesus tinha se escondido, foi levado ante a autoridade e desassombrado como todo jovem de 18 anos quando foi perguntado.
Onde está Jesus?
Você sabe onde Jesus se escondeu?
E Chico, em lágrimas contava essa historia, Emmanuel contou a ele, e o Chico teve a visão da historia.
O soldado imediatamente diz.
Queres saber onde encontrar Jesus?
Pois ele está aqui no meu coração.
Sem pensar duas vezes a autoridade disse ; Ah é?
Pois então arranquem-lhe o coração.
E ali mesmo os soldados com uma faca, lhe arrancaram o coração, com ele ainda vivo.
Ele cai, naturalmente, morto.
Mas, quando Emmanuel contou essa historia para o Chico,
de repente ficou cego, devido tamanha luminosidade irradiada do peito do Rapaz, que se fez presente em seu quarto.
A Luz que saía do coração, que faltava ao soldado, era tão tremenda, que o chico olhou pela Janela, e todo o quarteirão, até onde ele podia alcançar, estava iluminado com uma intensa luz dourada.
Extraordinária.
O Chico contava:
“Foi o Espírito mais iluminado que eu Vi em toda minha vida, porque ele havia tido o coração arrancado, já que ali era a morada de Jesus”.
“O mal não tem existência real, e desaparece à luz da bondade.”

André Luiz – Chico Xavier

A FRATERNIDADE SERÁ A PEDRA ANGULAR

DA NOVA ORDEM SOCIAL

A fraternidade será a pedra angular da nova ordem social; mas, não há fraternidade real, sólida, efetiva, senão assente em base inabalável e essa base é a fé, não a fé em tais ou tais dogmas particulares, que mudam com os tempos e os povos e que mutuamente se apedrejam, porquanto, anatematizando-se uns aos outros, alimentam o antagonismo, mas a fé nos princípios fundamentais que toda a gente pode aceitar e aceitará: Deus, a alma, o futuro, o progresso individual indefinito, a perpetuidade das relações entre os seres.
Quando todos os homens estiverem convencidos de que Deus é o mesmo para todos; de que esse Deus, soberanamente justo e bom, nada de injusto pode querer; que não dele, porém dos homens vem o mal, todos se considerarão filhos do mesmo Pai e se estenderão as mãos uns aos outros. Essa a fé que o Espiritismo faculta e que doravante será o eixo em torno do qual girará o gênero humano, quaisquer que sejam os cultos e as crenças particulares.
GÊNESE, OS MILAGRES E AS PREDIÇÕES SEGUNDO O ESPIRITISMO
Allan Kardec

“O Brasil cumprirá a sua predestinação histórica, a de Pátria do Evangelho”.

Quem viver, verá. “O País escreverá a sua epopeia de realizações morais, em favor do mundo”, confirma Humberto de Campos. Mas nada se fará sem esforço coletivo. Todos os brasileiros, independentemente de raça, classe social e religião, deverão trabalhar pela paz, cultivando a oração e buscando cumprir a regra áurea: “Ama a teu próximo como a ti mesmo”.
A hora está próxima, deixemos as conquistas ilusórias da carne e batalhemos, com humildade, pelos princípios do Mestre Inolvidável, a fim de sermos fiéis aos compromissos assumidos.
Estão sendo esperados desfechos sombrios para este final de século, consoante os processos cármicos de todas as nações do mundo. Milhões de espíritos acreditam no potencial espiritual do Brasil.
O novo renascimento virá e o Brasil será o patrono da Nova Era. Os espíritos não pactuam com o julgamento apressado dos homens. Eles aprenderam a esperar.
(Trecho do livro Brasil Coração do Mundo Pátria do Evangelho – Humberto de Campos/ Chico Xavier)

Quanto vale uma vida?

O espiritismo nos ensina que somos espíritos encarnados em um corpo material. As dificuldades impostas pela vida material nos incentivam a buscar o bem estar material, mas também nos forçam a aprender a cooperar e a viver em sociedade. O resultado é que aos poucos aprendemos a valorizar também os bens imateriais, assimilando valores morais como a solidariedade e o desapego em favor do próximo, assim purificando o nosso espírito e nos libertando gradualmente do egoísmo e do materialismo.
Para o animal irracional, completamente apegado à matéria, apenas suas necessidades materiais importam, sua sobrevivência material está acima de qualquer consideração pela sobrevivência dos outros, inclusive dos próprios membros de sua família. Já para o ser racional, as necessidades materiais vão ficando em segundo plano, passando a pensar também no bem estar dos outros, a compaixão vai tomando o lugar do puro instinto de sobrevivência.
De tempos em tempos a humanidade é confrontada com o dilema entre a busca pelos bens materiais em oposição aos princípios morais de solidariedade e fraternidade. Por exemplo, no início da revolução industrial existiu um conflito entre a necessidade de se oferecer condições mínimas de saúde e segurança para os trabalhadores, ou por outro lado maximizar os lucros da atividade industrial, que impulsionava uma mudança radical na sociedade.
Ao contrário da era medieval, em que os servos eram um patrimônio do senhor feudal e a fonte da sua riqueza, que portanto deveriam ser protegidos, os trabalhadores assalariados eram relativamente descartáveis. Assim, ao invés de investir em medidas de segurança no ambiente de trabalho e em salários minimamente decentes, era preferível agora reduzir ao máximo estes custos em nome da “eficiência” industrial.
Nestes tempos sombrios, milhares de vidas se perdiam por não se utilizar equipamentos de segurança, oferecer condições mínimas de higiene ou simplesmente um salário que fosse o suficiente para comer. Do ponto de vista puramente material, fazia mais sentido substituir um trabalhador doente ou morto por outro.
Mais de cem anos depois, em um mundo bem diferente, onde até mesmo os países mais pobres adotam leis que garantem condições mínimas de segurança para os trabalhadores, surge um novo conflito de interesses. Desta vez são as mudanças climáticas, que a cada ano matam mais e mais pessoas em desastres naturais atípicos.
E surge um novo dilema: a mudança ou não para o uso de fontes de energia renováveis. Sendo que muitos são os defensores da ideia de que os lucros devem ser colocados acima de tudo, mesmo que essa insistência leve a catástrofes de escala global com milhões de pessoas afetadas.
Mais uma vez a humanidade se encontra dividida entre o egoísmo materialista e a solidariedade.
Mas agora surge de repente em 2020 um novo problema, uma nova prova para o nosso espírito dividido entre o apego às conquistas materiais e aos valores espirituais, entre o amor próprio egoísta e irracional que se opõe ao amor ao próximo, racional e altruísta.

E ai novamente nos perguntamos: Quanto vale uma vida? Quanto dinheiro será perdido se todos os trabalhadores não essenciais pararem de trabalhar? E quantas vidas serão salvas com essa medida?
Os maiores especialistas em pandemias, no mundo todo, calcularam que seriam milhões de vidas perdidas, mesmo em países ricos com sistemas de saúde muito melhores que o nosso. No Brasil o nosso governo estimou que cerca de 70% da população, ou 147 milhões de pessoas, pegariam a doença. Considerando uma taxa de mortalidade estimada por aqui em no mínimo 5% dos contaminados, tendo em vista o colapso do já péssimo sistema de saúde que temos, chegamos à conclusão de que o governo brasileiro esperava uma cifra absurdamente alta de cerca de 7 milhões de mortos no país.
No conto antigo, um rei que está perdido num deserto à beira da morte diz: “meu reino por um copo d’água”. Para o espírito materialista, os bens materiais estão acima de tudo e a vida ou o bem estar dos outros não tem valor algum. Mas, ao contrário da vida dos outros, mesmo o espírito materialista valoriza muito a sua própria vida, estando disposto a entregar tudo o que possui para preserva-la, pois só assim ele pode continuar a usufruir do seu materialismo. Por isso, ao se ver à beira da morte, mesmo o rei mais poderoso e egoísta resolve entregar tudo o que tem em troca do copo d’água que o salvará.
Nos tempos modernos, podemos nos perguntar o que responderia, por exemplo, o homem mais rico de um país que tivesse um patrimônio de 100 bilhões de reais, prefere esse homem a sua vida ou seu patrimônio? Com certeza ele responderia que sua vida é mais importante.
Vamos imaginar que esse homem adoecesse e em seu leito de morte, comovido e arrependido de ter acumulado tanta riqueza no meio de tanta miséria, resolvesse deixar toda sua fortuna de 100 bilhões para pagar uma renda para cada família pobre brasileira que foi impedida de trabalhar por 3 meses. Fazendo as contas, seria possível, apenas com a fortuna desse único empresário benevolente manter os mais necessitados do Brasil em casa e salvar quase todas aquelas 7 milhões de vidas.
Mas vamos deixar estas ilusões e essas ideias radicais de lado por um instante e pensar: Qual resposta o espiritismo pode nos trazer nesse momento? Para o cristão espirita, qual o valor de uma vida? Qual o esforço que devemos fazer e qual o ponto de equilíbrio entre salvar vidas ou preservar riquezas?
A resposta é na verdade simples, contida naquela regra universal de conduta ensinada pelo cristo há 2000 anos: “amai ao próximo como a si mesmo”, ou seja, não faça aos outros o que não gostaria que fizessem com você.
Um governo cristão precisa incentivar o comportamento da sua população nos moldes dos ensinamentos do Cristo. Um verdadeiro cristão jamais aceitaria que os mais humildes fossem tratados de forma diferente de como os mais abastados gostariam de ser tratados, pelo contrário, um governo cristão precisa incentivar que todos se tratem e se valorizem da mesma forma. Em hipótese alguma um cristão pode aceitar a ideia de que a vida de uns valha mais do que a vida de outros.
Se o empresário bilionário acha que sua vida vale mais que todos os seus bilhões, o cristão precisa dizer a esse empresário que ele não pode pedir nem incentivar que os mais pobres coloquem suas vidas em risco, mesmo que cada vida perdida representasse um prejuízo de 100 bilhões, a vida vale mais do que isso, pelo menos para esse empresário a gente sabe que vale, porque ele abriria mão de toda sua fortuna para salvar apenas a sua vida.
Pois então quanto vale uma vida? A vida é um patrimônio de Deus e devemos preserva-la a qualquer custo. O momento atual é crucial para a pátria do evangelho decidir se vai adorar a Deus e tentar preservar todas as vidas criadas por ele, ou se continuaremos a adorar Mamom, o deus dinheiro, o deus do materialismo, como do animal irracional que não se importa com nada além da sua própria vida.
Mais uma vez Deus nos coloca em uma estrada dividida entre o caminho de um novo mundo em regeneração e o velho mundo de provas e expiações, o novo mundo da solidariedade onde a vida e o bem estar do próximo valem mais que todas as riquezas materiais e o velho mundo do egoísmo materialista.

A MAIOR CARIDADE É AMAR

A paz de Cristo, meus irmãos.

Eis que o planeta de provas e expiações em meio a tanta dor compreende que é necessário amar.
A falta do amor em nossos corações resulta em tudo que estamos aqui, hoje, a presenciar.
Foram pais que no plano espiritual prometeram amar seus filhos, deles zelar e conduzi-los no bom caminho, e abandonaram a tarefa bem antes de começá-la.
Foram filhos que prometeram amparar e amar seus pais na velhice e desistiram quando a necessidade os chegou.
Foram irmãos que ao invés de ser aceitarem como filhos de um mesmo pai no meio da tarefa se tornaram rivais.
Foram amigos, vizinhos, pessoas que se cruzaram na vida e ao invés de construir um relacionamento de amor, preferiram a inveja, a indiferença e o pior, a revolta e a ira.
Como, irmãos, resolver tudo isso? Será que há uma forma de tornar esse mar de espinhos em um oceano de flores? Claro que sim, tudo é possível quando encontramos em nós a semente plantada por Jesus há dois mil anos e decidimos ser e fazer algo diferente.
Olhemos à nossa volta. Como estão nossos pais, nossos filhos, nossos vizinhos, nossos irmãos, nossos companheiros de trabalho? Está tudo bem? Há amor entre nós? Pois bem, se não há, é chegada a hora de praticarmos a verdadeira e maior caridade: AMAR.
Sejamos sinceros, como será possível evoluir sem amor? O amor é a base de tudo, a partir dele a fraternidade reina entre os seres, o desejo de se ajudarem mutuamente floresce e quando menos se espera temos à nossa volta uma família melhor, um bairro melhor, uma cidade melhor e enfim um mundo melhor.
Nunca é tarde para compreendermos que não é preciso ir longe para praticar a caridade redentora de nossos débitos infindos.
A caridade, algo aparentemente tão difícil de ser colocada em prática, está no amor de um Pai e uma mãe por um filho, no amor dos filhos para com os pais, independente do que deles tenha recebido, de irmãos, de casa, de bairro, de cidade e planeta.
É isso que Jesus espera de cada um de nós, que haja amor porque se houver amor todo o resto se conquista, tudo à nossa volta antes sombrio, escuro, brilha, resplandece e enfim alcançamos a paz.
Sejamos todos nós a semente boa que plantada e regada com amor produz bons frutos.
Estamos aqui, meus irmãos, queremos ampará-los para que todos nós também sejamos amparados, pois quem mais doa de si o amor, também é aquele que mais recebe.
Muita paz, prece e caridade de amor. Fiquem com Deus.
Equipe Servos do Cristo
*
Psicografia de 08/07/2020
(médium do Centro Espírita Luz da Verdade, em Palmelo, Goiás: Christiane Ferreira)

O Nosso Lar

Os livros de Chico Xavier tornaram famosa entre os espíritas brasileiros a cidade de Nosso Lar, uma cidade espiritual para os desencarnados na região do Rio de Janeiro.
Apesar de ter sido escrito há mais de 70 anos, a tecnologia e as construções descritas naquela época ainda fascinam os encarnados que passam a sonhar com a vida em uma cidade utópica de harmonia, paz, lazer, estudo e tranquilidade dignas de uma palácio da antiga nobreza europeia.
Mas mais do que uma cidade espiritual para onde sonhamos ir, o nosso lar, o nosso verdadeiro lar, é onde habita nosso espírito, nossa mente, nosso lar interior de nossa consciência. Podemos passar a vida sonhando em viver em um mundo harmônico, mas se não semeamos a harmonia à nossa volta, não vivemos em harmonia com o ambiente em que habitamos, então é claro que o nosso lar interior de nossa mente não está sintonizado naquela harmonia da cidade espiritual.
Vivemos no ambiente vibratório que escolhemos, criamos o mundo interior que reflete a nós mesmos, o resultado de nossas atitudes diárias, a soma das consequências de cada ação que tomamos forma o nosso ambiente vibratório, construindo o nosso lar mental. Já o nosso lar material, o planeta terra, passa hoje por um momento dramático. Segundo o consenso geral na comunidade científica, este é o momento mais perigoso para os humanos desde que nós começamos a colonizar os continentes há dezenas de milhares de anos. Mas além do meio ambiente, o no nosso lar material que está sendo destruído, nós ainda temos outros problemas que estamos longe de conseguir resolver, as questões da desigualdade e injustiças sociais, as guerras, todos estes reflexos das nossas pequenas atitudes egoístas, insensíveis e materialistas.
Sonhar com a vida em uma cidade astral sem primeiro tentar mudar o nosso mundo interior e o nosso mundo material ameaçado pelo nosso comportamento, é parecido com aquelas fantasias de criar uma colônia em marte ou em outro planeta porque a vida na terra esta se tonando difícil. É claro que se não somos capazes de criar um mundo sustentável na terra, não seremos capazes de criar um mundo sustentável em um planeta hostil. Claro também que se não somos capazes de criar um mundo de harmonia dentro de nossa própria mente, não conseguiremos nos sintonizar a harmonia da cidade espiritual.
O desejo de viver em uma cidade perfeita cheia de tecnologias e confortos é mais um reflexo do nosso materialismo e da nossa mania de achar que o ambiente pode modificar o indivíduo e tornar ele feliz. É parecido também com a ideia que temos de que ganhar na loteria nos tornaria felizes. É claro que resolver algumas das nossas necessidades financeiras seria um alívio para a maioria das pessoas que luta com dificuldade para sustentar um lar, mas não existe relação entre a felicidade de um indivíduo e a quantidade de bens materiais supérfluos que ele pode comprar, a vida depressiva e com tendências suicidas de tantas pessoas ricas e celebridades é a maior prova disso.
Os fariseus perguntaram a Jesus quando chegaria o reino de Deus, e ele respondeu: “o Reino de Deus está dentro de vocês.” Jesus deixou claro para os fariseus, que procuravam a elevação por meio das aparências e das conquistas materiais, que o reino de Deus não é algo que se procura em um lugar qualquer, o reino de Deus é um estado do espírito. Ele está inerte, porém acessível mesmo aos maiores pecadores.
Cuidando dos nossos interesses materiais ou sonhando com uma vida futura de conforto, similar ao conforto material da terra, num mundo espiritual, não iremos fazer brotar o reino de Deus em nós. Mas fazendo justamente o contrário, abrindo mão de nossos privilégios e pensando primeiro nas necessidades dos nossos irmãos, ao mesmo tempo em que cuidamos da terra, a nossa casa material que Deus nos confiou, ficamos mais próximos do reino dos céus. Quando aprendemos a viver primeiramente para o próximo, num verdadeiro espírito de fraternidade, não importa mais se estamos numa hora de trabalho ou de repouso, sozinhos ou no meio de multidões, nas alegrias e nas horas de luta, a felicidade deste reino de alegrias que Jesus chamava de reino dos céus passa a nos acompanhar onde quer que estejamos.

Quando Jesus declara:

“Não creias que eu tenha vindo trazer a paz, mas, sim, a divisão”, seu pensamento era este:
“Não creias que a minha doutrina se estabeleça pacificamente;
Ela trará lutas sangrentas, tendo por pretexto o meu nome, porque os homens não me terão compreendido, ou não me terão querido compreender.
Os irmãos, separados pelas suas respectivas crenças, desembainharão a espada um contra o outro e a divisão reinará no seio de uma mesma família, cujos membros não partilhem da mesma crença.
Vim lançar fogo à Terra para expungia a dos erros e dos preconceitos, do mesmo modo que se põe fogo a um campo para destruir nele as ervas más, e tenho pressa de que o fogo se acenda para que a depuração seja mais rápida, visto que do conflito sairá triunfante a verdade.
A guerra sucederá a paz;
Ao ódio dos partidos, a fraternidade universal;
Ás trevas do fanatismo, a luz da fé esclarecida.
Então, quando o campo estiver preparado, eu vos enviarei o Consolador, o Espírito de Verdade, que virá restabelecer todas as coisas, isto é, que, dando a conhecer o sentido verdadeiro das minhas palavras, que os homens mais esclarecidos poderão enfim compreender, porá termo à luta fratricida que desune os filhos do mesmo Deus.
Cansados, afinal, de um combate sem resultado, que consigo traz unicamente a desolação e a perturbação até ao seio das famílias, reconhecerão os homens onde estão seus verdadeiros interesses,
com relação a este mundo e ao outro.
Verão de que lado estão os amigos e os inimigos da tranquilidade deles.
Todos então se porão sob a mesma bandeira:
“A da caridade, e as coisas serão restabelecidas na Terra, de acordo com a verdade e os princípios que vos tenho ensinado.”
O Espiritismo vem realizar, na época prevista, as promessas do Cristo.

Entretanto, não o pode fazer sem destruir os abusos.
Como Jesus, ele topa com o orgulho, o egoísmo, a ambição, a cupidez, o fanatismo cego, os quais, levados às suas últimas trincheiras, tentam barrar-lhe o caminho e lhe suscitam entraves e perseguições.
Também ele, portanto, tem de combater; Mas, o tempo das lutas e das perseguições sanguinolentas passou;
São todas de ordem moral as que terá de sofrer e próximo lhes está o termo.
As primeiras duraram séculos; estas durarão apenas alguns anos, porque a luz, em vez de partir de um único foco, irrompe de todos os pontos do Globo e abrirá mais de pronto os olhos aos cegos.
Essas palavras de Jesus devem, pois, entender-se com referência às cóleras que a sua doutrina provocaria, aos conflitos momentâneos a que ia dar causa, às lutas que teria de sustentar antes de se firmar, como aconteceu aos hebreus antes de entrarem na Terra Prometida, e não como decorrentes de um desígnio premeditado de sua parte de semear a desordem e a confusão.
O mal viria dos homens e não dele, que era como o médico que se apresenta para curar, mas cujos remédios provocam uma crise salutar, atacando os maus humores do doente.
★𝐅𝐨𝐧𝐭𝐞: 𝐎 𝐄𝐯𝐚𝐧𝐠𝐞𝐥𝐡𝐨 𝐬𝐞𝐠𝐮𝐧𝐝𝐨 𝐨 𝐄𝐬𝐩𝐢𝐫𝐢𝐭𝐢𝐬𝐦𝐨,
𝐜𝐚𝐩. 𝐗𝐗𝐈𝐈𝐈, 𝐢𝐭𝐞𝐧𝐬 𝟏𝟔 𝐚 𝟏𝟖.★

Sócrates e Platão, Precursores da Ideia Cristã e do Espiritismo

Do fato de haver Jesus conhecido a seita dos essênios, fora errôneo concluir-se que a sua doutrina hauriu-a ele na dessa seita e que, se houvera vivido noutro meio, teria professado outros princípios. As grandes idéias jamais irrompem de súbito. As que assentam sobre a verdade sempre têm precursores que lhes preparam parcialmente os caminhos. Depois, em chegando o tempo, envia Deus um homem com a missão de resumir, coordenar e completar os elementos esparsos, de reuni-los em corpo de doutrina. Desse modo, não surgindo bruscamente, a ideia, ao aparecer, encontra espíritos dispostos a aceitá-la. Tal o que se deu com a idéia cristã, que foi pressentida muitos séculos antes de Jesus e dos essênios, tendo por principais precursores Sócrates e Platão.
Sócrates, como o Cristo, nada escreveu, ou, pelo menos, nenhum escrito deixou. Como o Cristo, teve a morte dos criminosos, vítima do fanatismo, por haver atacado as crenças que encontrara e colocado a virtude real acima da hipocrisia e do simulacro das formas; por haver, numa palavra, combatido os preconceitos religiosos. Do mesmo modo que Jesus, a quem os fariseus acusavam de estar corrompendo o povo com os ensinamentos que lhe ministrava, também ele foi acusado, pelos fariseus do seu tempo, visto que sempre os houve em todas as épocas, por proclamar o dogma da unidade de Deus, da imortalidade da alma e da vida futura. Assim como a doutrina de Jesus só a conhecemos pelo que escreveram seus discípulos, da de Sócrates só temos conhecimento pelos escritos de seu discípulo Platão. Julgamos conveniente resumir aqui os pontos de maior relevo, para mostrar a concordância deles com os princípios do Cristianismo.
Aos que considerarem esse paralelo uma profanação e pretendam que não pode haver paridade entre a doutrina de um pagão e a do Cristo, diremos que não era pagã a de Sócrates, pois que objetivava combater o paganismo; que a de Jesus, mais completa e mais depurada do que aquela, nada tem que perder com a comparação; que a grandeza da missão divina do Cristo não pode ser diminuída; que, ao demais, trata-se de um fato da História, que a ninguém será possível apagar. O homem há chegado a um ponto em que a luz emerge por si mesma de sob o alqueire. Ele se acha maduro bastante para encará-la de frente; tanto pior para os que não ousem abrir os olhos. Chegou o tempo de se considerarem as coisas de modo amplo e elevado, não mais do ponto de vista mesquinho e acanhado dos interesses de seitas e de castas.
Além disso, estas citações provarão que, se Sócrates e Platão pressentiram a ideia cristã, em seus escritos também se nos deparam os princípios fundamentais do Espiritismo.

RESUMO DA DOUTRINA DE SÓCRATES E DE PLATÃO

I. O homem é uma alma encarnada. Antes da sua encarnação, existia unida aos tipos primordiais, às ideias do verdadeiro, do bem e do belo; separa-se deles, encarnando, e, recordando o seu passado, é mais ou menos atormentada pelo desejo de voltar a ele.
Não se pode enunciar mais claramente a distinção e independência entre o princípio inteligente e o princípio material. E, além disso, a doutrina da preexistência da alma; da vaga intuição que ela guarda de um outro mundo, a que aspira; da sua sobrevivência ao corpo; da sua saída do mundo espiritual, para encarnar, e da sua volta a esse mesmo mundo, após a morte. É, finalmente, o gérmen da doutrina dos Anjos decaídos.
1I.A alma se transvia e perturba, quando se serve do corpo para considerar qualquer objeto; tem vertigem, como se estivesse ébria, porque se prende a coisas que estão, por sua natureza, sujeitas a mudanças; ao passo que, quando contempla a sua própria essência, dirige-se para o que é puro, eterno, imortal, e, sendo ela desta natureza, permanece aí ligada, por tanto tempo quanto passa. Cessam então os seus transviamentos, pois que está unida ao que é imutável e a esse estado da alma é que se chama sabedoria.
Assim, ilude-se a si mesmo o homem que considera as coisas de modo terra-a-terra, do ponto de vista material. Para as apreciar com justeza, tem de as ver do alto, isto é, do ponto de vista espiritual. Aquele, pois, que está de posse da verdadeira sabedoria, tem de isolar do corpo a alma, para ver com os olhos do Espírito. E o que ensina oEspiritismo. (Cap. II, no 5.)
III. Enquanto tivermos o nosso corpo e a alma se achar mergulhado nessa corrupção, nunca possuiremos o objeto dos nossos desejos: a verdade. Com efeito, o corpo nos suscita mil obstáculos pela necessidade em que nas achamos de cuidar dele. Ao demais, ele nos enche de desejos, de apetites, de temores, de mil quimeras e de mil tolices, de maneira que, com ele, impossível se nos torna ser ajuizados, sequer por um instante. Mas, se não nos é possível conhecer puramente coisa alguma, enquanto a alma nos está ligada ao corpo, de duas uma: ou jamais conheceremos a verdade, ou só a conheceremos após a morte. Libertos da loucura do corpo, conversaremos então, lícito é esperá-lo, com homens igualmente libertos e conheceremos, por nós mesmos, a essência das coisas. Essa a razão por que os verdadeiros filósofos se exercitam em morrer e a morte não se lhes afigura, de modo nenhum, temível.
Está ai o princípio das faculdades da alma obscurecidas por motivo dos órgãos corporais e o da expansão dessas faculdades depois da morte. Mas trata-se apenas de almas já depuradas; o mesmo não se dá com as almas impuras. (O Céu e o Inferno, 1a Parte, cap. II; 2a Parte, cap. I.)
IV. A alma impura, nesse estado, se encontra oprimida e se vê de novo arrastado para o mundo visível, pelo horror do que é invisível e imaterial. Erra, então, diz-se, em torno dos monumentos e dos túmulos, junto aos quais já se têm visto tenebrosos fantasmas, quais devem ser as imagens das almas que deixaram o corpo sem estarem ainda inteiramente puras, que ainda conservam alguma coisa do forma material, o que faz que a vista humana possa percebê-las. Não são as almas dos bons; silo, porém, as dos maus, que se veem forçadas a vagar por esses lugares, onde arrastam consigo a pena do primeira vida que tiveram e onde continuam a vagar até que os apetites inerentes à forma material de que se revestiram as reconduzam a um corpo.
Então, sem dúvida, retomam os mesmos costumes que durante a primeira vida constituíam objeto de suas predileções.
Não somente o princípio da reencarnação se acha ai claramente expresso, mas também o estado das almas que se mantêm sob o jugo da matéria é descrito qual o mostra o Espiritismo nas evocações. Mais ainda: no tópico acima se diz que a reencarnação num corpo material é consequência da impureza da alma, enquanto as almas purificadas se encontram isentas de reencarnar. Outra coisa não diz o Espiritismo, acrescentando apenas que a alma? que boas resoluções tomou na erraticidade e que possui conhecimentos adquiridos, traz, ao renascer, menos defeitos, mais virtudes e idéias intuitivas do que tinha na sua existência precedente. Assim, cada existência lhe marca um progresso intelectual e moral. (O Céu e o Inferno, 2.a Parte: Exemplos.)
V. Após a nossa morte, o gênio (daimon, demônio), que nos fora designado durante a vida, leva-nos a um lugar onde se reúnem todos os que têm de ser conduzidas ao Hades, para serem julgados. As almas, depois de haverem estado no Hades o tempo necessário, são reconduzidas a esta vida em múltiplos e longos períodos.
É a doutrina dos Anjos guardiães, ou Espíritos protetores, e das reencarnações sucessivas, em seguida a intervalos mais ou menos longos de erraticidade.
VI. Os demônios ocupam o espaço que separa o céu da Terra; constituem o laço que une o Grande Todo a si mesmo. Não entrando nunca a divindade em comunicação direta com o homem, é por intermédio dos demônios que os deuses entram em comércio e se entretêm com ele, quer durante a vigília, quer durante o sono.
A palavra daimon, da qual fizeram o termo demônio, não era, na antiguidade, tomada à má parte, como nos tempos modernos. Não designava exclusivamente seres malfazejos, mas todos os Espíritos, em geral, dentre os quais se destacavam os Espíritos superiores, chamados deuses, e os menos elevados, ou demônios propriamente ditos, que comunicavam diretamente com os homens. Também o Espiritismo diz que os Espíritos povoam o espaço; que Deus só se comunica com os homens por intermédio dos Espíritos puros, que são os incumbidos de lhe transmitir as vontades; que os Espíritos se comunicam com eles durante a vigília e durante o sono. Ponde, em lugar da palavra demônio, a palavra Espírito e tereis a doutrina espírita; ponde a palavra anjo e tereis a doutrina cristã.
VII. A preocupação constante do filósofo (tal como o compreendiam Sócrates e Platão) é, a de tomar o maior cuidado com a alma, menos pelo que respeita a esta vida, que não dura mais que um instante, do que tendo em vista a eternidade. Desde que a alma é, imortal, não será prudente viver visando a eternidade?

O Cristianismo e o Espiritismo ensinam a mesma coisa.

VIII. Se a alma é imaterial, tem de passar, após essa vida, a um mundo igualmente invisível e imaterial, do mesmo modo que o corpo, decompondo-se, volta à matéria, Muito importa, no entanto, distinguir bem a alma pura, verdadeiramente imaterial, que se alimente, como Deus, de ciência e pensamentos, da alma mais ou menos maculada de impurezas materiais, que a impedem de elevar-se para o divino e a retêm nos lugares da sua estada na Terra.
Sócrates e Platão, como se vê, compreendiam perfeitamente os diferentes graus de desmaterialização da alma. Insistem na diversidade de situação que resulta para elas da sua maior ou menor pureza. O que eles diziam, por intuição, o Espiritismo o prova com os inúmeros exemplos que nos põe sob as vistas. (O Céu e o Inferno, 2a Parte.)
IX. Se a morte fosse a dissolução completa do homem, muito ganhariam com a morte os maus, pois se veriam livres, ao mesmo tempo, do corpo, da alma e dos vícios. Aquele que guarnecer a alma, não de ornatos estranhos, mas com os que lhe são próprios, só esse poderá aguardar tranquilamente a hora da sua partida para o outro mundo.
Eqüivale isso a dizer que o materialismo, com o proclamar para depois da morte o nada, anula toda responsabilidade moral ulterior, sendo, conseguintemente, um incentivo para o mal; que o mau tem tudo a ganhar do nada. Somente o homem que se despojou dos vícios e se enriqueceu de virtudes, pode esperar com tranquilidade o despertar na outra vida. Por meio de exemplos, que todos os dias nos apresenta, o Espiritismo mostra quão penoso é, para o mau, o passar desta à outra vida, a entrada na vida futura. (O Céu e o Inferno, 2a Parte, cap. 1.)
X. O corpo conserva bem impressos os vestígios dos cuidados de que foi objeto e dos acidentes que sofreu. Dá-se o mesmo com a alma. Quando despida do corpo, ela guarda, evidentes, os traços do seu caráter, de suas afeições e as marcas que lhe deixaram todos os atos de sua visa. Assim, a maior desgraça que pode acontecer ao homem é ir para o outro mundo com a alma carregado de crimes. Vês, Cálicles, que nem tu, nem Pólux, nem Górgias podereis provar que devamos levar outra vida que nos seja útil quando estejamos do outro lado. De tantas opiniões diversas, a única que permanece inabalável é a de que mais vale receber do que cometer uma injustiça e que, acima de tudo, devemos cuidar, não de parecer, mas de ser homem de bem. (Colóquios de Sócrates com seus discípulos, na prisão.)
Depara-se-nos aqui outro ponto capital, confirmado hoje pela experiência: o de que a alma não depurada conserva as ideias, as tendências, o caráter e as paixões que teve na Terra. Não é inteiramente cristã esta máxima: mais vale receber do que cometer uma injustiça? O mesmo pensamento exprimiu Jesus, usando desta figura: “Se alguém vos bater numa face, apresentai-lhe a outra.” (Cap. XII, no 7 e no 8.)
XI. De duas uma: ou a morte é uma destruição absoluta, ou é passagem da alma para outro lugar. Se tudo tem de extinguir-se, a morte será como uma dessas raras noites que passamos sem sonho e sem nenhuma consciência de nós mesmos. Todavia, se a morte é apenas uma mudança de morada, a passagem para o lugar onde os mortos se têm de reunir, que felicidade a de encontrarmos lá aqueles a quem conhecemos! O meu maior prazer seria examinar de perto os habitantes dessa outra morada e distinguir lá, como aqui, os que são dignos dos que se julgam tais e não o são. Mas, é tempo de nos separarmos, eu para morrer, vós para viverdes. (Sócrates aos seus juizes.)
Segundo Sócrates, os que viveram na Terra se encontram após a morte e se reconhecem. Mostra o Espiritismo que continuam as relações que entre eles se estabeleceram, de tal maneira que a morte não é nem uma interrupção, nem a cessação da vida, mas uma transformação, sem solução de continuidade.
Houvessem Sócrates e Platão conhecido os ensinos que o Cristo difundiu quinhentos anos mais tarde e os que agora o Espiritismo espalha, e não teriam falado de outro modo. Não há nisso, entretanto, o que surpreenda, se considerarmos que as grandes verdades são eternas e que os Espíritos adiantados hão de tê-las conhecido antes de virem a Terra, para onde as trouxeram; que Sócrates, Platão e os grandes filósofos daqueles tempos bem podem, depois, ter sido dos que secundaram o Cristo na sua missão divina, escolhidos para esse fim precisamente por se acharem, mais do que outros, em condições de lhe compreenderem as sublimes lições; que, finalmente, pode dar-se façam eles agora parte da plêiade dos Espíritos encarregados de ensinar aos homens as mesmas verdades.
XII. Nunca se deve retribuir com outra uma injustiça, nem fazer mal a ninguém, seja qual for o dano que nos hajam causado. Poucos, no entanto, serão os que admitam esse principio, e os que se desentenderem a tal respeito nada mais farão, sem dúvida. do que se votarem uns aos outros mútuo desprezo.
Não está aí o princípio de caridade, que prescreve não se retribua o mal com o mal e se perdoe aos inimigos?
XII. É pelos frutos que se conhece a árvore. Toda ação deve ser qualificada pelo que produz: qualificá- la de má, quando dela provenha mal; de boa, quando dê origem ao bem.
Esta máxima: “Pelos frutos é que se conhece a árvore”, se encontra muitas vezes repetida textualmente no Evangelho.
XIV. A riqueza é um grande perigo. Todo homem que ama a riqueza não ama a si mesmo, nem ao que é seu; ama a uma coisa que lhe é ainda mais estranha do que o que lhe pertence. (Capítulo XVI.)
XV. As mais belas preces e os mais belos sacrifícios prazem menos à Divindade do que uma alma virtuosa que faz esforços por se lhe assemelhar. Grave coisa fora que os deuses dispensassem mais atenção às nossas oferendas, do que a nossa alma; se tal se desse, poderiam os mais culpados conseguir que eles se lhes tornassem propícios. Mas, não: verdadeiramente justos e retos só o são os que, por suas palavras e atos, cumprem seus deveres para com os deuses e para com os homens. (Cap. X, no 7 e no e 8.)
XVI. Chamo homem vicioso a esse amante vulgar, que mais ama o corpo do que a alma. O amor está par toda parte em a Natureza, que nos convida ao exercício da nossa inteligência; até no movimento dos astros o encontramos. É o amor que orna a Natureza de seus ricos tapetes; ele se enfeita e fixa morada onde se lhe deparem flores e perfumes. É ainda o amor que dá paz aos homens, calma ao mar, silêncio aos ventos e sono a dor.
O amor, que há de unir os homens por um laço fraternal, é uma consequência dessa teoria de Platão sobre o amor universal, como lei da Natureza. Tendo dito Sócrates que “o amor não é nem um deus, nem um mortal, mas um grande demônio”, isto é, um grande Espírito que preside ao amor universal, essa proposição lhe foi imputada como crime.
XVII. A virtude não pode ser ensinada; vem por dom de Deus aos que a possuem.
É quase a doutrina cristã sobre a graça; mas, se a virtude é um dom de Deus, é um favor e, então, pode perguntar-se por que não é concedida a todos. Por outro lado, se é um dom, carece de mérito para aquele que a possui. O Espiritismo é mais explícito, dizendo que aquele que possui a virtude a adquiriu por seus esforços, em existências sucessivas, despojando-se pouco a pouco de suas imperfeições. A graça é a força que Deus faculta ao homem de boa vontade para se expungir do mal e praticar o bem.
XVIII. É disposição natural em todos nós a de nos apercebermos muito menos dos nossos defeitos, do que dos de outrem.
Diz o Evangelho: “Vedes a palha que está no olho do vosso próximo e não vedes a trave que está no vosso.” (Cap. X, no 9 e no 10.)
XIX. Se os médicos são malsucedidos, tratando da maior parte das moléstias, é que tratam do corpo, sem tratarem da alma. Ora, não se achando o todo em bom estado, impossível é que uma parte dele passe bem.
O Espiritismo fornece a chave das relações existentes entre a alma e o corpo e prova que um reage incessantemente sobre o outro. Abre, assim, nova senda para a Ciência. Com o lhe mostrar a verdadeira causa de certas afecções, faculta-lhe os meios de as combater. Quando a Ciência levar em conta a ação do elemento espiritual na economia, menos freqüentes serão os seus maus êxitos.
XX. Todos os homens, a partir da infância, muito mais fazem de mal, do que de bem.
Essa sentença de Sócrates fere a grave questão da predominância do mal na Terra, questão insolúvel sem o conhecimento da pluralidade dos mundos e da destinação do planeta terreno, habitado apenas por uma fração mínima da Humanidade. Somente o Espiritismo resolve essa questão, que se encontra explanada aqui adiante, nos capítulos II, III e V.
XXI. Ajuizado serás, não supondo que sabes o que ignoras.
Isso vai com vistas aos que criticam aquilo de que desconhecem até mesmo os primeiros termos. Platão completa esse pensamento de Sócrates, dizendo: “Tentemos, primeiro, torná-los, se for possível, mais honestos nas palavras; se não o forem, não nos preocupemos com eles e não procuremos senão a verdade. Cuidemos de instruir-nos, mas não nos injuriemos.” E assim que devem proceder os espíritas com relação aos seus contraditores de boa ou má-fé. Revivesse hoje Platão e acharia as coisas quase como no seu tempo e poderia usar da mesma linguagem. Também Sócrates toparia criaturas que zombariam da sua crença nos Espíritos e que o qualificariam de louco, assim como ao seu discípulo Platão.
Foi por haver professado esses princípios que Sócrates se viu ridiculizado, depois acusado de impiedade e condenado a beber cicuta. Tão certo é que, levantando contra si os interesses e os preconceitos que elas ferem, as grandes verdades novas não se podem firmar sem luta e sem fazer mártires.
KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. FEB.

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