Ampare-nos Senhor!
“Senhor Jesus, que não caiamos sob o jugo de nossas fraquezas… Que possamos servir-te, sem que as nossas imperfeições Te desfigurem a mensagem! Que tomemos as decisões corretas para nós e para os outros, os nossos irmãos em Humanidade… Que não pensemos apenas no ganho material, no excesso de conforto e de dinheiro, olvidando os nossos deveres para com aqueles que sofrem… Cumpra-se em nós a Tua vontade, mas ampare-nos ainda para que saibamos qual ela seja…”
Livro: Orações de Chico Xavier
Carlos A. Baccelli.
Dor e Sofrimento
Sérgio Biagi Gregório
SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Conceito. 3. Histórico. 4. O Problema da Dor: 4.1. A Dor Segundo a Medicina; 4.2. Necessidade da Dor; 4.3. Repensando a Dor. 5. O Problema do Sofrimento: 5.1. Sofrimento Segundo a Medicina; 5.2. A Posição Religiosa; 5.3. Repensando o Sofrimento. 6. Dor, Sofrimento e Espiritismo: 6.1. As Aflições sob a Ótica Espírita; 6.2. Remorso, Arrependimento e Resgate; 6.3. Jugo Leve. 7. Conclusão. 8. Bibliografia Consultada.
1. INTRODUÇÃO
O que se entende por dor? E sofrimento? Há diferença entre dor e sofrimento? Como analisar a dor e o sofrimento sob o ponto de vista da Doutrina Espírita?
2. CONCEITO
Dor. Em sentido geral é a sensação desagradável e penosa, resultante de uma lesão, contusão, ferimento ou funcionamento anômalo de um órgão. Por extensão, o termo se aplica a sentimentos de tristeza, mágoa, aflição, pesar, que podem repercutir de maneira mais ou menos intensa sobre o organismo, causando mal-estar.
Sofrimento. É a dor física ou moral. Quando enfrentado pelo indivíduo com coragem e resignação torna-se fator de aperfeiçoamento espiritual, capaz de conduzir ao heroísmo e à santidade. (Pequena Enciclopédia de Moral e Civismo)
3. HISTÓRICO
Os papiros do Egito e os documentos da Pérsia e da Grécia antiga descrevem não só a ocorrência da dor como também o desenvolvimento de medidas visando seu controle. Nos túmulos dos antepassados foram encontrados diversos apetrechos visando à cura da dor.
Na antiguidade, atribuía-se a dor aos maus espíritos. Dado o caráter religioso da dor, a Medicina era exercida por sacerdotes, que empregavam remédios naturais, sacrifício e prece para aliviar a dor.
Ao observar que os animais banhavam-se com barro para proteger-se das picadas dos insetos e os cachorros purgavam-se comendo plantas e raízes, o ser humano começou a usar os vegetais como os primeiros instrumentos analgésicos.
Os rituais, o uso de plantas medicinais, as manipulações físicas, a aplicação de calor, frio ou fricção do passado ainda continuam a ser utilizados. Hoje, porém, temos um maior acervo de pesquisas científicas, inclusive com a aplicação do lazer.
4. O PROBLEMA DA DOR
4.1. A DOR SEGUNDO A MEDICINA
De acordo com a medicina, a dor tem duas características importantes: a) fenômeno dual, em que de um lado está a percepção da sensação e, do outro, a resposta emocional do paciente a ela; b) dor sentida como aguda. Nesse caso, ela pode ser passageira ou crônica (persistente). O combate à dor física é feito com diagnósticos, exames, remédios e cirurgias auxiliadas pelas modernas técnicas computadorizadas.
4.2. NECESSIDADE DA DOR
A dor física anuncia que algo em nós não vai bem e precisa de melhora. Embora sempre queiramos fugir dela, ela nos oferece a oportunidade de reflexão — volta para o nosso interior —, objetivando o conhecimento de nós mesmos.
Dada a grande coerência da dor, tanto sofrem os grandes gênios e como as pessoas mais apagadas. Nesse sentido, observe o sofrimento anônimo daqueles que dão exemplo de santidade aos que lhe sentem os efeitos, mesmos ocultos e sigilosos.
A dor não é castigo: é contingência inerente à vida, cuja atuação enobrece o espírito.
4.3. REPENSANDO A DOR
A “dor é uma benção que Deus envia aos seus eleitos”. É aguilhão, forja, fornalha, lapidaria, crisol e rútila. É agente de progresso, moeda luminosa, “lixívia que saneia e embranquece a alma enodoada pelos mais hediondos crimes”. É “agente de fixação, expondo-nos a verdadeira fisionomia moral”. É “valioso curso de aprimoramento para todos os aprendizes da escola humana”. É “o instrumento invisível que Deus utiliza para converter-nos, a pouco e pouco, em falenas de luz”. É “nossa companheira – lanterna acesa em escura noite – guiando-nos, de retorno, à Casa do Pai Celestial”. (Equipe Feb, 1995)
5. O PROBLEMA DO SOFRIMENTO
5.1. SOFRIMENTO SEGUNDO A MEDICINA
A dor é fisiológica; o sofrimento, psicológico. O sofrimento é um conceito mais abrangente e complexo do que a dor. Em se tratando de uma doença, é o sentimento de angústia, vulnerabilidade, perda de controle e ameaça à integridade do eu. Pode existir dor sem sofrimento e sofrimento sem dor. O sofrimento, sendo mais vasto, é existencial. Ele inclui as dimensões psíquicas, psicológicas, sociais e espirituais do ser humano. A dor influi no sofrimento e o sofrimento influi na dor.
5.2. A POSIÇÃO RELIGIOSA
A simples reflexão sobre a dor e o sofrimento basta para evidenciar que eles têm uma razão de ser muito profunda. A dor é um alerta da natureza, que anuncia algum mal que está nos atingindo e que precisamos enfrentar. Se não fosse a dor sucumbiríamos a muitas doenças sem sequer nos dar conta do perigo. O sofrimento, mais profundo do que a simples dor sensível e que afeta toda a existência, também tem a sua razão de ser. É através dele que o homem se insere na vida mística e religiosa. Por mais real que seja a razão de um sofrimento, não basta apenas a coragem para enfrentá-lo; necessitamos também do estímulo místico, ou seja, da religião. (Idígoras, 1983)
5.3. REPENSANDO O SOFRIMENTO
“O sofrimento é inerente ao estado de imperfeição, mas atenua-se com o progresso e desaparece quando o Espírito vence a matéria”. “O sofrimento é um meio poderoso de educação para as Almas, pois desenvolve a sensibilidade, que já é, por si mesma, um acréscimo de vida”. “O sofrimento é o misterioso operário que trabalha nas profundezas de nossa alma, e trabalha por nossa elevação”. “Em todo o universo o sofrimento é sobretudo um meio educativo e purificador”. “O primeiro juiz enviado por Deus é o sofrimento, que procura despertar a consciência adormecida”. “É apelo à ascensão. Sem ele seria difícil acordar a consciência para a realidade superior. Aguilhão benéfico, o sofrimento evita-nos a precipitação nos despenhadeiros do mal, auxilia-nos a prosseguir entre as margens do caminho, mantendo-nos a correção necessária ao êxito do plano redentor”. (Equipe Feb, 1995)
6. DOR, SOFRIMENTO E ESPIRITISMO
6.1. AS AFLIÇÕES SOB A ÓTICA ESPÍRITA
A noção de castigo está relacionada com a ofensa a Deus. Dependendo do grau da ofensa, o castigo pode ser eterno. Ao ofender a Deus, o crente sofre e, com isso, a sua vida se torna um vale de lágrimas. O Espiritismo, ao contrário, ensina-nos que todos os nossos sofrimentos estão afeitos à lei de ação e reação. Allan Kardec, no cap. V de O Evangelho Segundo o Espiritismo, trata do problema das aflições, mostrando-nos a sua justiça. Fala-nos das causas atuais e anteriores das aflições, do suicídio, do bem e mal sofrer, da perda de pessoas amadas, dos tormentos voluntários etc. Estudando pormenorizadamente este capítulo vamos aprendendo que Deus, inteligência suprema e causa primária de todas as coisas, deixa sempre uma porta aberta ao arrependimento e o ressarcimento da falta cometida.
6.2. REMORSO, ARREPENDIMENTO E RESGATE
É da Lei Divina que o ser humano receba, em si mesmo, o que plantou, nesta ou em outras encarnações. A lei de causa e efeito nos mostra que tudo o que fizermos de errado nesta ou em outras vidas deve ser reparado. O primeiro passo é o remorso. O remorso é um estado de alma que nos faz remoer o que fizemos de errado, mostrando as nossas falhas e os nossos deslizes com relação à lei natural. O arrependimento, que vem em seguida, torna-nos mais humildes e mais obedientes a Deus. Depois de remoída e arrependida, a falta deve ser reparada, por isso o resgate. Remorso, arrependimento e resgate fecham o ciclo de uma determinada dor, de um determinado sofrimento. Embora possamos receber ajuda externa (por exemplo, de um mentor espiritual), a solução está dentro de nós mesmos, pois implica determinação na mudança de atitude e comportamento.
6.3. JUGO LEVE
Allan Kardec, no cap. VI de O Evangelho Segundo o Espiritismo, diz-nos que todos os sofrimentos, misérias, decepções, dores físicas, perda de entes queridos encontram sua consolação na fé no futuro, na confiança na justiça de Deus, que o Cristo veio ensinar aos homens. Naquele que não crê na vida futura as aflições se abatem com todo o seu peso, e nenhuma esperança vem suavizar-lhe a amargura. O jugo será leve desde que obedeçamos à lei. Mas, que lei? A lei áurea deixada por Jesus: “Fazer aos outros o que gostaríamos que nos fosse feito”. Praticando-a, vamos atualizando as nossas potencialidades de justiça, amor e caridade, primeiramente com relação a Deus e, secundariamente, com relação a nós mesmos e ao nosso próximo.
7. CONCLUSÃO
O Espiritismo é o “Consolador” prometido por Jesus. Meditando sobre os seus princípios, vamos construindo um edifício sólido, alicerçado na fé raciocinada, ou seja, na fé que usa o sentimento, mas preponderantemente a razão.
8. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
ÁVILA, F. B. de S.J. Pequena Enciclopédia de Moral e Civismo. Rio de Janeiro: M.E.C., 1967.
KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 39. ed. São Paulo: IDE, 1984.
IDÍGORAS, J. L. Vocabulário Teológico para a América Latina. São Paulo: Paulinas, 1983.
EQUIPE DA FEB. O Espiritismo de A a Z. Rio de Janeiro: FEB, 1995.
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