Deus te vê, alma querida, Quando te pões na trilha escura, Para ajudar aos filhos da amargura Que tanta vez se vão Como sombras errantes no caminho — Chagas pensantes ao relento —, Entre as nuvens do Pó e as pancadas do Vento, Com saudades do Pão…
Deus te vê a mensagem de bondade Com que suprimes ou reduzes As provações, as lágrimas e as cruzes Dos que vagam na rua sem ninguém, E te agradece as posses que desprendes, No auxílio ao companheiro em desamparo, Seja um tesouro inesperado e raro, Seja um simples vintém!…
Deus te vê quando estendes braço amigo Aos que carregam lenhos de tristeza, Doando-lhes o afeto, o abrigo, a mesa, O remédio, a camisa, o cobertor… E, por altos recursos sem que o saibas, Manda que a Lei te aumente os dons divinos, Em mais belos destinos, Para a glória do amor.
Deus te vê na palavra com que ensinas A senda clara e boa Da verdade que alenta e que abençoa Sem perturbar e sem ferir… E determina aos homens que teu verbo Seja apoiado, aceito E ouvido com respeito, Na construção excelsa do porvir.
Deus te vê quando acolhes sem revide O golpe da pedrada que te insulta, O braseiro da ofensa, a dor oculta Em ferida mortal… E te louva o perdão espontâneo e sincero Com que ajudas o Céu no trabalho fecundo De extinguir sem alarde, entre as sombras do mundo, A presença do mal!…
Deus te vê, através da caridade!… Mas não só isso… Em paz calada e santa, Pede alguém que te siga e te garanta Na jornada de luz!… E, por isso, onde estás, rujam trevas em torno, Sofras humilhação, injúria, cativeiro, Tens contigo um sublime companheiro: — Nosso Amado Jesus!
Do livro Antologia da Espiritualidade, de Maria Dolores,
obra psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier.
Amparo Oculto
Não lamentes, alma boa, Contratempo que aconteça, Que a luta não te esmoreça Nada existe sem valor; Aquilo que te parece Um desencanto de vulto É sempre socorro oculto Que desponta em teu favor.
Uma viagem frustrada, Uma festa que se adia, Uma palavra sombria Que encerra uma diversão; O desajuste num carro, Um desgosto pequenino, Alteram qualquer destino Em forma de salvação.
Não chores por bagatelas, Guarda a fé por agasalho, Deus te defende o trabalho, Atuando em derredor; Contrariedades no tempo, Quase sempre, em maioria, É amparo que o Céu te envia Por bênção do mal menor.
Pelo Espírito Maria Dolores
XAVIER, Francisco Cândido. Canteiro de Ideias.
Espíritos Diversos. IDEAL.
BIOGRAFIA DE MARIA DOLORES
Maria de Carvalho Leite, a conhecida Maria Dolores no Espiritismo, renasceu em Bonfim da Feira (Bahia) em 10 de setembro de 1901 e desencarnou, vitimada por pneumonia, em 27 de julho de 1958; teve três irmãos e duas irmãs; seus pais terrestres foram Hermenegildo Leite e Balmina de Carvalho Leite.
Maria Dolores, também chamada de Madô e de Mariinha, diplomou-se professora em 1916 e lecionou no Educandário dos Perdões e no Ginásio Carneiro Ribeiro, ambos em Salvador – Bahia; durante sua vida dedicou-se à Arte Poética e foi redatora-chefe, durante 13 anos, da página feminina do Jornal O Imparcial, além de colaborar no Diário de Notícias e nO Imparcial: sua produção poética foi reunida no livro Ciranda da Vida cujos recursos financeiros foram destinados à instituição Lar das Meninas sem Lar.
Casada com o médico Odilon Machado, após anos de sofrimento conjugal, desquitou-se sem ter filhos do próprio ventre; talvez por isso dedicou-se ao Lar das Meninas sem Lar, amparando crianças de outras mães, chegando, inclusive, a abrigar crianças em sua própria casa.
Posteriormente ao desquite e residindo em Itabuna – Bahia, conheceu o italiano Carlos Carmine Larocca, radicado no Brasil, e com ele constituiu novo lar.
Ainda em Itabuna, adotou por filha, em 1936, Nilza Yara Larocca; em 1947 mudou-se para Salvador com o novo companheiro e ajudando-o na administração do Café Baiano e da tipografia A Época, ambos de sua propriedade.
Em Salvador, adotou por filhas Maria Regina e Maria Rita (1954), Leny e Eliene (1956) e Lisbeth (1958).
Maria Dolores foi membro da Legião da Boa Vontade a quem prestou serviços de beneficência, partilhando seus dons de pianista, pintora, costureira e dedicada à arte culinária.
Maria Dolores também foi colaboradora ativa da obra de Divaldo Pereira Franco: em 15 de agosto de 1952 foi fundada a Mansão do Caminho, sendo que algumas das primeiras louças e talheres foram por ela doadas, além de trabalhar voluntariamente na Mansão, incluindo-se a confecção de cartões de Natal, pintados por suas mãos para serem vendidos em benefício daquela Casa.
A partir do ano de 1971 e na condição de espírito livre tornou-se ativa escritora através da mediunidade de Francisco Cândido Xavier: contos em versos, poemas e trovas.
A relação de suas obras individuais recebidas por Chico Xavier e publicadas por várias editoras espíritas do país é a seguinte: -Antologia da Espiritualidade, publicada pela Federação Espírita Brasileira em 1971; -Maria Dolores, publicada pelo Instituto Divulgação Editora André Luiz (IDEAL) em 1977; -Coração e Vida, publicada pelo IDEAL em 1978; -A Vida Conta, publicada pela Cultura Espírita União (CEU) em 1980; -Caminhos do Amor, publicada pela CEU em 1983; -Alma e Vida, publicada pela CEU em 1984; -Dádivas de Amor, publicada pelo IDEAL em 1990.
Em várias obras mistas, em prosa e verso, de Chico Xavier existem dezenas de produções poéticas de Maria Dolores, sobretudo com temáticas para o Natal e dia das Mães: escreveu o livro mediúnico Somente Amor em parceria com o espírito MEIMEI e publicado pelo IDEAL no ano de 1978.
Em vários livros psicografados por Chico Xavier tem-se o acerco de 18 trovas escritas por Maria Dolores:
–duas em Chão de Flores, publicado pelo IDEAL em 1975; -uma em Notícias do Além publicado pelo Instituto de Difusão Espírita (IDE) em 1980; –uma em Praça da Amizade, publicado pela Cultura Espírita União (CEU), em 1982; –uma em Recados da Vida, publicado pelo GEEM em 1983; –três em Os Dois Maiores Amores, publicado pela CEU em 1983; -uma em Sementes de Luz, publicado pelo IDEAL em 1987; –duas em Roseiral de Luz, publicado pela União Espírita Mineira em 1988; –duas em Pétalas da Primavera, publicado pela União Espírita Mineira em 1990; -uma em Fulgor no Entardecer, publicado pela União Espírita Mineira em 1991; –uma em Uma Vida de Amor e Caridade publicado pela Editora Fonte Viva em 1992; –três em Preito de Amor, publicado pelo Grupo Espírita Emmanuel S/C Editora (GEEM) em 1993.
De 1971 a 2002 foram trinta e um anos em que Maria Dolores esteve associada ao mandato mediúnico de Chico Xavier: suas obras mediúnicas e individuais ultrapassam o número expressivo de 180 mil exemplares vendidos.
Prefaciando suas obras mediúnicas individuais, o espírito Emmanuel assim qualifica Maria Dolores: “denodada obreira do Bem Eterno”, “intérprete de Jesus”, “alma abnegada de irmã”, “irmã querida”, “poetisa da vida”, “Mensageira da Espiritualidade”, “devotada Seareira do Bem”, “irmã e companheira nas tarefas da Vida Maior”, “nossa irmã e benfeitora”, “Poetisa da Espiritualidade Superior”.
As criações poéticas de Maria Dolores, sob as formas de poemas e trovas, não fazem apologia da arte pela arte; pelo contrário, sua finalidade político-pedagógica é traduzir observações e vivências na “exaltação do Bem sob o patrocínio de Jesus” e contribuir para a sublimação dos sentimentos humanos.
DIVINA SURPRESA
Alma fraterna e boa, Se o impulso da prece te abençoa, Quando queiras orar, Buscando segurança no Senhor, Faze em qualquer lugar O teu louvor ou a tua petição!…
A Terra inteira é um templo Aberto à inspiração Que verte das Alturas, Mas, se quiseres encontrar O mestre que procuras, Atende, alma querida!… Desce ao vale de lágrimas da vida, A imensa retaguarda Onde o consolo tarda… Ouve a dor da penúria e o pranto da viuvez, Volve à sombra das margens do caminho E estende o braço forte Aos que vagam sem norte, Na saudade do lar que se desfez!…
Escuta os que se vão À noite, ao frio e ao vento, Sem poderem contar o próprio sofrimento, Famintos de carinho e compreensão…
Pára e abraça a criança Que o desprezo consome E a doença extermina, Pára e ausenta a nudez, a febre e a fome Dessa flor pequenina!
Ouve o coro do enfermo que não tem Senão pó, lama e lágrimas por leito E, à guisa de aposento, um canto estreito Na terra de ninguém.
Atentamente, anota em torno os brados De quem conhece a mágoa no apogeu, Os tristes corações despedaçados Que a calúnia venceu…
Vais onde exista aflição, Oferecendo a cada sofredor Uma bênção de amor, E, aí, surpreenderás um divino clarão Que, dúlcido, irradia Paz, bondade, alegria…
Em meio dessa luz, Escutarás Jesus, Enternecidamente, A dizer-te no fundo da alma carente:
– Alma querida vem!… Ouço-te a voz na prece, em qualquer parte, Devo, entanto, esperar-te Na seara do bem. Chamaste-me, decerto, Para saber que Deus ama e compreende em ti!… Buscavas-me tão longe e aguardo-te tão perto… Alma boa, eis-me aqui!…
Por: Maria Dolores, Do livro: Antologia da Espiritualidade, Médium: Francisco Cândido Xavier
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