É o Espírito que Ama e não o Corpo – L.E.

É o Espírito que Ama e não o Corpo

Filiação e Parentesco

Os pais transmitem aos filhos uma porção da sua alma, ou se limitam a dar-lhes a vida animal a que uma nova alma, mais tarde, vem adicionar a vida moral?
A vida animal somente, porque a alma é indivisível. Um pai estúpido pode ter filhos inteligentes, e vice-versa.
Uma vez que temos tido várias existências, a parentela remonta além da nossa existência atual?
Não pode ser de outra forma. A sucessão das existências corporais estabelece entre os Espíritos laços que remontam às existências anteriores. Daí, muitas vezes, decorem as causas da simpatia entre vós e certos Espíritos que vos parecem estranhos.
Na opinião de certas pessoas, a doutrina da reencarnação parece destruir os laços de família fazendo-os remontar às existências anteriores.
Ela os estende, mas não os destrói. A parentela, estando baseada sobre as afeições anteriores, os laços que unem os membros de uma família são menos precários. Ela aumenta os deveres da fraternidade, visto que, entre os vizinhos ou entre os servidores, pode se encontrar um Espírito que esteve ligado a vós pelos laços consanguíneos.
Ela diminui, entretanto, a importância que alguns dão à sua genealogia, visto que, pode ter por pai um Espírito pertencente a outra raça e vindo de uma condição diferente?
É verdade, mas essa importância se baseia no orgulho; o que a maioria honra em seus ancestrais, são os títulos, posição e fortuna. Alguém que coraria por ter como antepassado um honesto sapateiro, se gabaria de descender de um gentil-homem debochado. Mas o que quer que digam ou façam, não impedirão que as coisas sejam como são, porque Deus não regulou as leis da Natureza pela sua vaidade.

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Semelhanças físicas e morais

Os pais transmitem, frequentemente, aos filhos uma semelhança física. Transmitem também uma semelhança moral?
Não, uma vez que têm alma ou Espírito diferentes. O corpo procede do corpo, mas o Espírito não procede do Espírito. Entre os descendentes das raças não há senão consanguinidade.
De onde provêm as semelhanças morais que existem, algumas vezes, entre pais e filhos?
São Espíritos simpáticos, atraídos pela semelhança de suas tendências.
Os Espíritos dos pais não exercem influência sobre o filho, depois do nascimento?
Uma influência muito grande; como dissemos, os Espíritos devem concorrer para o progresso uns dos outros. Muito bem! Os Espíritos dos pais têm por missão desenvolver os dos seus filhos pela educação; é para eles uma tarefa: se falharem, serão culpados.
Por que de pais bons e virtuosos nascem filhos de natureza perversa? Melhor dizendo, por que as boas qualidades dos pais não atraem sempre, por simpatia, um bom Espírito para lhes animar o filho?
Um mau Espírito pode pedir pais bons, na esperança de que seus conselhos o encaminhem para um caminho melhor e, frequentemente, Deus lho concede.
Podem os pais, por seus pensamentos e preces, atrair para o corpo do filho um bom Espírito, de preferência a um Espírito inferior?
Não, mas podem melhorar o Espírito do filho a que deram nascimento e que lhes foi confiado; é seu dever. Os maus filhos são uma prova para os pais.
De onde provêm a semelhança de caráter que existe, muitas vezes , entre dois irmãos, sobretudo se gêmeos?
São Espíritos simpáticos que se aproximam pela semelhança de seus sentimentos e que são felizes por estarem juntos.
Nas crianças em que os corpos estão ligados e que têm certos órgãos em comum, existem dois Espíritos, melhor dizendo, duas almas?
Sim, mas sua semelhança, frequentemente, faz com que pareçam apenas um, aos vossos olhos.
Visto que os Espíritos encarnam como gêmeos por simpatia, de onde vem a aversão que se vê, algumas vezes, entre estes últimos?
Não é uma regra que os gêmeos sejam Espíritos simpáticos; maus Espíritos podem querer lutar juntos no teatro da vida.
Que pensar nas histórias de crianças que se agridem no ventre materno?
Lendas! Para exemplificar que seu ódio era inveterado, fizeram-no presente antes do nascimento. Geralmente, não levais em conta as figuras poéticas.

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Amor maternal e filial

O amor maternal é uma virtude ou um sentimento instintivo comum aos homens e aos animais?
É uma e outra coisa. A Natureza deu à mãe o amor pelos filhos no interesse de sua conservação. Mas entre os animais esse amor é limitado às necessidades materiais e cessa quando os cuidados tornam-se inúteis. Entre os homens ele persiste por toda a vida, e comporta um devotamento e uma abnegação que são da virtude. Sobrevive mesmo à morte e segue o filho além do túmulo. Bem vedes que há nele outra coisa mais do que no animal.
Visto que o amor maternal está na Natureza, por que há mães que odeiam os filhos, e isso desde o seu nascimento?
Algumas vezes, é uma prova escolhida pelo Espírito do filho, ou uma expiação se ele mesmo foi mau pai ou mãe má ou mau filho, numa outra existência. Em todos os casos, a mãe má não pode ser animada senão por um mau Espírito que se esforça por dificultar a existência do filho, a fim de que ele sucumba sob as provas que aceitou; mas esta violação das leis da Natureza não ficará impune, e o Espírito do filho será recompensado pelos obstáculos que haja superado.
Quando os pais têm filhos que lhes causam desgostos não são escusáveis por não terem para com eles a ternura que o teriam em caso contrário?
Não, porque é um fardo que lhes é confiado, e sua missão é a de fazer todos os esforços para os reconduzir ao bem. Mas esses desgostos são frequentemente, o resultado dos maus costumes que os deixaram tomar desde o berço: colhem, então, o que semearam.

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Uniões antipáticas

Visto que os Espíritos simpáticos são levados a unir-se, como se dá que, entre os Espíritos encarnados, a afeição não esteja, frequentemente, senão de um lado, e que o amor mais sincero seja recebido com indiferença e mesmo repulsa? Como, de outra parte, a afeição mais viva de dois seres pode mudar em antipatia e, algumas vezes, em ódio?
Não compreendeis, pois que é uma punição, mas que não é senão passageira. Aliás, quantos há que não creem amar perdidamente, porque não julgam senão sobre as aparências, e quando são obrigados a viver com as pessoas, não tardam a reconhecer que isso não é senão uma admiração material. Não basta estar enamorado de uma pessoa que vos agrada e a quem creiais de belas qualidades; é vivendo realmente com ela que podereis apreciá-la. Quantas também não há dessas uniões que, no início, parecem não dever jamais ser simpáticas, e quando um e outro se conhecem bem e se estudam bem, acabam por se amar com um amor terno e durável, porque repousa sobre a estima! É preciso não esquecer que o Espírito que ama e não o corpo, e, quando a ilusão material se dissipa, o Espírito vê a realidade.
Há duas espécies de afeições: a do corpo e a da alma e, frequentemente, se toma uma pela outra. A afeição da alma, quando pura e simpática, é durável; a do corpo é perecível. Eis porque, frequentemente, aqueles que creem se amar, com um amor eterno, se odeiam quando a ilusão termina.
A falta de simpatia entre os seres destinados a viver juntos, não é igualmente uma fonte de desgostos tanto mais amarga quanto envenena toda a existência?
Muito amargas, com efeito. Mas é uma dessas infelicidades das quais, frequentemente, sois a primeira causa. Primeiro, são vossas leis que são erradas. Por que crês que Deus te constrange a ficar com aqueles que te descontentam? Aliás, nessas uniões, frequentemente, procurais mais a satisfação do vosso orgulho e da vossa ambição do que a felicidade de uma afeição mútua; suportareis, nesse caso, a consequência dos vossos preconceitos.
Mas, nesse caso, não há quase sempre uma vítima inocente?
Sim, e é para ela uma dura expiação; mas a responsabilidade de sua infelicidade recairá sobre aqueles que lhe foram a causa. Se a luz da verdade penetrou sua alma, ela terá sua consolação em sua fé no futuro. De resto, à medida que os preconceitos se enfraquecerem, as causas de suas infelicidades íntimas desaparecerão também.

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Laços de Família

Por que, entre os animais, os pais e os filhos não se reconhecem mais, logo que estes não têm mais necessidade de atenções?
Os animais vivem da vida material e não da vida moral. A ternura da mãe por seus pequenos tem por princípio o instinto de conservação dos seres aos quais ela deu à luz. Quando esses podem bastar a si mesmos, sua tarefa está cumprida e nada mais lhe pede a Natureza. Por isso, ela os abandona para se ocupar com os recém-vindos.
Há pessoas que inferem, no abandono dos pequenos animais pelos pais, que, entre os homens, os laços de família não são mais que um resultado dos costumes sociais e não uma lei natural; que devemos pensar disso?
O homem tem destinação diversa da dos animais. Por que, pois, sempre querer identificá-lo com eles? Nele há outra coisa além da necessidade física: há a necessidade do progresso. Os laços de família estreitam os laços sociais. Eis aqui porque os laços de família são uma lei natural. Deus quis que os homens aprendessem assim a amar-se como irmãos.
Qual seria para a sociedade o resultado do relaxamento dos laços de família?

Uma recrudescência do egoísmo.

A vida social está na Natureza?
Certamente. Deus fez o homem para viver em sociedade. Deus não deu inutilmente ao homem a palavra e todas as outras faculdades necessárias à vida de relação.
O isolamento absoluto é contrário à lei natural?
Sim, visto que os homens procuram a sociedade por instinto, e que devem concorrer para o progresso, ajudando-se mutuamente.
O homem, procurando a sociedade, não faz senão obedecer a um sentimento pessoal, ou há nesse sentimento um objetivo providencial mais geral?
O homem deve progredir. Sozinho, ele não pode porque não tem todas as faculdades; é-lhe preciso o contato dos outros homens. No isolamento, ele se embrutece e se debilita.
Nenhum homem tem as faculdades completas. Pela união social, eles se completam uns pelos outros para assegurar seu bem-estar e progredir. Por isso, tendo necessidade uns dos outros, são feitos para viver em sociedade e não isolados.
Livro dos Espíritos – Allan Kardec

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