
O Espírito de Verdade,
numa visão nova e esclarecedora é em sua evidência
o progresso humano.
Vera Jacubowski
Aperfeiçoamento Espiritual
“Lembra-te de que a vida é curta. Enquanto ela durar, esforça-te por adquirir o que vieste procurar neste mundo: o verdadeiro aperfeiçoamento. Possa teu ser espiritual daqui sair melhor e mais puro do que quando entrou! Acautela-te das armadilhas da carne; reflete que a Terra é um campo de batalha onde a alma é a todo momento assaltada pela matéria e pelos sentidos. Luta corajosamente contra as paixões vis; luta pelo Espírito e pelo coração; corrige teus defeitos, adoça teu caráter, fortifica tua vontade. Eleva-te, pelo pensamento, acima das vulgaridades terrestres;dilata as tuas aspirações sobre o céu luminoso.”
Léon Denis
(in “Depois da Morte”, 1897 – Conclusão – Editora FEB)
VENDILHÕES EXPULSOS DO TEMPLO
Queridas irmãs e irmãos é com muita alegria, grande alegria, que voltamos aqui para comentar sobre as passagens evangélicas. Comentar sobre os ensinamentos de Jesus é falar de Amor e Caridade. Esta passagem evangélica foi anotada por dois evangelistas – Marcos e Mateus, e não tem muita divergência entre as anotações. Sendo esse um ponto que os incrédulos aproveitam para denegrir a imagem de Jesus como um alienado, um lunático, um revoltado, que se encolerizava por quase nada.
Na verdade Jesus tinha zelo pelo Templo – a casa de Deus. Os mercadores estavam profanando um lugar sagrado e abusando da dedicação das pessoas fiéis a Deus. Quem poderia encontrar paz para orar a Deus com o barulho ensurdecedor de um mercado? Pior, depois de ter sido extorquido? Qualquer pessoa temente a Deus iria ficar zangada. Jesus tinha todo direito de reagir assim. Quando os judeus lhe interrogaram qual era Sua autoridade para expulsar os mercadores, Jesus profetizou que iria morrer e ressuscitar, provando que Ele era o Filho de Deus. (João 2 : 18-21). O Templo era a casa do Seu Pai e Ele tinha o direito e a responsabilidade de colocá-lo em ordem. Como temos pouca literatura sobre o assunto, buscamos pesquisar na internet para trazer a vocês um estudo o mais próximo à realidade dos fatos na época.
Em um filme antigo encontramos: Depois de Sua entrada triunfal em Jerusalém, Jesus subiu ao Templo. E viu muitas pessoas no pátio do Templo comprando e vendendo animais, trocando moedas. Zangado, Jesus derrubou mesas, empurrou comerciantes e com um chicote expulsou animais. (Marcos 11:15-16). Os chefes dos sacerdotes ficaram muito irritados com a atitude de Jesus, mas não puderam fazer nada, porque Ele tinha o apoio do povo. Jesus explicou por que expulsou os mercadores do Templo. Aquele deveria ser um local consagrado a prece, um lugar especial, onde as pessoas pudessem orar em paz. Mas os comerciantes estavam tornando o Templo em um ambiente barulhento (Lucas 19:46). Perguntamos: seria esse o comportamento do Cristo que conhecemos Sua história? O meigo Rabi da Galileia? O Cristo que perdoa a mulher adultera? Que cura cegos, paralíticos? O Cisto que fala de um Pai que ama e perdoa incondicionalmente seus filhos? Esse seria o comportamento do Messias?
Queremos lembrar que as anotações feitas pelos evangelistas ocorreram muito tempo depois da passagem de Jesus para o Mundo Espiritual, pode ser que não tenham sido anotadas exatamente como aconteceram. É bom lembrar que a língua que Jesus falava era o aramaico, houve várias traduções dos textos bíblicos do aramaico para o hebraico e para outras línguas, pode ser que algum tradutor ou copista cometeu algum tipo de erro, esse erro foi copiado por outros tradutores e repetido até os dias de hoje.
Vamos lembrar que o povo judeu era um povo carente, muito simples, sem cultura, pouco letrado, muitos não tinham nem mesmo o domínio da leitura e escrita, por isso a necessidade dos “doutores da Lei”, para interpretarem os manuscritos e as escrituras sagradas – a torá. Em um estudo de Aroldo Dutra Dias, sobre esta passagem evangélica ele fala sobre as “profecias mímicas” como uma das formas de gênero literário muito usado pelos judeus. As “profecias mímicas” são encenações teatrais, muito comuns para facilitar a compreensão de um quadro ou acontecimento; assim como Jesus utilizou-se das parábolas para facilitar a compreensão da sua mensagem, usavam-se também as “profecias mímicas” com a mesma finalidade, encenar ou dramatizar para demonstrar a realidade de um acontecimento ou fato.
Vamos volver à história da época, para entendermos melhor esta passagem evangélica. Quando falamos do Templo de Jerusalém imaginamos uma igrejinha no centro de uma praça, a sua volta animais, mercadores e cambistas com suas bancas trocando moedas. Em certo momento entra Jesus quebrando mesas, empurrando pessoas e chicoteando animais. Só que o Templo de Jerusalém era o local mais sagrado para o povo israelita e judeu.
A ordem para a construção do templo foi dada em 1015 a.C. pelo Rei Davi. As fundações do templo foram lançadas em 21 de maio de 1012 a.C.. A Construção terminou no ano 1005 a.C.. Ele foi construído sobre o Monte Moriá, onde Abraão ofereceu seu filho Isaque em sacrifício a Deus. No local primeiro construiu-se o “Tabernáculo Sagrado” que foi destruído, no mesmo local foi construído o Templo de Jerusalém. Para a construção do Templo utilizou-se a mão de obra direta e indireta de mais de 180 mil operários entre carpinteiros, pedreiros, lapidadores de pedras, mestres de obras e gerentes.
Por ser um local sagrado para os judeus, quando se queria atacar os judeus, atacava-se o Templo de Jerusalém. Ele foi destruído e reconstruído por várias vezes. E por fim no ano 18 a.C. o Rei Herodes – O Grande propôs a reconstrução dele para ganhar o apoio dos hebreus, terminando sua obra no ano 65 da era Cristã. Novamente no ano 70 dC o Templo foi destruído com a tomada da cidade de Jerusalém pelo comandante Tito (que mais tarde tornou-se Imperador Romano), restando somente o seu muro, hoje o Muro das Lamentações; local de peregrinação para o povo israelita e judeu.
O Templo de Jerusalém era uma obra faraônica, gigantesca para época, ele possuía capacidade para mais de 20 mil pessoas, seu interior era divido em castas – os ricos, os sacerdotes, os doutores da lei, os mercadores, os artesãos… Assim por diante, cada uma das alas recebia o acabamento segundo a preferência e as posses de cada casta – algumas eram acabadas em mármore e ouro. Logo, em Jerusalém tudo girava em torno do Templo, para se ter uma ideia ele possuía guarda própria com mais de mil soldados, e ao seu lado foi construído um forte que recebeu o nome de “Torre Antônia” onde os centuriões faziam a segurança do forte e de toda região em torno do Templo.
Os mercadores ocupavam o átrio dos gentios – a entrada do Templo. Com autorização dos sacerdotes e doutores da Lei, ali eles trocavam moedas, vendiam bois, carneiros, pombos… Que eram oferecidos em sacrifício pela remissão dos pecados de seus frequentadores, segundo as posses e os pecados de cada um. Os pombos eram libertados toda vez que se apresentava uma criança ao Templo, era a tradição todo recém nascido deveria ser apresentado ao Templo. Certamente mesmo Jesus foi apresentado ao Templo quando criança, pelos seus pais – Maria e José.
Os cambistas tinham suas bancas onde trocavam moedas estrangeiras, uma vez que toda oferenda feita ao Templo teria que ser feita com as moedas que possuíssem a esfinge de Cesar, como vinham pessoas de várias localidades, os cambistas trocavam suas moedas por moedas do local cobrando ágios exorbitantes, os mercadores vendiam seus animais também com preços a peso de ouro, aproveitando que as pessoas vinham de muito longe, e não tinham como cada frequentador do Templo trazer de suas terras distantes as oferendas – bois, carneiros, pombos…
Esse comércio era realizado na entrada do Templo com a permissão dos doutores da Lei e Sacerdotes que recebiam altas comissões pelos negócios realizados. Sabendo-se que esta passagem aconteceu na segunda feira que antecedeu a prisão de Jesus, é impossível imaginar que Ele tenha entrado no Templo quebrando mesas de cambistas, empurrando comerciantes e chicoteando animais. É no mínimo um contrassenso, imaginar que Ele diante de todo o aparato de segurança existente no Templo tenha praticado tal ato de agressividade sem sofrer nenhuma represália.
Vamos lembrar as “profecias mímicas” – as encenações teatrais, que segundo o estudo de Aroldo Dutra Dias, pode ser que tenha acontecido uma encenação teatral para facilitar a compreensão sobre o respeito ao Templo como um local sagrado, a Casa do Pai. Em seguida Jesus iniciou as curas dos enfermos – curando cegos, paralíticos, lunáticos… O que contrariou sobre maneira as autoridades ao perceberem que todo o povo se encantava com Ele.
Jesus sendo repreendido pelos sacerdotes e doutores da Lei sobre Sua autoridade em expulsar os vendilhões do Templo, dizendo: “Que sinal nos mostra para isso?” Ele disse: “Derrubai este Templo e em três dias o levantarei.” (João 2 : 18-21). Sabemos da autoridade do Cristo e do Seu conhecimento sobre todas as ciências. Mas pode ser também que Ele se referia à reconstrução do seu corpo como “Templo” do Espírito imortal, o que foi analisado por Seus discípulos após a Sua ressurreição.
Podemos analisar que Jesus estava alertando seus discípulos a não auferirem vantagens nas tarefas de divulgar as leis divinas.
Quando Jesus diz que os Fariseus “devoram as casas das viúvas, fingindo longas orações”, (Mateus 23: 14). Ele está combatendo as preces pagas, que deixam de ser um ato de Amor e Caridade. Allan Kardec também escreveu: “fazer pagar aquelas preces que dirigimos a Deus pelos outros, é nos transformarmos em intermediários assalariados. A prece se transforma, então, numa fórmula, que é cobrada segundo seu tamanho.”
(ESE Cap. XXVI Item 4)
Hoje pela Luz do Espiritismo, temos conhecimento de que Deus não vende suas bênçãos e muito menos o seu perdão. Muito embora no seu início algumas pessoas inescrupulosas tenham aproveitado o ensejo da nova Doutrina – O Espiritismo, e tenham cobrado pelas suas ações. Seguramente por inteiro desconhecimento e falta de estudos sobre a nova Doutrina, conforme fica claro o enunciado do seu codificador, Allan Kardec no livro O Evangelho Segundo o Espiritismo em seu capitulo XXVI “Dai de graça o que de graça recebestes”.
(ESE Cap. XXVI Item 7 a 10)
Hoje sabemos que a grande maioria das passagens evangélicas não era visando o momento vivenciado, mas sim a posteridade, como as parábolas contadas por Jesus. Possivelmente Jesus queria deixar bem claro que as bênçãos divinas não devem ser comercializadas, “dai de graça o que de graça recebestes”, e que os Templos são locais consagrados a orações e preces.
Infelizmente ainda existem algumas filosofias religiosas que cobram por indulgências ou comercializam em seu interior nas suas quermesses jogos e até bebida alcoólica. Possivelmente Jesus reprovava não propriamente o comércio e seus mercadores, mas as altas comissões cobradas pelos sacerdotes e doutores da lei, e talvez os altos preços praticados pelos comerciantes.
Hoje sabemos que Deus não pune nenhum dos seus filhos, porque Deus é Amor. Somos nós mesmos que nos cobramos por nossos deslizes e erros. Nossa consciência não deixa passar impune nenhuma falta a Lei de Deus. Em nossos devaneios mentais vamos parodiar com Ariano Suassuna em sua obra “O Alto da Compadecida” que ao retornarmos ao Mundo Espiritual seremos julgados por um Tribunal divino, onde vamos encontrar Jesus como Juiz – o representante divino, o Demônio como acusador Mor e Nossa Senhora Aparecida como nossa advogada de defesa. Claro que isso não vai acontecer. Nossa consciência será o nosso Juiz, e dela será impossível fugirmos.
Portanto precisamos nos tornar verdadeiros homens de bem, que se preocupa com o bem estar do companheiro de jornada bem antes que dos nossos interesses, vamos trabalhar pelo bem da Doutrina que adotamos como doutrina de fé, auxiliando nas atividades sociais, doando nosso tempo à causa. “Ah! Eu participo pelo menos duas horas por semana no Centro Espírita que eu frequento!” Mas não é muito pouco tempo para se doar? E se em nossas atividades profissionais nos tornarmos verdadeiros missionários fazendo da nossa atividade principal um sacerdócio? Não cobrando preços exorbitantes por nossa prestação serviços? Se formos servidores públicos, fazendo com mais Amor e dedicação o nosso trabalho e atendimento? Estaremos doando de forma indireta muito mais tempo as obras do Pai.
Mas isso ainda não é um sacerdócio! O verdadeiro sacerdócio é dedicarmos em tempo integral aos nossos semelhantes, socorrendo-os em suas dores ao lado do seu leito, como fez Eurípedes Barsanulfo e Madre Tereza. Precisamos entender que ainda não nos encontramos como um verdadeiro sacerdote. Mas podemos fazer muito pelo nosso irmão, realizando com Amor nossa missão, seja ela como um simples filho de Deus que respeita, auxilia e ama o semelhante como verdadeiro irmão e não como um simples companheiro de jornada.
Que aprendamos a respeitar os Templos de oração, a dar de graça o que de graça recebemos, sem mercantilizar os dons sagrados que Deus nos concedeu e também saibamos acolher nosso irmão em sofrimento e dor.
Votos de um bom fim de semana, cheio de bênçãos e alegrias a todos.
Patos de Minas MG – Centro Espírita Eurípedes Barsanulfo, 30.06. 2019.


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