REUNIÃO CÓSMICA – BEZERRA DE MENEZES

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REUNIÃO CÓSMICA

“Há mais de um século, brilhante assembléia de Espíritos se reuniu no Espaço, sob a direção do Anjo Ismael. Foi então exposta a missão futura do Brasil na divulgação do Evangelho, que seria iluminado por uma Revelação. Em dado instante, o Mensageiro do Senhor se aproxima de um de seus discípulos e fala-lhe mais ou menos assim: – Descerás às lutas terrestres, com o objetivo de concentrar as nossas energias no País do Cruzeiro, dirigindo-as para o alvo sagrado dos nossos esforços.
Arregimentarás todos os elementos dispersos, com as dedicações do teu espírito, a fim de que possamos criar o nosso núcleo de atividades espirituais, dentro dos elevados propósitos de reforma e regeneração. – E Ismael, ao finalizar, acrescentou: – Se a luta vai ser grande, considera que não será menor a compreensão do Senhor, que é o caminho, a verdade e a vida. – E o discípulo escolhido, imóvel e reverente diante de Ismael, não pôde articular palavra alguma: a emoção dominava-o inteiramente.
Mas as lágrimas que rolaram copiosamente de seus olhos diziam, com grande eloquência, que tudo faria para bem cumprir a missão que lhe fora confiada”.
“Tempos depois, a 29 de agosto de 1831, esse missionário nascia no Riacho de Sangue, na então Província do Ceará, recebendo o nome de Adolfo Bezerra de Menezes”.
caminho verdade

PENSAMENTO

“Um médico não tem o direito de terminar uma refeição, nem de escolher hora, nem de perguntar se é longe ou perto, quando um aflito qualquer lhe bate à porta. O que não acode por estar com visitas, por ter trabalhado muito e achar-se fatigado, ou por ser alta noite, mau o caminho ou o tempo, ficar longe ou no morro; o que, sobretudo, pede um carro a quem não tem o que pagar a receita, ou diz a quem chora à porta que procure outro, esse não é um médico, é negociante de medicina, que trabalha para recolher capital e juros dos gastos da formatura. Esse é um infeliz, que manda para outro o anjo da caridade que lhe veio fazer uma visita e lhe trazia a única espórtula que podia saciar a sede de riqueza do seu espírito, a única que jamais se perderá nos vaivéns da vida.”

ADOLFO BEZERRA DE MENEZES

Nasceu em Riacho do Sangue (hoje Jaguaterama), no Ceará, em 29 de agosto de 1831.
Filho de Antônio Bezerra de Menezes e de D. Fabiana de Jesus Maria, compunha com mais três irmãos, mais velhos, o quadro familiar.
Desencarnou na aurora do século XX, no dia 11 de abril de 1900, após um período de 3 meses de enfermidade que o manteve paralisado sobre o leito, em meio a tocantes manifestações de respeito, amizade, carinho pelo muito que fez em favor do próximo.
Desde muito pequeno revelou-se um espírito amadurecido, determinado, capaz de assumir atitudes e comportamentos que resultassem em benefício do próximo: aos seis anos quando algumas crianças ainda se preparam para as lides escolares, ele já sabia ler; entrando para a escola pública com sete anos, garante o aprendizado em apenas dez meses; aos treze anos é capaz de substituir o professor de Latim nos seus impedimentos, lecionando aos colegas de classe; é já o espírito de servir, de querer o bem do próximo, que ganha expressão quando se define pela Medicina, através da qual poderá ele servir mais direta e intensamente.
Seu curso na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, para onde mudou, transcorreu sob os auspícios da dificuldade e da pobreza, da luta pelo dia-a-dia. Ingressou em novembro de 1852 como praticante interno no Hospital da Santa Casa de Misericórdia. Doutorou-se em 1858, pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro.
Viu-se em pouco rodeado de numerosa clientela, senhor de uma clínica invejável. Mas os colegas da época, com certeza, não lhe invejavam o sucesso. É que essa imensa clientela não rendia coisa alguma… Ninguém pagava; tudo era gente pobre, absolutamente pobre. E Bezerra de Menezes nunca falou em dinheiro a pessoa alguma. A figura do Apóstolo já começava a se esboçar, delineando os seus contornos interiores.
No ano em que Bezerra de Menezes conquistou o seu diploma, o governo imperial decretou a reforma do Corpo de Saúde do Exército e nomeou para chefiá-lo o velho mestre, Dr. Manoel Feliciano Pereira Carvalho, como cirurgião-mor.
É fácil imaginar-se a satisfação com que este convidou o discípulo para seu assistente… E foi assim que Bezerra de Menezes passou a ser cirurgião-tenente do Exército. As glórias do cirurgião não foram bastante para abafar os desígnios do altruísta. A espécie da clientela era sempre a mesma: pobre, paupérrima, miserável… Pela primeira vez, Bezerra de Menezes viu seu nome alongado, com o complemento de “médico dos pobres”.
Bezerra de Menezes resolveu casar-se. E casou por amor, com D. Maria Cândida de Lacerda, no dia 06 de novembro de 1858. Desejosa de ver a ascensão gloriosa do marido, tratou de o convencer a ingressar nas lides políticas e Bezerra de Menezes acedeu, como sempre.
A esposa desvelada, após uma enfermidade rápida e imprevisível, abandonava o mundo em menos de vinte dias, quando começavam a cair as primeiras folhas do outono de 1863. Bezerra viu-se em plena viuvez, dentro de seu lar triste e desconfortado e com dois filhos: um de três e ou outro de um ano de idade.
A grande crise porém foi vencida. Passado o tempo de exaltação da dor, Bezerra, como que temperado nesse candinho sinistro das grandes provações, retornou, intemerato e forte, para as lutas da política.
Antes de Allan Kardec ter codificado o Espiritismo, já existia no Rio de Janeiro o grupo espírita mais antigo, que foi o de Melo Morais, homeopata e notável historiador. Isto se teria dado antes de Kardec, por volta de 1853. Freqüentavam esse grupo o Marquês de Olinda, O visconde de Uberaba, o general Pinto e outros vultos notáveis na época.
O Primeiro Centro Espírita, que teve caráter jurídico, de nome Grupo Confúcius, que proclama o lema: “Fora da Caridade não pode haver Salvação”, infelizmente, não teve longa duração. Ao cabo de três anos ele se dissolvia. Além da assistência homeopática inteiramente gratuita, serviu o grupo para revelar ao Brasil o nome de um dos reveladores do Espiritismo, bem como, o que foi mais importante, traduzir para o português as obras básicas de Allan Kardec. Do Grupo Confúcius fazia parte o conhecido espírita Dr. Travassos, que se apressou em levar um exemplar do “Livro dos Espíritos” ao conhecido deputado Bezerra de Menezes, quando em uma tarde “o médico dos pobres” se encaminhava para tomar o bonde de retorno ao lar.
Bezerra de Menezes morava na Tijuca e logo que se instalou no banco, sem distração, abriu o volume e correu os olhos em algumas páginas. À medida que avançava pelo texto afora, uma perplexidade intensa o invadia. Mencionou essas palavras: “Lia; mas não encontrava nada que fosse novo para meu espírito. Entretanto tudo aquilo era novo para mim!… Eu já tinha lido ou ouvido tudo o que se achava no “Livro dos Espíritos”.
Por essa época Bezerra, que fora reeleito para o cargo de vereador em 1864, casara-se, em segundas núpcias, com D. Cândida Augusta de Lacerda Machado, irmã materna de sua primeira mulher e de quem teve sete filhos.
Foi, destarte, que nasceu, em 1876, a primeira sociedade kardecista no Rio de Janeiro, subordinada à denominação de “Sociedade de Estudos Espíritas, Deus, Cristo e Caridade”. Um dos seus fundadores e primeiro chefe de grupo foi Bittencourt Sampaio. Sampaio era médium receitista, isto é, receitava homeopatia sob inspiração.
O Espiritismo sempre se mostrou como uma espécie de tabu impenetrável para a massa que teima em não lhe conhecer a teoria e os postulados. Desde porém que qualquer pessoa (culta ou rude, não importa) se encontre, por circunstâncias mesmo independentes de sua vontade, frente a frente com os problemas espíritas, logo a doutrina se lhe revela, clara e insofismável, com o seu acervo de conforto moral e caráter altamente caritativo.
Tudo parecia um tabu cercado pelo anátema ou pela excomunhão dos padres… Não admira, portanto, a dificuldade, mais ou menos séria, que se antepunha à aquisição de elementos novos aos núcleos da época. Estávamos, porém, em 1876 e a doutrina fazia sectários com alguma dificuldade.
Quando Dr. Carlos Travassos empreendeu a tradução de “O Livro dos Espíritos”, de Allan Kardec, ofereceu um exemplar, com dedicatória, a Bezerra de Menezes. No dia 16 de agosto de 1886, um auditório com cerca de duas mil pessoas da melhor sociedade, que enchia o salão de honra da Velha Guarda, ouviu, em silêncio, emocionado, atônito, a palavra de ouro do eminente político, do eminente médico, Dr. Adolfo Bezerra de Menezes, que proclamava aos quatro ventos a sua adesão ao Espiritismo. Ele era autêntico religioso, no mais alto sentido. Sua pena, foi, por isso, desde o primeiro artigo assinado, em janeiro de 1887, posta ao serviço do aspecto religioso do Espiritismo.
Demonstrada a sua capacidade literária no terreno filosófico, quer pelas réplicas, quer pelos estudos doutrinários, a Comissão da Propaganda da União Espírita do Brasil incumbiu Bezerra de Menezes de escrever, aos domingos, no “O Paiz”, tradicional órgão da imprensa brasileira, dirigido por Quintino Bocaiúva, uma série de artigos sob o título “O Espiritismo – Estudos Filosóficos”. Os artigos de “Max”, pseudônimo de Bezerra de Menezes, marcaram a época de ouro da propaganda espírita no Brasil. Esses artigos foram publicados, ininterruptamente, de 1886 a 1893.
Bezerra de Menezes tinha o encargo de médico como verdadeiro sacerdócio; por isso, dizia: “Um médico não tem o direito de terminar uma refeição, nem de escolher hora, nem de perguntar se é longe ou perto, quando um aflito qualquer lhe bate à porta. O que não acode por estar com visitas, por ter trabalhado muito e achar-se fatigado, ou por ser alta noite, mau o caminho ou o tempo, ficar longe ou no morro; o que, sobretudo, pede um carro a quem não tem o que pagar a receita, ou diz a quem chora à porta que procure outro, esse não é um médico, é negociante de medicina, que trabalha para recolher capital e juros dos gastos da formatura. Esse é um infeliz, que manda para outro o anjo da caridade que lhe veio fazer uma visita e lhe trazia a única espórtula que podia saciar a sede de riqueza do seu espírito, a única que jamais se perderá nos vaievéns da vida.”
Poderíamos citar casos inúmeros de adesões entre pessoas ilustres da época, dentre elas, valha-nos, contudo, anotar a do advogado Antônio Luiz Sayão, acatado causídico de então. Desesperado pela enfermidade tenaz que corroía o organismo combalido de sua esposa, Sayão, vendo-a moribunda e desenganada por vários médicos, resolveu aceitar os conselhos de um amigo que, insistentemente, tentava induzi-lo a recorrer ao Espiritismo. Fez o que toda a gente faz em tais ocasiões. Pediu uma receita aos espíritos e… esperou o “milagre”. O milagre se verificou; a homeopatia indicada entrou a operar proficientemente e, após longa e porfiada luta, a paciente sentiu-se revigorada e completamente curada. Conquistou assim o Espiritismo um dos seus valores mais notáveis, pois Sayão se tornou um verdadeiro difundidor da doutrina, à qual ele emprestava o brilho da sua cultura.
Outro caso, nas mesmas condições do precedente, foi o de Augusto Elias da Silva, cujo ardor, na propaganda do Espiritismo, foi de tal ordem que o levou até a fundar o “Reformador”, órgão eminentemente espírita. O momento era de plena agitação doutrinária e o ambiente pesado de adversidade. Na imprensa diária do País, conservadores avessos à aceitação dos novos postulados lançavam contra os mesmo extensas catilinárias, crivadas de apodos soezes. Do alto dos púlpitos, chovia sobre a massa dos fiéis prosternados a torpeza dos insultos e a viscosidade das insinuações, derramadas nos sermões dos sacerdotes. Elias da Silva, na ânsia de revidar tais ataques, foi bater à porta de Bezerra de Menezes. O “médico dos pobres”, cuja alma já se encontrava impregnada pela sabedoria calma do mestre, sem entusiasmos facciosos, aconselhou-o com prudência, mas, também, sem vacilações. E a sua palavra plena de sabedoria, escudada na rigidez de princípios que a caracterizava, lançou a diretriz que o “Reformador” deveria seguir, na campanha apenas iniciada. Política discreta, sem o nivelamento dos processos de ataque, mas firme em suas afirmativas. Não combater o ódio com as armas do ódio; combater, de preferência, o ódio com o amor…
Isso se passava em 1883. Um ano após, diante da perspectiva de anarquia que já se passava nos arraiais do Espiritismo, sentiram aqueles que dirigiam os núcleos no Rio a necessidade de uma união mais forte e que, por isso mesmo, se tornasse mais indestrutível. Os Centros onde se ministravam a doutrina trabalhavam autonomamente. Urgia, com efeito, um sistema de disciplina e de ordem entre os Centros do Espiritismo. Não uma disciplina férrea, draconiana, semelhante à Igreja, pois no Espiritismo as dogmas foram coisas que sempre repugnou ao livre-arbítrio dos espíritas. Restava, portanto, um único recurso: o de congregar os elementos dispersos, em torno de um centro único, realizando, destarte, o cediço, mas consagrado ideal da União que faz a força… De tais resoluções surgiu a fundação de uma nova entidade: a “Federação Espírita Brasileira”. Seu papel seria o de federar todos os grupos em uma espécie de sindicalização espiritual, para que todos pudessem fazer ouvir os seus anseios, através de um único porta – voz.
Nesse espaço de tempo, Bezerra perde dois de seus filhos, fato este que não o abateu de seus princípios filosóficos aceitando a Presidência da Federação Espírita Brasileira. Lançou os fundamentos de uma nova entidade, onde se congregassem todas as associações. Fundado um novo Centro, instalada a sua sede, tiveram início os trabalhos preparativos. Infelizmente ele não pôde realizar o programa que havia presidido à fundação. As correntes de opinião que dividiam a família espírita mais e mais se acentuavam. As ambições de mando, bem como os desejos de ocupar postos de relevo, convulsionavam os crentes, fazendo-os divergir pelas menores coisas.
A eterna luta entre espíritas e kardecistas, místicos e dos científicos, ocasionou retardamentos consideráveis na marcha da doutrina. O que Bezerra sonhava era com a união integral da família espírita. Não o compreenderam, infelizmente, e as dissensões prosseguiam. Na primeira comunicação, Bezerra chegou a declarar: ” Permita Deus que os espíritas a quem falo, que os homens a quem foi dada a graça de conhecerem em espírito e verdade a doutrina de Nosso Senhor Jesus Cristo, tenham a boa vontade de me compreender, a boa vontade de ver nas minhas palavras unicamente o interesse do amor que lhes consagro”. Nada mais conciliatório. No entanto, tais palavras soaram como bombas. Bezerra não se deixou abater na ação leonina que empreendera, tendo suas atividades incrivelmente desdobrada. Tanto Romualdo, Daneil Mont’Alverne, como Santo Agostinho, seu verdadeiro orientador, apareciam-lhe constantemente.
Bezerra de Menezes, além dessas atividades, frequentava assiduamente os notáveis “trabalhos de desobsessão” do Grupo Luz e Caridade.
Em 1889, o regime do Brasil sofreu a transformação radical de 15 de novembro. O exército se reuniu no Campo de Santana e o generalíssimo Deodoro, erguendo a espada, proclamou a República.
Bezerra de Menezes trabalhava. Seu espírito exauria-se na campanha santa que o absorvia por inteiro. Em dezembro, finalmente, começou a sentir cansaço. Seu organismo exigia repouso. Mesmo assim não atendeu aos imperativos do organismo. Não lhe concedeu tréguas. No intuito de se dedicar mais ao centro – pois neste setor é que maior necessidade havia de trabalho e de abnegação – demitiu-se da presidência da Federação. Animava-o uma secreta intenção: fundar uma escola de médiuns. E foi para dar realização a esse pensamentos, que Bezerra fundou uma escola de médiuns. Nem todos os companheiros acharam, porém, que a ideia fosse proveitosa. Muitos mesmo chegaram a combatê-la. Um deles foi Elias da Silva. Esse entendia que o desenvolvimento das faculdades mediúnicas de criaturas que para isso não estivessem devidamente preparadas, poderia redundar em casos de obsessão. Mas o parecer de Bezerra era justamente contrário ao de Elias. E firme como sempre instalou a escola de médiuns, no Centro. Aí, porém, sua desilusão foi completa. Clamou num deserto. Aos seus apelos reiterados, ninguém respondia. Só, absolutamente só, seu desconforto o fez sofrer mais pelo abandono dos seus amigos. Nem os próprios membros da diretoria compareciam às Sessões. Bezerra clamou aos quatro cantos. Convocou inutilmente os correligionários. Tudo surdo. Tudo impenetrável.
E havia qualquer coisa de sublime na atitude estoica daquele velho de longas barbas brancas, isolado e mudo, a lutar bravamente, em obediência aos imperativos do rumo que a si mesmo traçara.
No Centro, no seu Centro, sua figura de ancião curvava-se sobre a mesa dos médiuns e aí se deixava ficar, em completa abstração. Doía-lhe o fracasso, o desmoronamento inevitável, embora lento, daquela casa a que ele se dedicara o melhor de seus esforços. Mas mesmo no abandono, sua vontade não se quebrantava. Alguém o advertiu, um dia, que talvez ele não tivesse compreendido bem as famosas “instruções” de Allan Kardec. Bezerra de Menezes deu de ombros.
Seus recursos não lhe bastavam. E a necessidade ditou-lhe um gesto supremo. Pretendeu expor aos seus companheiros de diretoria a penúria em que se encontrava a associação. Para isso escreveu a cada um deles. Pediu-lhes o comparecimento inadiável. Mas ninguém apareceu… O lutador não se deu por vencido.
Na semana seguinte tornou a convocar os seus companheiros. E, como da primeira vez, Bezerra se encontrou sozinho na sede do Centro. Positivamente estava fracassado. Foi então à casa de um por um. Exortou-os a uma última reunião a fim de se tomarem as resoluções finais da entidade.
As respostas eram sempre as mesmas: – Meu caro Bezerra, você compreende, tenho andado atrapalhadíssimo. Não me leve a mal. Olhe, de minha parte, dou-lhe plenos poderes, para você deliberar, seja o que for… E Bezerra baixava a cabeça, agradecendo o “interesse” dos companheiros. Foi então que decidiu bater às portas da “Fraternidade”. Ele não queria que o Centro expirasse, solicitou então uma sala, um cantinho qualquer, por menor que fosse, bastaria para lhe assegurar a sede. Nem que dessem apenas uma mesa, Ele trabalharia sozinho. Seus amigos da “Fraternidade” dispensaram-lhe o acolhimento devido, pois, a Bezerra de Menezes, todos queriam bem e lá ficou instalado o Centro.
Logo na semana seguinte aparecia nas colunas do “O Paíz” o aviso seguinte:
“Centro Espírita, com sede na velha sociedade Fraternidade, tendo por bandeira Deus, Cristo e Caridade, auxiliará o desenvolvimento intelectual, criando um estabelecimento de humanidade, onde o ensino seja gratuito à mocidade, mantendo o “Reformador” e dando à luz uma Revista de estudos práticos da doutrina, sob o ponto de vista científico, fazendo conferências públicas, ao alcance de todas as classes. Auxiliará o desenvolvimento moral, pedindo o concurso de todos para obras de beneficência, organizando regularmente, de conformidade com as leis da doutrina, os grupos existentes e os novos que forem precisos para acudir-se aos espíritos sofredores, adquirir-se o conhecimento em espírito e verdade do Evangelho e fazerem-se experimentações científicas sobre princípios e fatos espíritas. Podem, pois, todos os espíritas do Brasil, que quiserem dar força a esta organização recomendada pelo Mestre, dirigir-se ao Centro Espírita “Fraternidade”, provisoriamente à Rua São José, 44, 2o andar”.
Não foi, porém, lá muito feliz a estadia do Centro na “Fraternidade”. Novas dissensões entraram a agitar o meio. Novas lutas, novos desentendimentos. A eterna porfia, a sempre renovada incompreensão entre místicos e científicos, Kardec e de Roustaing.
Bezerra de Menezes não combatia ninguém. Combateu sim, durante toda a sua vida, em prol da estreita união dos espíritas, indistintamente.
O ano de 1890 não findou satisfatoriamente para os meios espíritas no Brasil. Em outubro, o governo republicano sancionou o Novo Código Penal. O pavor dominava os lares. As buscas eram constantes, nas próprias casas de família. O arbítrio imperava, sob o gelado silêncio dos habitantes. Nos morros, nos arrabaldes distantes, no próprio centro da cidade, a polícia devassa tudo, prendendo sem delongas todo aquele que lhe parecesse suspeito. As denúncias anônimas choviam e os agrupamentos de qualquer natureza viam-se logo dispersados. Nos meios espíritas não foi menor o pânico. Perseguidos e proibidos de se reunirem, os poucos centros existentes viram-se na dura contingência de cerrarem as suas portas, a fim de que não incorressem nas iras policiais. Foi este um dos períodos de mais dura provação para os espíritas no Brasil. O próprio “Reformador” viu-se obrigado a suspender sua publicação. A Igreja Católica, embora separada do Estado, concorria assim mesmo para exercer maior pressão contra seu inimigo mais acirrado. E do alto dos púlpitos choviam as catilinárias contra os espíritas. Os centros fecharam as portas; os mais fervorosos se reuniam às ocultas, na atmosfera gélida do pânico.
Em 1893 a situação mais se agravou. Não só a do País como, também, a situação pessoal do incansável lutador. Pobre, paupérrimo mesmo, e em pleno isolamento, não desanimou.
Foi em uma noite fria de julho de 1895, que o grupo constituído pelos membros da diretoria bateu à porta da casa do “médico dos pobres”. Convidaram Bezerra a assumir a presidência da Federação Espírita. Não, não podia aceitar. Seu estado de saúde já não lhe proporcionava a energia necessária para arcar com tamanha trabalheira. Sentia-se cansado, exausto de lutar contra a vida e contra os homens. Não se sentia com forças para tentar acomodar toda aquela gente cujos ânimos cada vez mais se acirravam em franca adversidade. Mesmo assim, declarou que estava ali para receber as sugestões do mundo espiritual, cujas decisões ele prometia seguir, obedientemente. Disse e esperou. Alguns momentos após, o próprio espírito de Agostinho, incorporado no médium Frederico Júnior, veio dirigir-lhe palavras de conforto, aconselhando-o a lutar mais ainda. Concitou-o a desenvolver seus esforços no sentido de ampliar a campanha sob a bandeira de Deus, Cristo e Caridade. Como batalhador de primeira linha – pois que era um espírito de escol – devia aceitar a presidência da Federação. Dali, maiores seriam ainda os benefícios que ele iria prestar aos sofredores. Finalizando, Agostinho prometeu auxiliá-lo.
Consoante a promessa que fizera, Bezerra de Menezes viu-se obrigado a obedecer. E resignado, anunciou naquela mesma noite que aceitava o cargo de presidente da Federação Espírita Brasileira.
Na cavalgada do tempo, 1900 raiou como a esperança falaz que a humanidade costuma depositar, supersticiosamente, nos marcos artificiais de cada era. Logo nos primeiros dias de janeiro, Bezerra de Menezes foi acometido por violento ataque de congestão cerebral, que o prostrou no leito pobre de onde ele jamais iria poder levantar-se. Principiou daí o longo período de agonia que durou três meses, cruciantemente, indescritivelmente…A casa triste, caiada de branca, casa típica dos arrabaldes cariocas daquela época, onde se encontrava o gigante baqueado, era bem o recanto humilde e sereno onde se deveria desprender um espírito de tal sublimidade. Dentro, em um quarto desguarnecido e simples, Bezerra agonizava. Deitado a um canto, sobre um leito de ferro, sua figura impressionava deveras. A congestão violenta e tenaz arrancara-lhe a fala e os movimentos.
Os olhos de Bezerra de Menezes! Toda a gente que o conhecera falava continuamente em seu olhar. Verdes, da cor dos “verdes mares bravios da sua terra natal”, dir-se-ia que dentro daqueles dois olhos se encerrava a imagem translúcida das águas do seu Ceará, em contorções de espumas e arrepiadas pelo sulco das jangadas. Dentro da penumbra das pálpebras encerrava-se o mistério úmido da alma boníssima do amigo dos pobres.
Os membros endureceram na paralisia irremediável; os olhos continuaram a mover-se. A língua travou-se-lhe na boca retorcida e grossa; mas os olhos brilhavam ainda. Ao lado do leito, apenas uma cadeira de palhinha e uma pequena mesa atulhada de medicamentos, receitas, copos, vidros etc. Na cadeira havia continuamente uma criatura qualquer. Era o lugar das visitas.
O visitante entrava nas pontas do pés, sentava-se na cadeira e ali se quedava mudo durante alguns momentos. Bezerra voltava para ele seus olhos claros e úmidos, onde se escondia o mistério do nada e cuja luz brilhava esquisitamente como que a traduzir a gratidão do enfermo. Raros eram os que resistiam a esse olhar; e, antes que rebentassem os soluços, a visita se levantava e deixava o quarto, aquele quarto onde se extinguia alguém que, ao partir, iria deixar tanta gente órfã da Bondade.
Durante o dia e durante a noite, nunca ele esteve só. E a gratidão daquela gente traçou, nesses últimos dias de vida do “Médico dos Pobres”, uma página delicada, emotiva e sublime. Os visitantes, vendo a dificuldade da família, enfiavam, delicadamente, suas espórtulas por baixo do travesseiro do enfermo.
No dia 11 de abril de 1900, dia esplendente de sol e de radiosidade, naquela mesma casa da Rua 24 de Maio, Bezerra de Menezes vivia os seus últimos momentos.
Bezerra de Menezes faleceu às onze e meia, sem um estertor, sem uma contração. No dia seguinte, seu corpo foi sepultado no cemitério de São Francisco Xavier, às 2:00 horas da tarde; e, no dia 13, o “O Paíz”, jornal que fôra para ele uma verdadeira tribuna doutrinária, descrevendo-lhe o traspasse, iniciava assim o longo noticiário:
“Revestiram-se de uma solenidade augusta as derradeiras homenagens ontem prestadas a este eminente brasileiro. Desde que se divulgou a notícia do seu falecimento, até uma parte do dia de ontem, uma incessante romaria se estabeleceu em demanda da sua habitação. Eram os pobres, os humildes e necessitados, no anonimato da sua condição, que lhe iam render o tributo da saudade e do reconhecimento, conquistados a golpes de bondade, e cujos soluços e lamentações se confundiam com os da pobre família desolada”.
Foi criada uma comissão dos amigos de Bezerra de Menezes, para promoverem espetáculos, concertos etc., em favor da família de Bezerra de Menezes. Para chefe dessa comissão foi designado o nome do senador Quintino Bocaiúva.
Outros amigos tentaram lhe dar paz à alma, mediante o santo sacrifício da missa, em um templo católico. A cerimônia anunciada para o dia 29, na Igreja do Socorro, em São Cristóvão, não foi levada a efeito. Obstáculos de ordem doutrinária se antepuseram, à última hora, ao intento piedoso dos amigos católicos… “O Paíz” do dia 30, noticiando o fato, terminou assim a sua apreciação:
“Quanto à missa, com o libera-me, no momento em que não tardaria a começar o sacrifício, para o que já se achava previamente armado o catafalco, na Igreja do Socorro, com a orquestra a postos, e presente um considerável número de fiéis, amigos do Dr. Bezerra de Menezes, foi recebida uma ordem do reverendíssimo Vigário Geral da Arquidiocese, proibindo os sufrágios, sob a alegação de se tratar do chefe dos espíritas do Brasil”.
Frustrada a intenção dos que queriam salvar-lhe a alma, deixaram todos o pequeno templo e se dirigiram em romaria ao cemitério, onde diante do túmulo do “Médico dos Pobres”, falaram vários oradores, inclusive o Dr. João Pereira Lopes.
Na noite de 12 de abril de 1900 (após 24 horas de seu falecimento), houve a habitual sessão na Federação Espírita Brasileira. Então todos os que dela participavam ouviram, pela maravilhosa mediunidade sonambúlica de Frederico Pereira da Silva Junior, a palavra querida do espírito do nosso Bezerra de Menezes. Sua mensagem foi longa, e nela mais uma vez, humildemente, agradeceu a Deus, a Jesus e à Virgem Santíssima as bênçãos divinas que misericordiosamente recebia na pátria espiritual, pois se considerava ainda muito pecador e, portanto, indigno desse sagrado amor de Jesus!

Editou vários livros, onde podemos destacar:

“A Doutrina Espírita como Filosofia Teogônica”.
“A Loucura sob Novo Prisma”.
“Os Carneiros de Panúrgio”.
“Espiritismo (Estudos Filosóficos).
“Os Mortos que Vivem”.
“Segredos da Natura “.
“A Pérola Negra”.
“Evangelho do Futuro”.
“Lázaro, o Leproso”.
“História de um Sonho”.
“O Bandido”.
“A Casa Assombrada”.
“E algumas obras Psicografadas”.

ALGUNS CASOS:

Inúmeros casos poderiam ser citados como prova de sua ação beneficente em favor dos necessitados. Seria no entanto fastidiosa a repetição dos mesmos gestos de profunda elegância moral do apóstolo. Porque os gestos, de fato, se repetiam com uma constância enternecedora.. Entretanto, citaremos somente alguns dos inúmeros casos que marcaram a personalidade desse bendito apóstolo o bem.
1) – Quando Bezerra, por exemplo, era ainda presidente de uma companhia de carris, deixava certo dia os escritórios da mesma, na Rua Sete de Setembro. Seis horas da tarde; como dirigente escrupuloso, era sempre o último a sair, após assistir ao fechamento das portas do escritório. Dispunha-se a descer a via pública, rumo ao largo de São Francisco de Paula, onde iria tomar o bonde para a Tijuca. Já na calçada, Bezerra encontrou um velho conhecido, que o abordou nervoso e trêmulo. – Que é isso meu caro? Que sucedeu? O homenzinho, com a fisionomia transtornada e angustiosa, contou que acabara de perder o filho e que, desempregado e desprovido de recursos, vinha precisamente para falar ao velho amigo. Bezerra não pediu mais explicações. Chamou-o para o desvão de uma porta, enfiou a larga mão ossuda na algibeira da calça e sacou da carteira. Toma, meu “velho”. Leva, leva isto. É tudo o que eu tenho no momento. Espera; ainda há mais! E vasculhou os bolsos do colete de onde retirou alguns niqueis. O infeliz relutou. Mas Bezerra meteu-lhe a carteira e as moedas no bolso do casaco e, sem mais conversas, ganhou a rua. Com lágrimas nos olhos o amigo se despediu. Quanto havia na carteira? Nem mesmo Bezerra o sabia; nem lhe importava saber. Desceu a Rua Sete de setembro e chegou ao largo. Já instalado no bonde, com o jornal aberto sobre os joelhos, meteu os dedos nos bolsos do colete e só então se lembrou de que lá não existia uma moeda sequer! Calmamente saltou e se dirigiu a uma casa conhecida, onde foi pedir, pelo menos, os trezentos réis da passagem…
2) – O conhecido homeopata achava-se certa manhã nevoenta e penumbrosa, em seu pequeno consultório na Farmácia Cordeiro, à Rua 24 de Maio, na estação do Riachuelo. Fora, na estreita sala de espera, acotovelava-se a miséria do bairro. Mulheres emagrecidas pelo esforço contínuo e brutal dos trabalhos mais pesados sustinham nos braços crianças descarnadas. Homens do povo, proletários infelizes e sem recursos, encostavam-se às paredes, no esforço de disfarçarem a própria fraqueza, oriunda de prolongado estado de desnutrição. Bezerra de Menezes, pacientemente, com aquele olhar de apóstolo, fazia entrar um por um, no consultório. Com palavras de doce mansuetude animava a todos, após a consulta e a receita, despachadas gratuitamente. Porque ele não cobrava mesmo, fosse o que fosse, à sua clientela pobre. Pobre ou rica. Os que podiam davam-lhe aquilo que bem entendessem. Naquela manhã, no entanto, apenas as mãos da miséria se estendiam para o clínico.
Em dada ocasião, penetrou no consultório uma pobre mulher, com uma criança embrulhada, nos braços. Sentou-se e apresentou o filhinho. Seu aspecto, de profundo desalento, traduzia o drama horrível das vidas cujo corolário é a provação miserável da fome. Bezerra auscultou a criança; indagou dos sintomas mais elucidativos da moléstia; em seguida receitou. Volte para casa, minha filha, e dê ao menino estes remédios, de hora em hora. Compre-os aqui mesmo se quiser… A mulher desandou a chorar…Comprar, doutor…. Comprar com o quê?… Não tenho nem pão para dar a meu filho…
Bezerra descansou sobre a infeliz seus olhos mansos. Devia ser assim o olhar de Jesus Cristo quando fitava os miseráveis. Não se aflija, minha filha. Vou ajudá-la. Nós estamos no mundo para sofrer com os nossos irmãos das suas dores… E procurava pelos bolsos do casaco o dinheiro que porventura lá houvesse. Mas não havia nenhum. O último fora dado ao cliente anterior… Remexeu em todas as algibeiras, com uma esperança secreta. Tudo em vão. Pôs-se então a pensar. Diante dele soluçava a imagem viva da “mater dolorosa”. Os pensamentos turbilhonavam no cérebro do apóstolo. E foi com o olhar turbado pela névoa de uma profunda mágoa que ele fitou a sua mesa de trabalho, os velhos livros empilhados no armário, os papéis e a caneta, volteando entre os dedos. De repente, a um movimento da mão, a esmeralda do seu anel de médico desprendeu um brilho estranhamente verde. Verde… esperança… E ao brilho da pedra, seguiu-se o brilho de contentamento do olhar do médico. Enquanto a mãe soluçava, Bezerra sorria. Mansamente, vagarosamente, puxou o anel do dedo. Virou-o, entre os dedos longos, afundando o olhar no mistério verde daquela pedra, engastada no ouro farto do aro. Seu anel de formatura! Viu dentro dele, em um instante, todo o seu longo e porfiado esforço para alcançar o direito de usar aquele emblema. Quanta luta! Quanta canseira! E sentiu uma satisfação de o poder empregar na ação mais humanitária que Deus lhe proporcionara na vida. Intimamente, agradeceu a lembrança daquele momento; voltou-se para a infeliz. – Toma, minha filha, leva isto para casa. Poderás comprar leite, remédio e mais alguma coisa para o teu filhinho. A mulher, vendo o anel que brilhava na palma de sua mão, com os olhos atônitos e abertos, não sabia o que pensar. O médico não lhe deu mesmo tempo para tanto. Já de pé, convidava-a a deixar a sala. Impelida pela mão bondosa do clínico, a pobre mãe deixou o consultório. Quando se voltou para agradecer, pôde ouvir apenas a sua voz apostolicalmente mansa: – Entre, aquele que estiver em primeiro lugar. E a porta do consultório tornou a fechar-se.
3) – Sua família, no entanto, sofria o reflexo do altruísmo de seu chefe. É que Bezerra nada cobrava aos seus clientes. Como bem vimos, não só se esquivava a receber; despojava-se ainda dos últimos niqueis, em favor dos pobres. Diante da situação aflitiva que se esboçava, tornando a vida insustentável, em casa sua esposa decidiu agir. A companheira do médico foi procurar o amigo Cordeiro. Expôs-lhe os motivos da sua atitude. Cordeiro surpreendeu-se com o relato. Não sabia, segundo ele próprio confessou, que a vida do seu amigo estivesse a tal ponto comprometida. Cordeiro tentou resolver o problema da seguinte forma: cobraria as consultas de Bezerra, mas só àqueles que estivessem em condições de pagar. E mesmo assim, estabeleceu o preço mais baixo possível: cinco mil réis.
4) – Leopoldo Cirne, que privou com Bezerra de Menezes, tomando parte em seus trabalhos práticos, na Federação Espírita Brasileira, da qual era vice-presidente, recorda-nos fatos muito sugestivos (dos quais destacaremos este): “É um fato em sessão realizada para a cura da obsessão que vinha padecendo uma pobre moça. Bezerra de Menezes, com eloqüente e persuasiva dialética, pusera em ação todos os recursos do seu altíssimo sentimento, convidando o espirito obsessor a renunciar aos seus funestos propósitos de vingança, e, tão paternal e amorosamente se esforçava pelo convencer, que afinal, desarmado de seu ódio, tocado em sua sensibilidade, o obsessor explodiu nesta comovida e sincera confissão: “Velhinho Santo, o que me convenceu não foram as suas palavras: foi o seu sentimento!” E a cura de fato se consumou”.
5) – Um amigo certa feita perguntou a Bezerra de Menezes, se gostava de música… – É o maior encanto para mim, a música… – E por que não vais à companhia lírica? A temporada tem estado brilhante! – Não posso; os meus doentes não me dão tempo de ouvir as harmonias líricas. -Mas, assim, em pouco estarás embrutecido. -Nem tanto, meu amigo. Isto me traz a vantagem de ouvir as harmonias do coração, que é a música mais linda que há no mundo.

NA ESPIRITUALIDADE:

Seu espírito foi recebido na Espiritualidade com hosanas e graças. Falanges e falanges de espíritos amigos fizeram um verdadeiro corredor, onde Bezerra de Menezes era consagrado espiritualmente como um apóstolo do bem. Ismael, patrono espiritual do Brasil, veio recebê-lo, para conduzi-lo às esferas espirituais mais evoluídas.
Teve permissão para ser encaminhado a esferas ainda mais evoluídas, quando de joelhos efetuou uma prece fervorosa, solicitando autorização para poder continuar sua obra em favor dos enfermos e necessitados. Finalizou solicitando: ” Enquanto na Terra existir um único irmão em dor e sofrimento, eu solicito a devida permissão de continuar meu trabalho, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo”.
Hoje, no Planeta Terra, sua obra está em todos os locais, Orfanatos, Asilos, Hospitais, Casas de Socorro , Albergues, Centros Espíritas, Casas de Orações etc.
No dia 07 de janeiro de 1965, aceitou ser o Patrono Espiritual do Centro Espírita “Cantinho de Paz, Luz, Esperança e Caridade”, bem como de suas filiais, denominadas: “Lar de Socorro Espiritual Bezerra de Menezes,” e “Lar Bezerra de Menezes, para Idosas”. Neste Centro Espírita, ele finalmente conseguiu manter seu ideal,seu sonho que fôra a Unificação das Correntes Espíritas, sem preconceitos, todas unidas trabalhando em prol da caridade espiritual e da filantropia humana.
Até a presente data, Ele continua orientando os destinos desta Casa de Caridade, onde é praticado o Espiritismo Cristão Unificado, através de sucessivas mensagens que norteiam toda a organização, efetuando, através de diversos cursos, uma escola mediúnica, preparando Obreiros e Seareiros para a vinha do Senhor.

Autores Consultados:

Canuto Abreu – Francisco Acquarone – Francisco Cândido Xavier – Freitas Nobre – Grupo C.P.L.E.C. – Grupo Ismael – Ramiro Gama – Sylvio Brito

MENSAGEM DADA POR BEZERRA, APÓS 24 HORAS DO FALECIMENTO, ATRAVÉS DA MEDIUNIDADE SONAMBÚLICA DE FREDERICO PEREIRA DA SILVA JUNIOR

“Baixai vossos olhos sobre os meus amigos, ó Virgem Gloriosa! São também vossos filhinhos, como eu, que aflito gemi e padeci na Terra, sempre com os olhos cravados em vós. Dai que eles possam compreender, ó Virgem Imaculada, esse ensinamento em que se vê vosso amado Filho, o Rei absoluto deste Planeta, curvado aos pés de humildes pecadores, como um servo humilde, lavar de seus pés o pó da estrada de peregrinos que trilhavam!
Que eles possam compreender esse – amai-vos uns aos outros -, certos, convencidos de que o amor que desdobrarem das suas almas, para os seus irmãos, evola-se, libra-se aos páramos onde está o vosso amado Filho, – é o amor elevadíssimo que nos vem com Jesus.
Meus caros companheiros, meus amigos, é demais a recompensa! Saudades! Ouvi, de mais de um, essa palavra, mas saudade por quê?
Vê tu, meu velho amigo (para Sayão), vêem todos vocês como é fraco o espírito humano!
Vocês, espíritas, meus companheiros, que falam a todo o momento comigo, têm saudades e choram! Eu também choro a minha fraqueza. Oh! Deus, oh! Jesus – Cristo! Quando, pelo verdadeiro elo da amizade, pela verdadeira compreensão dos vossos ensinos serão estancadas as nossas lágrimas, e essa palavra não terá nenhum sentido na linguagem das criaturas, vivendo todos nós sempre unidos e ligados pelo coração? Eu estou junto de vocês, meus caros companheiros. Eu lhes peço: não quebrem essa cadeia sagrada.
Como isso é bonito, como isto eleva as nossas almas!
…Obrigado a todos vocês, a todos vocês, obrigado.”.

CURIOSIDADES:

* Virou um Livro, denominado “A Doutrina Espírita”, editado pela Editora Edicel, orientada por Freitas Nobre, a carta que Bezerra de Menezes enviou a seu irmão mais velho, Sr. Manoel Souza da Silva Bezerra, em 1886, defendendo o Espiritismo e apresentado suas razões de ser um espírita convicto.
* Em sua enfermidade, Bezerra fez questão de somente tomar remédios que fossem prescritos pelas entidades espirituais. Seu amigo Dr.Dias da Cruz ia visitá-lo diariamente.
* Em 1860, já com 29 anos, faz-se candidato do Partido Liberal, elegendo-se e empossando-se, apesar da impugnação apresentada por Haddock Lobo, sob a alegação de que ele era militar.
Bezerra de Menezes responde à impugnação, renunciando ao posto militar e à condição de cirurgião do Hospital Militar do Rio de Janeiro.
* Vários foram os seus mandatos de deputado federal e representante da Câmara Municipal da Corte, da qual foi presidente.
* Exerceu várias funções administrativas, tendo fundado a Estrada de Ferro Macaé a Campos e presidido a Companhia dos Carris Urbanos do Rio de Janeiro.
* Era defensor do Municipalismo. Sobre o Municipalismo tece este desabafo ( Casamento e Mortalha): “Tu, meu querido Brasil, tens andado sem leme e sem bússola, precisamente porque nunca tiveste, e tão cedo não terás, em sua verdadeira base, a municipalidade. Cumpri meu dever, mas era cedo ainda”.
* Adolpho Bezerra de Menezes Cavalcanti, conforme consta sua certidão de batismo, passou a assinar-se simplesmente Bezerra de Menezes, e, muitas vezes, apenas Bezerra.
* Léon Denis, na França, se pronunciava sobre o desenlace de Bezerra de Menezes: “Quando homens como ele desaparecem, é luto não somente para o Brasil, mas para os espíritas do mundo inteiro”.

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A TRAGÉDIA DE SANTA MARIA

Essa história foi psicografada pela médium Yvonne A.Pereira, e a que ele deu o título em epígrafe.
“Perante o enorme ajuntamento de sofredores desencarnados, no Plano Espiritual, o Dr. Bezerra de Menezes, apóstolo da Doutrina Espírita no Brasil, rematava a preleção.
Falara, com muito brilho, acerca dos desregramentos morais. Destacara os males da alma e os desastres do espírito.
Dispunha-se à retirada, quando fino ironista o investiu:
“Escute, doutor. O senhor disse que a calúnia é um braseiro no caluniador. Eu caluniei e nada senti. O senhor disse que o destruidor de lares terrestres carrega a lâmina do arrependimento a retalhar-lhe o coração. Destruí diversos lares e nada senti. O senhor disse que o criminoso tem a nuvem do remorso a sufocá-lo. Eu matei e nada senti…
“Meu filho – disse o pregador -, que sente um cadáver quando alguém lhe incendeia o braço inerte?”
“Nada – disse, rindo, o opositor sarcástico -, pois cadáver não reage.”
E a conversação prosseguiu:
“Que sente um cadáver se o mergulham num lago de piche?”
– “Absolutamente nada, ora essa! O cadáver é a imagem da morte.”
Doutor Bezerra fitou o triste interlocutor e, meneando paternalmente a cabeça, concluiu.
“Pois olhe, meu filho, quando alguém não sente o mal que pratica, em verdade carrega consigo a consciência morta. É um morto – vivo.”

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