O Jesus Rico
Jesus veio à terra com uma missão?
Acreditamos que sim.
Para o desempenho desta missão acreditamos também acreditamos que ele tenha vindo no momento em que escolheu, no local em que escolheu e também nas condições em que ele mesmo escolheu.
Sabemos que Jesus era pobre, não um pobre miserável ou mendigo, mas pobre no sentido de estar distante da riqueza, de ter de trabalhar para merecer o próprio sustento. E assim ele fez durante toda a sua vida até o momento em que iniciou suas andanças ensinando o evangelho.
Mas porque ele teria escolhido esta posição humilde? Porque escolher nascer entre os trabalhadores simplórios em vez das posições de destaque?
Vamos então dar uma olhada em alguns de seus ensinamentos e algumas de suas palavras exemplos para quem sabe encontrar neles a chave desta sua escolha.
Vamos imaginar por exemplo como seria o encontro de Jesus com Zaqueu, aquele publicano (coletor de impostos) rico e corrupto como a maioria em seu tempo. Diante do encontro com Jesus. Emocionado ele espontaneamente disse que iria doar metade de tudo o que possuía aos pobres, e às pessoas que ele tivesse fraudado devolveria o valor quadruplicado. Jesus então diz que a salvação veio a aquela casa, a casa de Zaqueu.
Como seria um Jesus rico diante desta cena à vista dos olhares da multidão? Ficaria ele quieto e não diria nada sobre suas próprias riquezas? Não iriam achar que ele era um hipócrita por abençoar um homem que abre mão de metade de seus bens em benefício dos pobres ao mesmo tempo em que não diz uma palavra sobre seus próprios bens? A única solução lógica seria ele naquele mesmo momento também afirmar que abriria mão de igual porção de seus bens, e ainda assim para apenas se igualar em bondade a um publicano conhecido por todos como grande pecador, e lá se vão metade dos bens do nosso “Jesus rico”.
Em outra oportunidade, está Jesus no templo pregando próximo do local onde eram feitas doações quando ele avista então uma pobre viúva que deixa duas moedas que não valiam quase nada, diferentemente dos muitos ricos que depositavam ali grandes quantias com a intenção de se exibir. Jesus então diz que naquele dia a viúva havia feito a maior doação, porque teria doado o que realmente lhe fazia falta, ao contrário dos outros que doaram o que lhes sobrava.
O nosso fictício “Jesus rico” cairia novamente em contradição, pois como sendo rico não cometeria o mesmo erro dos outros ricos que estavam ali depositando quantias expressivas, mas que não chegavam a lhes fazer falta? A única solução seria doar também uma quantidade tão expressiva que lhe fizesse falta real, ao ponto de que só poderia lhe restar de toda a sua fortuna o suficiente para o básico, nada mais de luxos, supérfluos e objetos de ostentação. Lá se vai mais uma vez a fortuna do “Jesus rico”.
Mais difícil ainda seria conciliar o ensinamento de Jesus quando ele disse “Meu reino não é deste mundo” se o seu reino não é deste mundo e ele não persegue as riquezas e o poder deste mundo, o que estaria fazendo Jesus na posse de grande fortuna?
Também ensinou Jesus que, na luta pela conquista de poder e riqueza, muitas vezes obtemos o que procuramos, mas neste caminho acabamos deixando naturalmente de lado os valores morais de solidariedade e amor ao próximo, cometendo muitas vezes pequenos e grandes crimes. Ao que Jesus chega à conclusão “que aproveitaria ao homem ganhar todo o mundo e perder a sua alma?”, como se livraria o nosso “Jesus rico” desta contradição? Seria ele o único a poder conquistar o mundo (conquistar e também manter) defendendo as suas riquezas com a violência naturalmente necessária e ainda assim manter a sua alma? Soaria mais uma vez como hipocrisia, destas que vemos tantas vezes nos discursos de inúmeros falsos profetas.
Imagine ainda a ocasião da crucificação. Preso injustamente pelos poderosos do seu tempo que o viam como uma ameaça ao seu poder, não porque Jesus buscava o poder, mas porque seus ensinamentos contrariavam as leis dos hipócritas. Jesus não da gritos desesperados nem ínsita a população a livra-lo de seus perseguidores, nem promete vingança ou faz ameaças como agiria um homem rico e poderoso, possuidor de muitos guardas e servos sempre prontos a defende-lo. E se mesmo sendo rico e poderoso não se utilizasse destes recursos, estaria como que renegando o seu poder e os seus subordinados, abandonando ali a posição de homem poderoso e adotando neste momento a postura de um homem humilde.
Difícil seria também explicar o seu conselho ao jovem rico, ao qual disse para vender todos os bens, doar tudo aos pobres e depois o seguir. O jovem romano precisaria doar seus bens enquanto o “Jesus rico” não precisaria fazer o mesmo?
O comportamento do mestre é sempre uniforme em sua jornada e não conseguimos encontrar contradições. Quem entende este comportamento de Jesus diante da humildade e do poder, consegue facilmente entender por que ele disse aos seus discípulos que, aquele que quisesse ser o maior perante Deus deveria ser o último entre os homens e o servidor de todos.
A lógica de suas lições e exemplos combina perfeitamente com o seu ensinamento maior “amai a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”. Quem ama a Deus e também ao próximo como a si mesmo não irá buscar posição de destaque sobre o próximo, não irá procurar os títulos, o status e o poder que o coloque acima do próximo, não ira buscar o conforto que o próximo (ou maioria dos próximos) não possui, não buscará luxos e supérfluos, porque a própria noção de luxo e supérfluo é de algo que tem mais utilidade como item de exibicionismo e exagero do que de utilidade e necessidade.
Se um dia ocupar uma posição de destaque ou comando, a pessoa que ama a Deus acima de tudo e ao próximo como a si mesmo, se sentirá desconfortável com a posição de destaque sobre os seus próximos, que nada mais são do que os outros filhos de Deus. Buscará então sempre ofuscar qualquer sinal de superioridade ou poder e tentará o máximo possível agir com humildade para que, mesmo estando no comando, os seus próximos sintam que ele é um servidor de todos.
Estamos todos sempre procurando andar com Jesus, estar com Jesus, seguir Jesus e frequentemente nos esquecemos de que Jesus não procurou a riqueza, não procurou o poder, não procurou o conforto e o luxo, Jesus não exibia itens de valor, não andava de carruagem, não se gabava de possuir qualquer coisa, não se isolava do convívio dos humildes e ainda dizia que para estarem com ele os poderosos é que deveriam aprender a trilhar o caminho dos humildes. Se nós com tanta frequência nos vemos andando por estes caminhos por onde Jesus não andou, como podemos querer ver ele no nosso caminho?
Disse ele ainda que “é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar para o reino dos céus” mas entendemos que todos os ricos não estão condenados ao inferno. Como espíritas entendemos que o inferno e as condenações eternas não existem. Já o “reino dos céus” de que Jesus falava pode ser sentido e vivido mesmo ainda aqui nesta vida. Assim, entrar no “reino dos céus”, ou seja, aquele estado de espírito de paz e tranquilidade da consciência totalmente limpa, segundo Jesus é muito difícil de ser alcançado para aqueles que se comportam como aquele estranho “Jesus rico” que estávamos imaginando.
Temos sempre de lembrar que a vida é uma escola e a posição que cada um ocupa nesta vida é exatamente aquela que Deus, movido apenas pelo amor, escolheu para que pudéssemos ter o melhor aproveitamento. Seja a riqueza ou a pobreza, tudo o que se passa diariamente em nossas vidas não é nada mais do que um teste, seja um teste de resignação e fé para o pobre, ou o teste muito mais difícil da humildade para o rico. Na escola da vida, a matéria “humildade” é a que mais reprova alunos descuidados como nós e sem a aprovação nesta matéria o diploma que estamos buscando é impossível.
José da Silva de Jesus
A solidariedade é uma bênção
A solidariedade é uma bênção.
Enquanto houver choro e ranger de dentes na nossa grande família a humanidade inteira, não descansaremos por que somos parte de um todo.
Somos irmãos em humanidade.
Vera Jacubowski
A solidariedade
O filósofo grego Aristóteles, que viveu de 384 a 322 antes de Cristo, disse que “o homem é um animal social”, isto é, ele não basta a si mesmo, ele nasceu para conviver com o semelhante.
Alguns séculos depois, Jesus mostrou a força da união, quando escolheu doze Apóstolos, para ajudá-LO na sua missão e dar continuidade à sua tarefa.
No século 19, Fénelon (Espírito), no item 10 do primeiro capítulo (Não vim destruir a Lei), de O Evangelho segundo o Espiritismo, confirma: “Porque vós sois o grão de areia, mas sem os grãos de areia não haveria as montanhas. Assim, portanto, que estas palavras: ‘Nós somos pequenos’, não tenham sentido para vós. A cada um a sua missão, a cada um o seu trabalho. A formiga não constrói o seu formigueiro, e animaizinhos insignificantes não formam continentes?…”
E no capítulo Lei de Sociedade, do Livro Terceiro (As Leis Morais) de O Livro dos Espíritos, Allan Kardec explica que: Nenhum homem dispõe de faculdades completas e é pela união social que eles se completam uns aos outros, para assegurar seu próprio bem-estar e progredir. Eis por que, tendo necessidade uns dos outros, são feitos para viver em sociedade e não isolados.
Esta explicação de Kardec vem depois da resposta à pergunta que ele fez aos Espíritos, registrada na questão 768:
“O homem, ao buscar a sociedade, obedece apenas a um sentimento pessoal ou há também nesse sentimento uma finalidade providencial de ordem geral?”
Resposta: “O homem deve progredir, mas sozinho não o pode fazer porque não possui todas as faculdades; precisa do contato dos outros homens. No isolamento, ele se embrutece e se estiola”.
A sociabilidade é uma tendência natural e obedece ao imperativo da Lei do Progresso. É na vida de relação que o homem se desenvolve, enriquece-se e satisfaz os anseios de compartilhar que caracterizam a natureza do seu Espírito. É na vida social que se revela a essência divina que habita o Espírito humano.
Dentro destes conceitos, surge a solidariedade, que só pode ser exercida pelos que não vivem somente para si. É uma palavra que assusta os egoístas, porque impõe a mobilização de recursos em favor do próximo.
Ser solidário é sentir necessidade íntima de partilhar alguma coisa com o próximo. A solidarização é o sentimento de identificação com os problemas dos outros, que leva as pessoas a se ajudarem mutuamente. É o compromisso pelo qual nos sentimos na obrigação de ajudar-nos uns aos outros.
Neste ponto, a solidariedade espírita projeta-se no plano social geral da comunidade espírita através dos Grupos, Centros e Instituições Espíritas, envolvendo todas as criaturas, protegendo-as, amparando-as, estimulando-as em suas lutas e necessidades diárias, procurando ajudá-las sem nada pedir em troca, nem mesmo a simpatia doutrinária, pois quem ajuda não tem o direito de impor coisa alguma.
A Lei de Sociedade impulsiona o homem à comunhão, à solidariedade. E ao amor, centelha divina que todos, sem exceção, têm no fundo do coração, haja vista que um homem, por mais vil que seja, vota a alguém, a um animal ou a um objeto qualquer, viva e ardente afeição.
Amemo-nos. Solidarizemo-nos. Exerçamos a caridade moral, suportando-nos uns aos outros, apesar das diferenças. Coloquemos em prática o conselho de Lázaro (Espírito), registrado no item 8 do capítulo 11 (Amar ao próximo como a si mesmo), do Evangelho: “Feliz aquele que ama, porque não conhece as angústias da alma, nem as do corpo! Seus pés são leves, e ele vive como transportado fora de si mesmo. Quando Jesus pronunciou essa palavra divina – amor –, fez estremecerem os povos, e os mártires, ébrios de esperança, desceram ao circo”.
ALTAMIRANDO CARNEIRO
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