ATIVIDADES DOS CENTROS ESPÍRITAS

UNIDADE FUNDAMENTAL DO MOVIMENTO ESPÍRITA

UNIDADE FUNDAMENTAL DO MOVIMENTO ESPÍRITA

por Federação Espírita Brasileira

CENTRO ESPÍRITA

UNIDADE FUNDAMENTAL DO MOVIMENTO ESPÍRITA
Trabalho apresentado pela Federação Espírita Brasileira no Congresso Mundial de Espiritismo realizado em Madrid, Espanha, de 27 a 29 de novembro de 1992.

1. DA FUNÇÃO DO CENTRO ESPÍRITA

1.1 – Centro Espírita

1.1.1 – Conceito

O Centro Espírita é a célula de disseminação do Espiritismo e do congraçamento dos seus adeptos. Segundo Emmanuel, mentor do médium Francisco Cândido Xavier(1).
“(…) é uma escola onde podemos aprender e ensinar, plantar o bem e recolher-lhe as graças, aprimorar-nos e aperfeiçoar os outros, na senda eterna”.

1.1.2 – Kardec e o Centro Espírita

O Espiritismo nasceu na intimidade dos núcleos familiares (casas da Sra. Plainemaison, do Sr. Baudin, do Sr. Roustan, do Sr. Carlotti e do próprio Codificador).
Editado “O Livro dos Espíritos” e iniciada a publicação da Revista Espírita, o número crescente de adeptos nos mais diversos países levou Kardec a fundar, em 1º de abril de 1858, a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas.
A partir desse marco, disseminaram-se os grupos espíritas na França e em outros países, estimulados e orientados pelo Codificador, que os prestigiou, sempre que pode, com suas visitas. Em “O Livro dos Médiuns” (Cap XXIX), preconiza a multiplicação de pequenos grupos, em lugar da constituição de grandes aglomerações. E, no Cap XXXI – Dissertações Espíritas – registra o ensinamento de Fénelon sobre o assunto (Dis. XXII).

1.2 – Função do Centro Espírita

1.2.1 – Finalidades

O Centro Espírita, como escola de formação espiritual e moral que deve ser, desempenha papel relevante na divulgação do Espiritismo e no atendimento a todos os que nele buscam orientação e amparo (2).
Para atender às suas finalidades, o Centro Espírita deve: (3)
– ser núcleo de estudo, de fraternidade, de oração e de trabalho, com base no Evangelho de Jesus, à luz da Doutrina Espírita;
– ser compreendido como a casa de grande família, onde as crianças, os jovens os adultos e os mais idosos tenham oportunidade de conviver, estudar e trabalhar;
– proporcionar aos seus frequentadores oportunidade de exercitarem o seu aprimoramento íntimo pela vivência do Evangelho em seus trabalhos, tais como os de estudo, de orientação, de assistência espiritual e de assistência social.

1.2.2 – Escola da Alma

Na sua função de escola da alma, o Centro Espírita tem responsabilidade na educação integral do homem, como espírito imortal, e não como ser meramente existencial. Para tanto, deve promover, com vistas ao aprimoramento íntimo de seus frequentadores, o estudo metódico e sistemático e a explanação da Doutrina Espírita no seu tríplice aspecto – científico, filosófico e religioso – consubstanciada na Codificação Kardequiana e no Evangelho(4).
Outras atividades básicas que lhe cabe desenvolver são: (5)
– promover a evangelização da criança à luz da Doutrina Espírita;
– incentivar e orientar o jovem para o estudo e a prática da Doutrina Espírita e favorecer-lhe a integração nas tarefas do Centro Espírita;
– promover o estudo da mediunidade, visando a oferecer orientação segura para as atividades mediúnicas;
– manter um trabalho de atendimento fraterno, através do diálogo, com orientação e esclarecimento às pessoas que buscam o Centro Espírita;
– incentivar e orientar a instituição do Culto do Evangelho no Lar.

1.2.3 – Posto de Socorro Material e Espiritual

Em nenhum momento pode o Centro Espírita descurar do atendimento de quantos o procuram em busca de orientação e socorro para os seus problemas materiais, morais e espirituais. A máxima “Fora da Caridade não há Salvação” corresponde a um inalienável programa de trabalho no campo assistencial.
A diretriz é encontrada no opúsculo “Orientação ao Centro Espírita” (CFN/FEB), que recomenda à Casa Espírita
“Promover o serviço de assistência social espírita, assegurando suas características beneficentes, preventivas e promocionais, conjugando a ajuda material e espiritual, fazendo com que este serviço se desenvolva concomitantemente com o atendimento às necessidades de evangelização”.
Encontramos no citado opúsculo (item IX – Serviço Assistencial Espírita) toda a orientação necessária à harmonização dessa atividade com os postulados evangélico-doutrinários de que o Centro Espírita não pode se afastar.

1.2.4 – Atividades de Unificação

O Centro Espírita é a unidade fundamental do Movimento Espírita. Como tal, não lhe é lícito ficar fechado em si mesmo, mas, ao contrário, irradiar para fora do seu ambiente e ligar-se às outras instituições congêneres de sua comunidade. É o que Kardec recomenda, a propósito da multiplicação dos pequenos grupos, os quais “correspondendo-se entre si, visitando-se, permutando observações, podem, desde já, formar o núcleo da grande família espírita, que um dia consorciará todas as opiniões e unirá os homens por um único sentimento: o da fraternidade, trazendo o cunho da caridade cristã”.(6)
O trabalho de Unificação do Movimento Espírita, no Brasil, consolidou-se a partir do “Pacto Áureo”, de 5 de outubro de 1949, e da instalação co Conselho Federativo Nacional, da Federação Espírita Brasileira, em 1º de janeiro de 1950. Ele cresce e se aprimora a cada ano, graças à ação intensa e permanente da FEB e das Entidades Federativas Estaduais.
A união dos espíritas e a unificação do Movimento têm sua base nas células municipais, onde os Centros Espíritas se reúnem nos respectivos órgãos unificadores para troca de experiências e a realização de programas comuns:
Cabe, assim, ao Centro Espírita: (7)
– participar efetivamente das atividades do Movimento de Unificação; e – conjugar esforços e somar experiências com as demais Instituições Espíritas de uma mesma localidade ou região, de modo a evitar paralelismo ou duplicidade de realização.
Com isso, ele se beneficia das experiências, atividades e realizações das demais Instituições Espíritas; colabora com o desenvolvimento dessas Instituições, direta ou indiretamente; e contribui para uma definição do Movimento Espírita perante as demais correntes religiosas, a opinião pública e os poderes constituídos. (8)

1.2.5 – Projeção na Sociedade

1.2.5.1 – Agente de mudança

O Centro Espírita insere-se na sociedade, nela exercendo significativa influência.
Cumprindo a sua função, ele prepara o homem-espírita, em todas as faixas de idade, para atender ao preceito Kardequiano:
“Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más”. Esse homem renovado atuará na sociedade como agente de mudança, concorrendo para resolver a própria questão social, que, para Kardec, “está toda no melhoramento moral dos indivíduos e das massas”. (9)
A resistência do homem à mudança, a dificuldade que encontra para libertar-se das paixões e viver uma vida moral voltada para a solidariedade e a caridade em suas relações sociais está centrada no materialismo e no egoísmo. Conforme nos ensinam as Questões 799, 913 e 917 de “O Livro dos Espíritos”, com a certeza da vida futura, após a morte, o Espiritismo concorre para destruir o materialismo e, assim, contribui para o progresso; o egoísmo, por sua vez, “se enfraquecerá à proporção que a vida moral for predominando sobre a vida material e, sobretudo, com a compreensão que o Espiritismo faculta do estado futuro real do homem”. O combate ao egoísmo faz-se pela educação, que, “convenientemente entendida, constitui a chave do progresso moral”.

1.2.5.2 – Atividade de Divulgação da Doutrina

Além de projetar o homem-espírita na sociedade, compete ao Centro Espírita levar diretamente a mensagem da Doutrina e do Evangelho aos não-espíritas por todos os meios de divulgação e comunicação: através do livro, da imprensa espírita ou leiga, do rádio, da televisão, etc.
A comunidade espírita, no Brasil, está conscientizada dessa necessidade e se estrutura em todos os níveis do Movimento organizado para atendê-la. Feiras e Clubes do Livro Espírita, Vídeo clubes, programas de televisão, eis algumas atividades que o Centro Espírita deve estar presente.
O papel social do Centro Espírita é colocar a Doutrina ao alcance do homem na intimidade do lar ou nos segmentos sociais em que vive e milita, a fim de ir ao encontro do pensamento de Allan Kardec: (10)
“Pelo seu poder moralizador, por suas tendências progressistas, pela amplitude de suas vistas, pela generalidade das questões que abrange, o Espiritismo é mais apto do que qualquer outra doutrina, a secundar o movimento de regeneração; por isso é ele contemporâneo desse movimento”.

1.2.5.3 – Serviços Comunitários

Ao promover o serviço de assistência social espírita, tanto material quanto espiritual, o Centro Espírita incorpora-se à vida da comunidade, coopera com o poder público e concorre para amenizar e minimizar os problemas sociais e o sofrimento dos menos afortunados.
A atuação do Centro Espírita no âmbito dos serviços comunitários, por estar respaldada nos princípios da Doutrina e do Evangelho de Jesus, merece o reconhecimento das autoridades, o incentivo e o apoio da sociedade.

2. DO COMPROMISSO DOUTRINÁRIO

2.1 – Fidelidade à Doutrina Espírita

No editorial “Preservemos o Centro Espírita”, enfatiza a revista REFORMADOR, da FEB (março/92):
“O compromisso do Centro Espírita e dos seus dirigentes é para com a Doutrina, estudada e aplicada em consonância com o Evangelho de Jesus. A adoção de teorias e práticas exóticas ou não afinadas com a simplicidade e a pureza dos trabalhos espíritas compromete-lhe o objetivo e desorienta seus frequentadores e assistidos”.
Reconhecendo o Centro Espírita que o Espiritismo é o Consolador Prometido que veio, no devido tempo, recordar e complementar o que Jesus ensinou, trazendo, assim, à Humanidade, as bases reais de sua espiritualização (11), não pode afastar-se da pureza de seus princípios – dos quais é depositário, sob pena de concorrer para que aconteça com a Doutrina Espírita a deturpação que ocorreu com o Cristianismo primitivo.
Cabe-nos enfatizar, permanentemente, que a Causa Espírita está acima da Casa Espírita. Assim, no Centro Espírita, a Doutrina deve estar em primeiro lugar, ficando em segundo plano os interesses da instituição e os pontos de vista de seus dirigentes, médiuns e frequentadores.

2.2 – Simplicidade do Centro Espírita

O Centro Espírita deve caracterizar-se pela simplicidade própria das primeiras Casas do Cristianismo nascente, com a total ausência de imagens, paramentos, símbolos, rituais, sacramentos ou quaisquer manifestações exteriores, tais como casamentos e batizados. (12)
Considerando que grande número de pessoas que frequentam a Casa Espírita provém das religiões tradicionais, onde o culto exterior é um componente de suas práticas, a simplicidade do Centro Espírita funciona como processo educativo e libertador, eliminando os condicionamentos mentais e os hábitos arraigados.

2.3 – Concessões Perigosas

Recomenda Jesus que nós devemos estar no mundo sem ser do mundo. O mundo de César tem suas exigências, mas não podemos olvidar que, no Centro Espírita, estamos a serviço de Deus.
Sob a alegação de que os fins justificam os meios, alguns dirigentes de Centros Espíritas, à guisa de atender às suas obras assistenciais, à construção ou ampliação de suas sedes, ou por outros motivos, adotam, às vezes, diversas práticas perigosas, que comprometem a pureza doutrinária e ferem a ética espírita.
No opúsculo “Orientação ao Centro Espírita” (IX – Serviço Assistencial Espírita), a recomendação contra esses procedimentos é incisiva:
“As entidades espíritas, na execução de suas atividades e manutenção de seus trabalhos, selecionarão com rigoroso critério os meios de consecução dos recursos financeiros, evitando tômbolas, rifas, quermesses, bailes beneficentes ou outros meios desaconselháveis ante a Doutrina Espírita”.
Precisa-se redobrar a vigilância nas práticas doutrinárias mediúnicas, para que estas não venham a ser deturpadas pela infiltração de “novidades” externas, tais como orientalismos, sincretismos, modismos, que constituem outras tantas concessões perigosas de dirigentes despreparados quanto ao conhecimento espírita.
2.4 – Processos Alternativos de Tratamento e Cura
Tem-se observado, ultimamente, a introdução na Casa Espírita de processos alternativos de tratamento e cura, tais como terapia das vidas passadas, cromoterapia, cristalterapia, pirâmides, projeciologia e outros. Tais processos, por mais valiosos que sejam para os seus praticantes, nada têm a ver com o Centro Espírita.
Vale, para esses casos, a advertência do citado Editorial de Reformador:
“Dispõe a Casa Espírita de inestimáveis recursos para atendimento aos que a procuram em busca de lenitivo para seus males psicofísicos. Entre esses recursos estão a prece, o passe, a água fluidificada, a desobsessão, além da imprescindível orientação evangélico-doutrinária. Buscar reforço de estranhos tipos de tratamento indica falta de fé na terapêutica do Consolador”.

3. DA DIREÇÃO DO CENTRO ESPÍRITA

3.1 – Estrutura do Centro Espírita

O Centro Espírita, na condição de uma sociedade civil, deve organizar-se não apenas para desenvolver com eficiência as suas atividades básicas, mas também para cumprir as suas obrigações legais, tributárias e administrativas. A transparência contábil e financeira, com aplicação correta dos recursos e regular prestação de contas aos sócios e órgãos fiscalizadores é postulado inderrogável.
No desenvolvimento das atividades administrativas, o Centro Espírita deve estabelecer metas para as suas diversas áreas, planejando periodicamente suas tarefas e avaliando seus resultados. Se a estrutura for departamental, o planejamento levará em conta esse fato, para que haja entrosamento entre as diferentes áreas. (13)

3.2 – Papel do Dirigente do Centro Espírita

Não há mais lugar, no Centro Espírita, para o dirigente autocrata, que se julga “dono” da instituição e se escuda nos Espíritos (“espírito-cracia”) para fazer valer sua vontade.
O dirigente espírita deve exercer uma liderança que seja aceita e consentida pelos liderados em face da sua autoridade moral e doutrinária.
O dirigente é o guardião da Doutrina e do Centro Espírita. De sua conduta e vigilância resultam a preservação da pureza dos princípios doutrinários e o cumprimento das funções da Casa que dirige.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

(1) XAVIER, Francisco C. – O Centro Espírita – Mensagem de Emmanuel, psicografada em 10/04/50, em Pedro Leopoldo (MG).
(2) “Orientação ao Centro Espírita” – CFN, da FEB, Pág 13, 3, Ed 1988.
(3) Idem, Pág 13. (4) Idem, Pág 14. (5) Idem, Pág 15.
(6) KARDEC, Allan – “O Livro dos Médiuns”, Cap XXIX, nº 334, Pág 422-42, Ed FEB, 1980.
(7) “Orientação ao Centro Espírita” – CFN, da FEB, Pág 16.
(8) “Orientação ao Centro Espírita” – CFN, da FEB, Pág 61.
(9) KARDEC, Allan – “Obras Póstumas” – Credo Espírita, Pág 384-18, Ed FEB, 1981.
(10) KARDEC, Allan – “A Gênese”,Cap XVIII, nº 25, Pág 417-19, Ed FEB,1977.
(11) “Orientação ao Centro Espírita” – CFN, da FEB, Pág 13.
(12) “Orientação ao Centro Espírita” – CFN, da FEB, Pág 14.
(13) “Orientação ao Centro Espírita” – CFN, da FEB, Pág 14.
(Publicado na Revista Reformador, da FEB, de março de 1993)

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