EADE – ESTUDO APROFUNDADO DA DOUTRINA ESPÍRITA – MODULO I

Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita

Livro IV – Espiritismo, o Consolador Prometido por Jesus

Federação Espírita Brasileira

APRESENTAÇÃO

Disponibilizamos aos confrades do Movimento Espírita o quarto livro do Curso Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita, denominado: Espiritismo:

– O Consolador Prometido por Jesus.

Os três livros anteriores apresentam conteúdos que permitem ao estudioso uma visão sistêmica e espírita relacionada:
a) à formação religiosa da Humanidade (Livro I-Cristianismo e
Espiritismo), destacando-se a excelência dos ensinos cristãos, consubstanciados no Evangelho de Jesus;
b) aos principais Ensinos e Parábolas de Jesus (Livro II e III), cuja
interpretação utiliza a chave oferecida pela Doutrina Espírita, assim sintetizada nestas palavras de Emmanuel: “Jesus, a porta; Kardec, a chave” (1);
Os temas inseridos neste novo livro faz relação com os estudos anteriores (Livros I, II e III) e com o próximo, que completa a série:
Filosofia e Ciência Espíritas. Contudo, o objetivo principal deste Livro, em particular, é do Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita, em geral é:
O Excelso Benfeitor, acima de tudo, espera de nossa vida o coração, o caráter, a conduta, a atitude, o exemplo e o serviço pessoal incessante, únicos recursos com que poderemos garantir eficiência de nossa cooperação, em companhia dele, na edificação do Reino de Deus. (2)
Brasília, 08 de junho de 2010
(1) XAVIER, Francisco Cândido. Opinião espírita. Pelos Espíritos Emmanuel e André Luiz. 4 ed.
Uberaba [MG]: CEC, 1973. Cap. 2 ( O mestre e o apóstolo – mensagem de Emmanuel), p.25.
(2) ______. Ave Cristo! Pelo Espírito Emmanuel. 22 ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Introdução, p. 9.

CATALOGAÇÃO

Curso de Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita.
Livro IV : Espiritismo, o Consolador Prometido por Jesus: orientações espíritas e sugestões didático pedagógicas direcionadas ao estudo do Espiritismo.
Primeira Edição. Brasília [DF]: Federação Espírita
Brasileira, 2010.

ESCLARECIMENTOS

Organização e Objetivos do Curso
O Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita (EADE) é um curso que
tem como proposta enfatizar o tríplice aspecto da Doutrina Espírita, estudado de forma geral nos cursos de formação básica, usuais na Casa Espírita.
O estudo teórico da Doutrina Espírita desenvolvido no EADE está
fundamentado nas obras da Codificação e nas complementares a estas, cujas ideias guardam fidelidade com as diretrizes morais e doutrinárias definidas, respectivamente por Jesus e por Allan Kardec.
Os conteúdos do EADE priorizam o conhecimento espírita e destaca a
relevância da formação moral do ser humano. Contudo, sempre que necessário, tais as orientações são comparadas a conhecimentos universais, filosóficos, científicos e tecnológicos, presentes na cultura e na civilização da Humanidade, com o intuito de demonstrar a relevância e a atualidade da Doutrina Espírita.
Os objetivos do Curso podem ser resumidos em dois, assim especificados:
• Propiciar o conhecimento aprofundado da Doutrina Espírita no seu
tríplice aspecto: religioso, filosófico e científico.
• Favorecer o desenvolvimento da consciência espírita, necessário ao
aprimoramento moral do ser humano O Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita tem como público-alvo todos os espíritas que gostem de estudar, que desejam prosseguir nos seus estudos doutrinários básicos, realizando aprofundamentos de temas que conduzam à reflexão, moral e intelectual.

Neste sentido, o Curso é constituído por uma série de cinco tipos de conteúdos, assim especificados:

• Livro I: Cristianismo e Espiritismo
• Livro II: Ensinos e Parábolas de Jesus – Parte 1
• Livro III: Ensinos e Parábolas de Jesus – Parte 2
• Livro IV: O Consolador prometido por Jesus
• Livro V: Filosofia e Ciência Espíritas

FUNDAMENTOS ESPÍRITAS DO CURSO

• A moral que os Espíritos ensinam é a do Cristo, pela razão de que
não há outra melhor. (…) O que o ensino dos Espíritos acrescenta à moral do Cristo é o conhecimento dos princípios que regem as relações entre os mortos e os vivos, princípios que completam as noções vagas que se tinham da alma, do seu passado e do seu futuro (…).
Allan Kardec: A gênese. Cap. I, item 56.
• (…) O Espiritismo é forte porque assenta sobre as próprias bases da
religião: Deus, a alma, as penas e as recompensas futuras; (…).
Allan Kardec: O livro dos espíritos. Conclusão, item 5.
• (…) O mais belo lado do Espiritismo é o lado moral. É por suas consequências morais que triunfará, pois aí está a sua força, pois aí é
invulnerável (…).
Allan Kardec: Revista Espírita, 1861, novembro, p. 359.
• (…) Mais uma vez, [o Espiritismo] é uma filosofia que repousa sobre
as bases fundamentais de toda religião e sobre a moral do Cristo (…).
Allan Kardec: Revista Espírita, 1862,maio, p.121.
• (…) Não, o Espiritismo não traz moral diferente da de Jesus. (…) Os
Espíritos vêm não só confirmá-la, mas também mostrar-nos a sua utilidade prática. Tornam inteligíveis e patentes verdades que haviam sido ensinadas sob forma alegórica. E, juntamente com a moral, trazem-nos a definição dos mais abstratos problemas da psicologia (…).
Allan Kardec: O livro dos espíritosConclusão, item 8.
Podemos tomar o Espiritismo, simbolizado desse modo, como um
triângulo de forças espirituais: A Ciência e a Filosofia vinculam à Terra essa figura simbólica, porém, a Religião é o ângulo divino que a liga ao céu. No seu aspecto científico e filosófico, a doutrina será sempre um campo de nobres investigações humanas, como outros movimentos coletivos, de natureza intelectual, que visam o aperfeiçoamento da Humanidade. No aspecto religioso, todavia, repousa a sua grandeza divina, por constituir a restauração do Evangelho de Jesus-Cristo, estabelecendo a renovação definitiva do homem, para a grandeza do seu imenso futuro espiritual.
Emmanuel: O Consolador. Definição, p. 19-20.
• A ciência espírita compreende duas partes: experimental uma,relativa às manifestações em geral; filosófica, outra, relativa às manifestações inteligentes Allan Kardec:
O Livro dos Espíritos. Introdução, item 17.
• Falsíssima ideia formaria do Espiritismo quem julgasse que a sua força lhe vem da prática das manifestações materiais […]. Sua força está na sua filosofia, no apelo que dirige à razão, ao bom-senso. […] Fala uma linguagem clara, sem ambiguidades. Nada há nele de místico, nada de alegorias suscetíveis de falsas interpretações. Quer ser por todos compreendido, porque chegados são os tempos de fazer-se que os homens conheçam a verdade […]. Não reclama crença cega; quer que o homem saiba por que crê. Apoiando-se na razão, será sempre mais forte do que os que se apoiam no nada.
Allan Kardec: O Livro dos Espíritos. Conclusão, item 6.
• O Espiritismo é, ao mesmo tempo, uma ciência de observação e uma
doutrina filosófica. Como ciência prática, ele consiste nas relações que se estabelecem entre nós e os Espíritos; como filosofia, compreende todas as consequências morais que dimanam dessas mesmas relações.

Allan Kardec: O Que é o Espiritismo. Preâmbulo.

• O Espiritismo não traz moral diferente da de Jesus[…]. Os Espíritos vêm não só confirmá-la, mas também mostrar-nos a sua utilidade prática. Tornam inteligíveis e patentes verdades que haviam sido ensinadas sob a forma alegórica.
E, juntamente com a moral, trazem-nos a definição dos mais abstratos problemas da psicologia […].
Allan Kardec: O Livro dos Espíritos. Conclusão, item 8.
• O Espiritismo se apresenta sob três aspectos diferentes: o das manifestações, dos princípios e da filosofia que delas decorrem e a aplicação desses princípios.
Allan Kardec: O Livro dos Espíritos. Conclusão, item 7.

Sugestão de Funcionamento do Curso

a) Requisitos de admissão: os participantes inscritos devem ter concluído cursos básicos e regulares da Doutrina Espírita, como o Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita, ou ter conhecimento das obras codificadas por Allan Kardec.
b) Duração das reuniões de estudo: sugere-se o desenvolvimento de uma reunião semanal, de 1 hora e 30 minutos a 2 horas.
c) Atividade extraclasse: é de fundamental importância que os
participantes façam leitura prévia dos temas que serão estudados em cada reunião e, também, realizem pesquisas bibliográficas a fim de que o estudo, as análises, as correlações e reflexões, desenvolvidas no Curso, propiciem melhor entendimento dos conteúdos.

ESTUDO APROFUNDADO DA DOUTRINA ESPÍRITA

Livro IV – Espiritismo, o Consolador Prometido por Jesus

SUMÁRIO

Esclarecimentos ………………………………………………………..07
Módulo I — Esperanças e Consolações………………………….13
Roteiro 1: O Cristo Consolador ……………………………………14
Roteiro 2: A providência divina …………………………………..25
Roteiro 3: Assistência espiritual…………………………………..37
Roteiro 4: A felicidade atual e futura …………………………..49
Módulo II — A Morte e seus Mistérios…………………………..62
Roteiro 1: O temor da morte………………………………………..63
Roteiro 2: Mortes prematuras. O suicídio……………………..74
Roteiro 3: A continuidade da vida………………………………..86
Roteiro 4: O Espírito imortal……………………………………….98
Módulo III — Os vícios e as Virtudes………………………….111
Roteiro 1: O bem e o mal ………………………………………….112
Roteiro 2: Os vícios e as paixões……………………………….121
Roteiro 3: Sofrimentos humanos: origem e causas……….135
Roteiro 4: Necessidade de transformação moral………….145
Roteiro 5: O poder transformador da prece ………………..155
Roteiro 6: Virtudes: conceito e classificação ………………165
Roteiro 7: Conquista e desenvolvimento de virtudes……179
Roteiro 8: As virtudes segundo o Espiritismo ……………..191
11Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita
Módulo IV — A Humanidade Regenerada…………………….204
Roteiro 1: A lei divina e a lei humana …………………………205
Roteiro 2: Amor a Deus e ao próximo………………………….216
Roteiro 3: Fora da Caridade não há salvação ……………….228
Roteiro 4: A família: célula fundamental organiz.social…240
Roteiro 5:A transição evolutiva humanidade terrestre…..250
Roteiro 6: Amor e evolução………………………………………..262
Roteiro 7: O homem de bem……………………………………….270
Roteiro 8: Os bons espíritas…………………………………………………………………..280
Roteiro 9: A humanidade regenerada………………………….292
Roteiro 10: Os obreiros do Senhor ……………………………..302

EADE – LIVRO IV

ROTEIRO 1

Objetivos

• Explicar o significado da expressão espírita: O Cristo Consolador.
• Esclarecer por que o Espiritismo é o consolador prometido
por Jesus.

IDEIAS PRINCIPAIS

ESPIRITISMO, O CONSOLADOR PROMETIDO POR JESUS

MÓDULO I – ESPERANÇAS E CONSOLAÇÕES

MÓDULO I

ESPERANÇAS E CONSOLAÇÕES

O CRISTO CONSOLADOR

Objetivos

• Explicar o significado da expressão espírita: O Cristo Consolador.
• Esclarecer por que o Espiritismo é o consolador prometido por Jesus.
IDEIAS PRINCIPAIS
• O Cristo Consolador é feliz expressão utilizada por Allan Kardec para indicar que todas […] as misérias, decepções, dores físicas, perda de seres amados, encontram consolação na fé no futuro, na confiança na justiça de Deus, que o Cristo veio ensinar aos homens […]. Allan Kardec: O evangelho segundo o espiritismo, cap. VI, item 2.
• A expressão tem como referência estes ensinamentos de Jesus: Vinde a mim todos os que estais cansados sob o peso do vosso fardo e vos darei descanso. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mi, porque sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para vossas almas, pois o meu jugo é suave e meu fardo é leve. (Mateus, 11:28-30. Bíblia de Jerusalém).
• O Espiritismo é entendido como sendo o consolador prometido por Jesus porque […] chama os homens à observância da lei; ensina todas as coisas fazendo compreender o que o Cristo só disse por parábolas. […] O Espiritismo vem abrir os olhos e os ouvidos, porque fala sem figuras e sem alegorias; levanta o véu intencionalmente lançado sobre certos mistérios. Vem, finalmente, trazer a suprema consolação aos deserdados da Terra e a todos os que sofrem, atribuindo causa justa e fim útil a todas as dores.
Allan Kardec: O evangelho segundo o espiritismo, cap. VI, item 4.

O CRISTO CONSOLADOR

A ideia de Deus, presente na Humanidade desde os tempos remotos, é identificada nas práticas de adoração do politeísmo e do monoteísmo nascente. No politeísmo, os rituais de adoração eram caracterizados por práticas devocionais, algumas simples, como a oferenda de alimentos, frutos da terra e flores, às divindades; outras, de feição bárbara e desumana tinham como princípio o sacrifício de animais e ou de pessoas.
Com o monoteísmo, ocorreu paulatino abandono dos rituais primitivos, indicando que alguma transformação ocorreu no íntimo do ser humano, a princípio de forma tímida, pois o ser ainda sentia necessidade de adorar a Deus de forma figurada – representada nas diferentes manifestações da idolatria – antes que pudesse alcançar a compreensão de adorar a Deus, em Espírito e Verdade, como ensina o Espiritismo.
As práticas devocionais de adoração, primitivas e idólatras, apresentavam uma característica comum: o temor a Deus. Nasceu, daí, a necessidade da construção de nichos de adoração, coletivos e particulares, associados ou não à prática de sacrifícios, como tentativas de “agradar” ou “acalmar” a divindade.
Com o advento do Cristianismo, porém, Jesus revela Deus, o Criador Supremo, como Pai, amoroso e misericordioso, que não exige dos crentes manifestações externas de devoção. Essa ideia, diametralmente oposta ao “deus dos exércitos”, que determina a morte, o sofrimento e a destruição dos próprios filhos, provocou muitos conflitos e entrechoques de opiniões entre os judeus e, mesmo entre os primeiros cristãos.

SUBSÍDIOS
MÓDULO I – Roteiro 1

A ideia de Deus, presente na Humanidade desde os tempos remotos, é
identificada nas práticas de adoração do politeísmo e do monoteísmo nascente. No politeísmo, os rituais de adoração eram caracterizados por práticas devocionais, algumas simples, como a oferenda de alimentos, frutos da terra e flores, às divindades; outras, de feição bárbara e desumana tinham como princípio o sacrifício de animais e ou de pessoas.
Com o monoteísmo, ocorreu paulatino abandono dos rituais primitivos, indicando que alguma transformação ocorreu no íntimo do ser humano, a princípio de forma tímida, pois o ser ainda sentia necessidade de adorar a Deus de forma figurada – representada nas diferentes manifestações da idolatria – antes que pudesse alcançar a compreensão de adorar a Deus, em Espírito e Verdade, como ensina o Espiritismo.
As práticas devocionais de adoração, primitivas e idólatras, apresentavam uma característica comum: o temor a Deus. Nasceu, daí, a necessidade da construção de nichos de adoração, coletivos e particulares, associados ou não à prática de sacrifícios, como tentativas de “agradar” ou “acalmar” a divindade.
Com o advento do Cristianismo, porém, Jesus revela Deus, o Criador supremo, como Pai, amoroso e misericordioso, que não exige dos crentes manifestações externas de devoção. Essa ideia, diametralmente oposta ao “deus dos exércitos”, que determina a morte, o sofrimento e a destruição dos próprios filhos, provocou muitos conflitos e entrechoques de opiniões entre os judeus e, mesmo entre os primeiros cristãos.
Neste sentido, esclarece Emmanuel 1
Sob o império da lei de progresso, porém, o homem é impulsionado a
ascender planos mais elevados, a rever as suas concepções religiosas, a entender o significado de sua existência e qual é a sua destinação espiritual. Com o advento do Cristo consolador, a Humanidade caminha em outra direção, buscando Deus dentro de si, para mais tarde, com o Espiritismo, transformar-se em colaborador de Deus. Neste sentido, vemos que […] O Cristo foi o iniciador da moral mais pura, da mais sublime: a moral evangélico cristã, que há de renovar o mundo, aproximar os homens e torná-los irmãos; que há de fazer brotar de todos os corações humanos a caridade e o amor do próximo e estabelecer entre os homens uma solidariedade comum; de uma moral, enfim, que há de transformar a Terra, tornando-a morada de Espíritos superiores aos que hoje a habitam. […].2

1. O Cristo Consolador

Importa considerar que […] Jesus não foi um filósofo e nem poderá ser classificado entre os valores propriamente humanos, tendo-se em conta os valores divinos de sua hierarquia espiritual, na direção das coletividades terrícolas. Enviado de Deus, ele foi a representação do Pai junto do rebanho de filhos transviados do seu amor e da sua sabedoria, cuja tutela lhe foi confiada nas ordenações sagradas da vida no Infinito. Diretor angélico do orbe, seu coração não desdenhou a permanência direta entre os tutelados míseros e ignorantes, dando ensejo às palavras do apóstolo, acima referidas.3
Tais ideias são condizentes com outras existentes em O livro dos espíritos, questão 625, em que os Orientadores da Codificação Espírita informam ser Jesus o tipo mais perfeito que Deus tem oferecido ao homem, para lhe servir de guia e modelo. Sendo assim, ainda que não tenhamos noção exata da dimensão espiritual de Jesus, da sua missão e do que ele representa para a Humanidade terrestre, é necessário, como medida de prudência e de fé, seguir as orientações e esclarecimentos prestados pelo próprio Jesus e pelos benfeitores espirituais a respeito do Mestre, ao longo dos séculos.
Jesus não veio destruir a lei, isto é, a lei de Deus; veio cumpri-Ia, ou seja, desenvolvê-Ia, dar-lhe o verdadeiro sentido e adaptá-Ia ao grau de adiantamento dos homens. É por isso que se encontra, nessa lei, o princípio dos deveres para com Deus e para com o próximo, que constitui a base da sua doutrina. […] Combatendo constantemente o abuso das práticas exteriores e as falsas interpretações, não podia fazê-Ias passar por uma reforma mais radical, do que as reduzindo a esta única prescrição: “Amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”, e acrescentando: aí estão toda a lei e os profetas. Por estas palavras: “O céu e a Terra não passarão sem que tudo esteja cumprido até o último iota”, Jesus quis dizer que era necessário que a lei de Deus fosse cumprida, isto é, praticada na Terra inteira, em toda a sua pureza, com todos os seus desdobramentos e consequências. […].4
No capítulo sexto de O evangelho segundo o espiritismo, intitulado O Cristo Consolador, Allan Kardec discorre sobre a importância de aceitarmos o jugo do Cristo, e, necessidade de envidarmos todos os esforços para entender e praticar a sua mensagem imortal. Esclarece também que este entendimento pode ser realizado por meio dos ensinos espíritas, uma vez que o Espiritismo é o consolador prometido, pois Jesus “[…] é a alavanca de que Deus se utiliza para fazer que a Humanidade avance.”2
Em outro momento, afirma o Codificador: 2 
São chegados os tempos em que as idéias morais hão de desenvolver-se, para que se realizem os progressos que estão nos desígnios de Deus. Têm elas de seguir a mesma rota que percorreram as ideias de liberdade, suas precursoras. Porém, não se deve acreditar que esse desenvolvimento se faça sem lutas. Não, aquelas idéias precisam, para atingirem a maturidade, de abalos e discussões, a fim de que atraiam a atenção das massas. Uma vez isso conseguido, a beleza e a santidade da moral tocarão os espíritos, e eles se dedicarão a uma ciência que lhes dá a chave da vida futura e lhes abre as portas da felicidade eterna. […].

2. O jugo do Cristo

Em geral, a mensagem cristã é aceita e admirada no mundo inteiro. Raros são os povos, sobretudo os do Ocidente, que não reconhecem o elevado teor moral do Evangelho. Entretanto, este fato está longe de os fazer submissos ao jugo do Cristo e de colocar em prática os seus ensinamentos. Aliás, é preciso entender o verdadeiro sentido da expressão “jugo do Cristo”. Significa o auxílio concedido pelo Senhor para nos conduzir ao caminho da verdadeira liberdade e felicidade. Não se refere a uma imposição ou subjugação, como erroneamente foi interpretada no passado, diametralmente oposta ao sentido destes ensinos de Jesus: Vinde a mim todos os que estais cansados sob o peso do vosso fardo e vos darei descanso. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para vossas almas, pois o meu jugo é suave e meu fardo é leve.
(Mateus, 11: 28-30. Bíblia de Jerusalém ).
Desta forma, Todos os sofrimentos: misérias, decepções, dores físicas, perda de seres amados, encontram sua consolação na fé no futuro, na confiança na justiça de Deus, que o Cristo veio ensinar aos homens. Sobre aquele, ao contrário, que nada espera após esta vida, ou que simplesmente duvida, as aflições caem com todo o seu peso e nenhuma esperança vem amenizar o seu amargor. Foi isso que levou Jesus a dizer: “Vinde a mim todos vós que estais fatigados, que eu vos aliviarei”. Entretanto, Jesus estabelece uma condição para a sua assistência e a felicidade que promete aos aflitos. Essa condição está na lei por Ele ensinada. Seu jugo é a observância dessa lei; mas esse jugo é leve e a lei é suave, pois que apenas impõe, como dever, o amor e a caridade. 5
Vemos, então, que é sempre de âmbito individual a decisão de transformar-se para melhor. Cada pessoa, com os recursos que dispõe, onde e como viva, tem condições de renovar-se espiritualmente, libertando-se do círculo vicioso de erro e acerto, determinado pela lei de causa e efeito. É preciso trabalhar a vontade e empenhar-se no próprio esforço evolutivo.
O crente escuta o apelo do Mestre, anotando abençoadas consolações. […] Todos ouvem as palavras do Cristo, as quais insistem para que a mente inquieta e o coração atormentado lhe procurem o regaço refrigerante… Contudo, se é fácil ouvir e repetir o “vinde a mim” do Senhor, quão difícil é “ir para Ele”! Aqui, as palavras do Mestre se derramam por vitalizante bálsamo, entretanto, os laços da conveniência imediatista são demasiado fortes; além, assinala-se o convite divino, entre promessas de renovação para a jornada redentora, todavia, o cárcere do desânimo isola o espírito, através de grades resistentes; acolá, o chamamento do Alto ameniza as penas da alma desiludida, mas é quase impraticável a libertação dos impedimentos constituídos por pessoas e coisas, situações e interesses individuais, aparentemente inadiáveis. Jesus, o nosso Salvador, estende-nos os braços amoráveis e compassivos. Com ele, a vida enriquecer-se-á de valores imperecíveis e à sombra dos seus ensinamentos celestes seguiremos, pelo trabalho santificante, na direção da Pátria Universal… 6
 
Não há dúvidas de que o processo de melhoria espiritual é árduo, especialmente quando se aplica a Espíritos seriamente comprometidos com a Lei de Deus. Os recursos divinos, contudo, são inesgotáveis e, com eles, podemos imprimir nova direção à existência. As provações, neste aspecto, se revelam como oportunidade de aprendizado que, se bem aproveitadas, impulsionam o progresso individual e coletivo.
Por outro lado, é sempre bom ter em mente que o crescimento espiritual não acontece apenas pelas trilhas da dor, mas, também, pelo exercício do amor, como ensina o apóstolo Pedro, em sua primeira epístola: Acima de tudo, cultivai, com todo ardor, o amor mútuo, porque o amor cobre uma multidão de pecados. (1 Pedro 4:8 – Bíblia de Jerusalém).
Nunca é demais, pois, nos manter atentos a estas orientações:
Através de numerosas reencarnações, temos sido cristãos sem Cristo. […] Agora que a Doutrina Espírita no-lo revela por mentor claro e direto da alma, ensinando-nos a responsabilidade de viver, é imperioso saibamos dignificá-Io na própria consciência, acima de quaisquer demonstrações exteriores, procurando refleti-Io em nós mesmos.
Entretanto, para que isso aconteça, é preciso, antes de tudo, matricular o raciocínio na escola da caridade, que será sempre a mestra sublime do coração. 7
3. O consolador prometido por Jesus Antes da crucificação, no momento da última ceia de Jesus com os apóstolos e discípulos, ele promete enviar outro consolador, denominando-o de Espírito de Verdade.
Este consolador só viria no futuro, quando a Humanidade estivesse mais esclarecida. As seguintes palavras de Jesus expressam a sua promessa: Se me amais observareis os meus mandamentos, e rogarei ao Pai e ele vos dará outro Paráclito [Espírito de verdade, espírito Santo], para que convosco permaneça para sempre, o Espírito de Verdade, que o mundo não pode acolher, por que não o vê nem o conhece. Vós o conheceis, porque permanece convosco. Não vos deixarei órfãos. Eu virei a vós. (João, 14: 15-18. Bíblia de Jerusalém). Por sua vez, acrescenta Kardec: 8
O Espiritismo vem no tempo previsto cumprir a promessa do Cristo: preside ao seu advento o Espírito de Verdade. Ele chama os homens à observância da lei: ensina todas coisas fazendo compreender o que o Cristo só disse por parábolas. Disse o Cristo:
“Ouçam os que têm ouvidos para ouvir”. O espiritismo vem abrir os olhos e os ouvidos,
porque fala sem figuras e sem alegorias; levanta o véu intencionalmente lançado sobre certos mistérios. Vem, finalmente, trazer a suprema consolação aos deserdados da Terra e a todos os que sofrem, atribuindo causa justa e fim útil a todas as dores.
Em outras palavras, não basta relembrar os ensinamentos proferidos por Jesus, mas, entendê-los plenamente, sem as limitações da linguagem literal ou simbólica, comum dos textos evangélicos. O primeiro consolador é, obviamente, o próprio Evangelho. O outro, o consolador prometido, é o Espiritismo, assim entendido porque revive as lições evangélicas, na forma como Cristo ensinou, livres de dogmas e normas teológicas, e, também, por esclarecê-las, em Espírito e verdade.
Percebe-se, então, que […] o papel de Jesus não foi o de um simples legislador moralista, sem outra autoridade que a sua palavra. Ele veio dar cumprimento às profecias que haviam anunciado o seu advento. Sua autoridade decorria da natureza excepcional do seu Espírito e da sua missão divina. Veio ensinar aos homens que a verdadeira vida não é a que transcorre na Terra e sim no reino dos céus; veio ensinar-lhes o caminho que conduz a esse reino, os meios de eles se reconciliarem com Deus e de pressentirem esses meios na marcha das coisas por vir, para a realização dos destinos humanos.
Entretanto, não disse tudo, limitando-se, a respeito de muitos pontos, a lançar o gérmen de verdades que, segundo Ele próprio declarou, ainda não podiam ser compreendidas. Falou de tudo, mas em termos mais ou menos explícitos. Para apanhar o sentido oculto de certas palavras suas, era necessário que novas ideias e novos conhecimentos lhe trouxessem a chave e essas ideias não podiam surgir antes que o espírito humano houvesse alcançado um certo grau de maturidade. 9
Contudo, para compreendermos integralmente a mensagem de Jesus, devemos aprender a decodificá-Ia. Precisamos de uma chave. Esta chave é a Doutrina Espírita: “Jesus, o Mestre. Kardec, o Professor. […] Jesus, a porta. Kardec, a chave” 10, como afirma Emmanuel.
Assim, conclui Allan Kardec: “[…] o Espiritismo realiza o que Jesus disse do Consolador prometido: conhecimento das coisas, fazendo que o homem saiba de onde vem, para onde vai e por que está na Terra; um chamamento aos verdadeiros princípios da lei de Deus e consolação pela fé e pela esperança.” 11, 6

REFERÊNCIAS

1. XAVIER, Francisco Cândido. Emmanuel. Pelo Espírito Emmanuel. 27. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2008. Cap. XXVI, p. 182.
2. KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. 2 ed.Rio de Janeiro: FEB, 2008. Cap.I, item 9, p.63.
3. XAVIER, Francisco Cândido. O consolador. Pelo Espírito Emmanuel. 28. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2008. Questão 283, p. 229-230.
4. KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. Op. Cit. Cap. I, item 3, p.57-58.
5. ______. Cap. VI, item 2, p. 149-150.
6. XAVIER, Francisco Cândido. Fonte viva. Pelo Espírito Emmanuel 34 ed..Rio de Janeiro: FEB, 2006. Cap. 5, p. 25-26.
7. ______. Livro da esperança. Pelo Espírito Emmanuel. 9. ed. Uberaba: CEC, 1987. Cap. 14, p. 58-59.
8. KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. Op. Cit. Cap VI, item 4, p.151.
9. _____. Cap. I, item 4, p. 58.
10. XAVIER, Francisco Cândido. Opinião espírita. Pelos Espíritos Emmanuel e André Luiz. 5. ed. Uberaba: CEC, 1982. Cap. 2, item 4, p. 23-25.
11. KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. Op. Cit. Cap VI, item 4, p.151-152.

ORIENTAÇÕES AO MONITOR

O monitor poderá iniciar a aula propondo um trabalho em duplas (técnica do cochicho). Em seguida, pedir aos participantes que façam uma análise interpretativa do significado da expressão “Cristo Consolador”, orientando-se pelo texto inserido em anexo (Ante o Cristo Consolador).
Realizar, então, comentários sobre o assunto, manifestados em plenária, ouvindo as explicações complementares do monitor.
Prosseguindo, dividir a turma em dois grupos com a finalidade de ler e destacar as ideias principais do item três do Roteiro (O consolador
prometido por Jesus). Após esta fase da atividade, um relator de cada grupo apresenta para os demais colegas uma síntese do estudo realizado.
O monitor faz o fechamento da reunião, reafirmando em breves palavras : a) o que significa a expressão Cristo Consolador; b) o que é o jugo do Cristo; c) e o significado de o consolador prometido por Jesus.

ANEXO

Ante o Cristo Consolador *

Emmanuel

Nas consolações e tarefas do Espiritismo, é necessário que o coração vibre acordado em sintonia com o cérebro para que não venhamos a perder valiosas oportunidades no tempo.
Provarás a sobrevivência da alma, além da morte, através de testemunhos insofismáveis da experimentação, entretanto, que valor apresentará semelhante esforço, se não auxiliais o aperfeiçoamento moral do Espírito em peregrinação na carne?
Movimentarás equações filosóficas, anunciando à mente do povo os princípios da reencarnação, contudo que adiantarão teus assertos, se não ofereces ao próximo os recursos indispensáveis à sublimação da vida interior?
Aproveitarás a mediunidade, distribuindo idéias novas e novas convicções, entre os homens sedentos de esperança, por intermédio da argumentação irretorquível; no entanto, de que te servirá o interesse fortuito, nas revelações graciosas, se não despertas a noção de responsabilidade naqueles que te observam e ouvem?…
Realizarás as melhores demonstrações científicas, positivando a vida consciente em outros mundos e em outras esferas de ação; todavia, de que valerá semelhante empreendimento se te não dispões a ajudar o pedaço de chão em que nasceste contribuindo de algum modo, na construção da Terra melhor?
É por isso que, quase sempre, Espiritismo sem Cristianismo é simples
empresa intelectual, destinada a desaparecer no sorvedouro de caprichos da inteligência.
Não se entrelaçariam dois mundos diferentes para o simples trabalho da pesquisa ociosa ou do êxtase inoperante.
Não se abririam as portas do Grande Além para que o homem se infantilizasse na irresponsabilidade ou na inconsequência.
Cristo é o ponto de equilíbrio em nosso reencontro.
Espíritos desencarnados e encarnados, todos nos achamos em degraus
diferentes da escada evolutiva.
Sem Jesus, estaríamos confinados à sombra de nós mesmos, e, sem a
disciplina do Seu Evangelho de Luz e Amor, com todas as pompas de nossa fenomenologia convincente e brilhante não passaríamos de consciências extraviadas e irrequietas a caminho do caos.
* XAVIER, Francisco Cândido. Escrínio de luz. Pelo Espírito Emmanuel. Matão [SP]: O Clarim, 1973. Item: Ante o Cristo consolador, p. 3-4.
“[…] o Espiritismo realiza o que Jesus disse do Consolador prometido: conhecimento das coisas, fazendo que o homem saiba de onde vem, para onde vai e por que está na Terra; um chamamento aos verdadeiros princípios da lei de Deus e consolação pela fé e pela esperança.”

Allan Kardec

MÓDULO I – ESPERANÇAS E CONSOLAÇÕES

ROTEIRO 2

Objetivos • Explicar como se manifesta a ação providencial de Deus.
• Identificar os benefícios advindos da providência divina.

IDÉIAS PRINCIPAIS

ESPIRITISMO, O CONSOLADOR PROMETIDO POR JESUS

MÓDULO I – ESPERANÇAS E CONSOLAÇÕES

• Tendo como base o princípio de que a providência é a “solicitude de Deus para com as suas criaturas”, a ação providencial se manifesta porque […] Deus está em toda parte, tudo vê, a tudo preside, mesmo às coisas mais insignificantes […]. Allan Kardec: A gênese, cap. 2, item 20.
• O Espiritismo explica que […] quer o pensamento de Deus atue diretamente, quer por intermédio de um fluido, representemo-lo, para facilitar a nossa compreensão, sob a forma concreta de um fluido inteligente preenchendo o Universo infinito, e penetrando todas as partes da Criação: a Natureza inteira mergulhada no fluido divino. Ora, em virtude do princípio de que as partes de um todo são da mesma natureza e têm as mesmas propriedades que ele, cada alivio desse fluido, se assim nos podemos exprimir, possuindo o pensamento,
isto é, os atributos essenciais da Divindade e estando o mesmo fluido em toda parte, tudo está submetido à sua ação inteligente, à sua previdência, à sua solicitude. Não haverá nenhum ser, por mais ínfimo que o suponhamos, que de algum modo não esteja saturado dele.
Allan Kardec: A gênese, cap. 2, item 24.

SUBSÍDIOS MÓDULO I Roteiro 2

Com o advento do Consolador prometido por Jesus, a compreensão a
respeito da divindade ganha uma nova dimensão, visto que o Espiritismo vem nos revelar que a ação divina se manifesta por meio da aplicação de leis naturais e imutáveis, criadas por Deus. A ação do Criador na criação é o ue chamamos de providência divina, conforme nos esclarece Kardec, em A Gênese: “A providência é a solicitude de Deus para com as suas criaturas. Ele está em toda parte, tudo vê, a tudo preside, mesmo às coisas mais mínimas. É nisto que consiste a ação providencial. […].” (1)
Perante o simbolismo e poesia de Léon Dennis, a providência divina:
[…] “é o Espírito superior, é o anjo velando sobre o infortúnio, é o consolador invisível, cujas inspirações reaquecem o coração gelado pelo desespero, cujos fluidos vivificantes sustentam o viajor prostrado pela fadiga; é o farol aceso no meio da noite, para a salvação dos que erram sobre o mar tempestuoso da vida. […].” (2)
A respeito, assevera Emmanuel: (3)
São tão grandes as expressões da Misericórdia Divina que nos cercam o espírito, em qualquer plano da vida, que basta um olhar à natureza física ou invisível, para sentirmos, em torno de nós, uma aluvião de graças. O favor divino, porém, como o homem pretende receber no seu antropomorfismo, não se observa no caminho da vida, pois Deus não pode assemelhar-se a um monarca humano, cheio de preferências pessoais ou subornado por motivos de ordem inferior. A alma, aqui ou alhures, receberá sempre de acordo com o trabalho da edificação de si mesma. É o próprio espírito que inventa o seu inferno ou cria as belezas do seu céu. E tal seja o seu procedimento, acelerando o processo de evolução pelo esforço próprio, poderá Deus dispensar na Lei, em seu favor, pois a Lei é uma só e Deus o seu Juiz Supremo e Eterno.
1. A ação da providência divina.
Para entender aos mecanismos de ação da providência divina é preciso ter alguma compreensão das leis que regem os fluidos, os tipos e frequências das vibrações energéticas, pois são estes elementos materiais que servem de veiculo à manifestação da vontade do Criador, e de todos os Espíritos, ainda que em escala bem reduzida. Assim, Kardec faz a seguinte reflexão: (1)
“Como pode Deus, tão grande, tão poderoso, tão superior a tudo, intrometer-se em pormenores sem importância, preocupar-se com os menores atos da nossa vida e com os mais ínfimos pensamentos de cada indivíduo?” Tal a interrogação que o incrédulo dirige a si mesmo, concluindo por dizer que, admitida a existência de Deus, só se pode
aceitar, quanto à sua ação, que ela se exerça sobre as leis gerais do Universo; que o Universo funcione de toda a eternidade, em virtude dessas leis, às quais toda criatura se acha submetida na esfera de suas atividades, sem que seja preciso a intervenção incessante da Providência.
Ainda que os fluidos e energias sirvam de manifestação da ação providencial, não são dotados de inteligência, por mais poderosos que sejam, mesmo em se tratando dos fluidos etéreos ou de vibrações sutilíssimas. Para melhor entender o assunto, o Codificador recorda como se expressam a propriedades do perispírito, já conhecidas pelos espíritas:
As propriedades do fluido perispirítico dão-nos disso uma idéia. Ele não é inteligente de si mesmo porque é matéria, mas serve de veículo ao pensamento, às sensações e percepções do Espírito. O fluido perispiritual não é o pensamento do Espírito, mas o agente
e o intermediário desse pensamento. Sendo ele quem o transmite, fica, de certo modo, impregnado do pensamento transmitido. […]. (4)
Neste sentido, o fluido que serve de veículo à ação mental simula algum efeito inteligente (apenas simula!), uma vez que está impregnado de elementos inteligentes oriundos da mente emissora.
Seja ou não assim no que respeita ao pensamento de Deus, isto é, quer o pensamento de Deus atue diretamente, quer por intermédio de um fluido, representemo-lo, para facilitar a compreensão, sob a forma concreta de um fluido inteligente preenchendo o Universo infinito e penetrando todas as partes da Criação: a Natureza inteira mergulhada no fluido divino. Ora, em virtude do princípio de que as partes de um todo são da mesma natureza e têm as mesmas propriedades que ele, cada á LIVRO desse fluido, se assim nos podemos exprimir, possuindo o pensamento, isto é, os atributos essenciais da Divindade e estando o mesmo fluido em toda parte, tudo está submetido à sua ação inteligente, à sua previdência, à sua solicitude. Não haverá nenhum ser, por mais ínfimo que o suponhamos, que de algum modo não esteja saturado dele. Achamo-nos assim, constantemente, em presença da Divindade; não lhe podemos subtrair ao olhar nenhuma de nossas ações;
o nosso pensamento está em contato incessante com o seu pensamento, havendo, pois, razão para dizer-se que Deus vê os mais profundos refolhos do nosso coração. Estamos nele, como ele está em nós, segundo a palavra do Cristo. […]. (5)
Fica, pois, evidente a forma como age a providência divina, utiliza os
elementos materiais (fluídicos e energéticos), existentes na Natureza para se manifestar.
Para estender a sua solicitude a todas as criaturas, Deus não precisa lançar o olhar do Alto da imensidade. Para que as nossas preces sejam ouvidas, não precisam transpor o espaço, nem ser ditas com voz retumbante, porque, estando Deus continuamente ao nosso lado, os nossos pensamentos repercutem nele. Os nossos pensamentos são como os sons de um sino, que fazem vibrar todas as moléculas do ar ambiente. (6)
Essas explicações são tanto mais esclarecedoras quanto maior for o nosso entendimento a respeito de Deus. Se o entendimento que temos de Deus ainda é o de natureza antropomórfica, dificilmente iremos compreender como acontece a providência divina. É preciso, por outro lado, agir com humildade e, também coragem para rever a concepção que, usualmente, temos de Deus, escapando das armadilhas das opiniões pessoais, dos dogmas fornecidos pelas religiões ou conclusões filosóficas apressadas, as quais se restringem, em geral, a meros palpites, destituídos de cunho filosófico ou embasamento religioso mais aprofundado.
No estado de inferioridade em que ainda se encontram, só com muita dificilmente podem os homens compreender que Deus seja infinito, visto que, sendo eles mesmos limitados e circunscritos, imaginam também que Deus seja circunscrito e limitado, figurando-o à imagem e semelhança deles. […] Para a maioria, Ele é um soberano poderoso, sentado num trono inacessível e perdido na imensidade dos céus. Como suas faculdades e percepções são limitadas, não compreendem que Deus possa ou se digne de intervir diretamente nas pequeninas coisas. (7)
Há, contudo, um fato concreto que não podemos ignorar: a providência
divina existe e somos dela beneficiários, cotidianamente, no plano físico e no espiritual. Eis o que Emmanuel tem a dizer: (8)
Seja onde for, recorda que Deus está sempre em nós e agindo por nós. Para assegurarnos, quanto a isso, bastar-nos-á a prática da oração, mesmo ligeira ou inarticulada, que desenvolverá em nós outros a convicção da presença divina, em todas as faixas da existência.
Certamente, a prece não se fará seguida de demonstrações espetaculares, nem de transformações externas imprevistas. Pensa, todavia, no amparo de Deus e, em todos os episódios da estrada, senti-lo-ás contigo no silêncio do coração. Nos obstáculos de ordem material, esse apoio não te chegará na obtenção do dinheiro fácil que te solva os compromissos, mas na força para trabalhar a fim de que os recursos necessários te venham às mãos; nas horas de dúvida, não te virá em fórmulas verbais diretas que te anulem o livre arbítrio e sim na inspiração exata que te ajude a tomar as decisões indispensáveis à paz
da própria consciência; nos momentos de inquietação, não surgirá em acontecimentos especiais que te afastem dos testemunhos de fé, mas percebê-los-ás contigo em forma de segurança e bom ânimo, na travessia da aflição; nos dias em que o mal te pareça derrotar a golpes de incompreensão ou de injúria, não se te expressará configurado em favores de exceção que te retirem dos ombros a carga das provas redentoras e sim na energia bendita da fé viva que te restaure a esperança, revestindo-te de coragem, a fim de que não esmoreças na rude jornada, em direção à vida nova. Seja qual for a dificuldade em que te vejas ou a provação que experimentes, recorda que Deus está contigo e nada te faltará, nos domínios do socorro e da bênção, para que atravesses todos os túneis de tribulação e de sombra, ao encontro da paz e a caminho da luz.
2. As bençãos da providência divina.
O indivíduo materialista ou pouco espiritualizado ignora a ação providencial de Deus em sua vida; que só é percebida à medida em que ele aprende a se libertar das influências da vida material e desenvolve aprendizado espiritual.
No começo desse aprendizado, visualiza apenas os benefícios mais patentes: as boas condições do corpo físico, da inteligência, da vida em família, de acesso ao conhecimento, de sobrevivência material por meio de profissão digna, entre outros.
Mais tarde, tendo adquirido outros conhecimentos, que o eleva em termos espirituais, consegue identificar inúmeros outros benefícios que lhe abençoam a existência. Nessa fase da evolução, o Espírito realmente se renova: empenha-se no combate aos vícios e imperfeições que ainda possui, e se esforça no propósito de desenvolver virtudes.
Vemos, então, que a existência da providência divina, e o seu consequente aproveitamento, acompanha o amadurecimento espiritual do ser humano:
Dá-se com os homens, em geral, o que se dá em particular com os indivíduos. As gerações têm sua infância, sua juventude e sua maturidade. Cada coisa deve vir a seu tempo; a semente lançada à terra, fora da estação, não germina.” (9)
Esse é o principal motivo porque “[…] em sua previdente sabedoria, a
Providência não revela as verdades senão gradualmente, sempre as desvenda à medida que a Humanidade está amadurecida para recebê-las. […].” (9)
Os ensinamentos de Jesus que seguem fornecem maiores esclarecimentos a respeito da providência divina.
Não ajunteis para vós tesouros na terra, onde a traça e o caruncho os corroem, e onde os ladrões arrombam e roubam, mas ajuntai para vós tesouros no céu, onde nem a traça, nem o caruncho corroem e onde os ladrões não arrombam nem roubam; pois onde está teu tesouro aí estará também teu coração.
A lâmpada do corpo é o olho. Portanto, se teu olho estiver são todo teu corpo ficará iluminado; mas se teu olho estiver doente todo teu corpo ficará escuro.
Pois se a luz que há em ti são trevas, quão grandes serão as trevas!
Ninguém pode servir a dois senhores. Com efeito, ou odiará um e amará o outro, ou se apegará ao primeiro e desprezará o segundo. Não podeis servir a Deus e ao Dinheiro.
Por isso vos digo: não vos preocupeis com a vossa vida quanto ao que haveis de comer, nem com o vosso corpo quanto ao que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento e o corpo mais do que a roupa? Olhai as aves do céu: não semeiam, nem colhem, nem ajuntam em celeiros. E, no entanto, vosso Pai celeste as alimenta. Ora, não valeis vós mais do que elas? Quem dentre vós, com as suas preocupações, pode acrescentar um só côvado à duração da sua vida? E com a roupa, por que andais preocupados? Observai os lírios do campo, como crescem, e não trabalham e nem fiam. E, no entanto, eu vos asseguro que nem Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como um deles. Ora, se Deus veste assim a erva do campo, que existe hoje e amanhã será lançada ao forno, não fará ele muito mais por vós, homens fracos na fé? Por isso, não andeis preocupados, dizendo:
Que iremos comer? Ou, que iremos beber? Ou, que iremos vestir? De fato, são os gentios que estão à procura de tudo isso: vosso Pai celeste sabe que tendes necessidade de todas essas coisas. Buscai, em primeiro lugar, o Reino de Deus e sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas. Não vos preocupeis, portanto, com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã se preocupará consigo mesmo. A cada dia basta o seu mal. (Mateus, 6: 19-34. Bíblia de Jerusalém)
A providência divina nos concede bens favoráveis ao nosso progresso
intelectual e moral. Alguns destes bens são transitórios, úteis à vida no plano físico, durante a reencarnação. Outros são eternos, imprescindíveis à felicidade do Espírito, independentemente do plano de existência onde ele se encontre.
A sabedoria está em sabermos utilizar os primeiros, sem nos escravizarmos a eles, mas priorizar a aquisição dos segundos.
Infelizmente, são características da imperfeição espiritual apreciamos a aquisição de bens materiais, sempre de caráter transitórios, e às sensações que eles nos proporcionam, mesmo estando cientes que o acúmulo de bens materiais jamais poderá ser considerado processo de felicidade. Ao contrário, pode estimular o egoísmo e o orgulho, retardando o progresso individual.
Sendo assim, é importante destacamos os principais ensinamentos presentes no texto evangélico, anteriormente citado (Mateus, 6: 19-34. Bíblia de Jerusalém):
• Aprender a acumular bens ou tesouros imperecíveis, imortais, não sujeitos à destruição por efeito dos elementos da natureza (“traça e ferrugem”) ou que possam ser retirados (“roubados”). Esses tesouros são as virtudes e as conquistas intelectuais edificantes.
• É preciso estar atentos à aquisição de valores imperecíveis ao Espírito, aprendendo a distinguir o supérfluo do necessário, o bom do ruim, o superior do inferior, educando a conduta, pois, onde está o “nosso tesouro aí estará o nosso coração”. O ser humano feliz conhece com clareza o significado dos verbos “ter” e “ser”.
• Os olhos percebem o mundo, as pessoas e as coisas, mas só teremos luz espiritual se transformarmos os olhos em “candeias”, isto é, olhos que enxergam a vida verdadeira e os valores eternos que promovem a melhoria do Espírito. Combatendo as imperfeições ou “trevas” que existem em nosso íntimo, veremos o mundo e as pessoas sob nova ótica.
• O homem espiritualizado conhece o valor relativo dos bens materiais e o peso que eles representam. Esforça-se,então, para dominar e não ser dominado pelas paixões inferiores. Conduz seu destino, discernindo o certo do errado e fazendo escolhas mais acertadas.
• O ser espiritualizado, ou que já possui alguma evolução espiritual, esforçase para levar uma vida mais simples, conduzindo-se com prudência ao longo do processo ascensional, evitando excessos de qualquer natureza:
no vestir, no alimentar, na acumulação de bens, no desfrutamento de prazeres etc. Trabalha para ter o necessário à existência, não entorpecendo os sentidos com os excessos que a vida material oferece.
Por este motivo não se preocupa em demasia com o que beber, comer e vestir, sabendo que “a vida é mais do que o alimento” e o “corpo mais do que a vestimenta”, sobretudo porque, “se Deus veste a erva do campo com admirável beleza, que existe hoje e amanhã será lançada ao fogo, que não tecem nem fiam”, o que o Pai Celestial não fará em benefício dos seres inteligentes da sua Criação?
• A inquietação sobre os dias futuros revela falta de fé na bondade e misericórdia divinas. Ser prudente é uma coisa. Ser inquieto ou estressado é outra, bem diferente. O homem angustiado está sempre aflito (e sempre doente: doente do espírito). O homem materialista é, notadamente, infeliz, pois desconhece o valor da fé, o poder da prece, não percebe o amparo que os benfeitores espirituais lhe endereçam. O Pai Celestial sabe do que precisamos, efetivamente. E nos concederá as suas bênçãos, pois a felicidade faz parte da nossa destinação espiritual.
• A condição única para alcançarmos a felicidade verdadeira é, primeiramente, “buscarmos o reino de Deus e a sua justiça, e tudo o mais nos será concedido em acréscimo”. Enquanto não estivermos conscientes desta verdade, entraremos e sairemos das reencarnações em processo de sofrimento, sob o peso de expiações que parecem não ter fim. Enquanto não buscarmos o reino dos céus e sua justiça (pela reparação dos erros cometidos) estaremos presos aos processos expiatórios determinados pela lei de causa e efeito. Esta é a realidade.
• Praticando o bem, desenvolvendo virtudes e combatendo as imperfeições estaremos, por certo, edificando o reino de Deus em nós mesmos. Cada dia, na reencarnação, é único.Saibamos aproveitá-lo!
Cada dia reflete uma oportunidade de crescimento espiritual, cujo aproveitamento depende da nossa vontade e do nosso esforço em superar os obstáculos do caminho. Cada dia é uma lição, que deve ser lida no livro da vida, analisada e assimilada para ser bem aproveitada como aprendizado.
Assim,não devemos “nos inquietar com o dia de amanhã”, pois o dia de
hoje é o que merece destaque e atenção, por ser o momento de vivenciar a lição que nos é reservada. O amanhã pertence a Deus e às conseqüências dos nossos atos. “Basta a cada dia o seu mal”!

REFERÊNCIAS

1. KARDEC, Allan. A gênese. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. 1 ed. Rio de Janeiro: FEB, 2009. Cap. II, item 20, p. 78.
2. DENNIS, Léon. Depois da morte. 1 edição especial. Rio de Janeiro: FEB, 2008. Parte quarta. Cap. XL, p. 328.
3. XAVIER, Francisco Cândido. O consolador. Pelo Espírito Emmanuel. 28. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2008. Questão 227, pg. 185-186.
4. KARDEC, Allan. A gênese. Op. Cit. Cap. II, item 23, p.79-80.
5. ______. Item 24, p. 80-81.
6. ______. p. 81.
7. ______. Item 21, p. 79.
8. XAVIER, Francisco Cândido. Rumo certo. Pelo Espírito Emmanuel. 11. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2008. Cap. 5, pg. 27-28.
9. KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. 1 ed. Rio de Janeiro: FEB, 2008. Cap. XXIV, item 4, p. 429.

ORIENTAÇÕES AO MONITOR

O monitor inicia a reunião com breve exposição do assunto a ser estudado, fornecendo uma visão panorâmica do conteúdo.
Em seguida, pede aos participantes que se organizem em três grupos, cabendo a cada um a tarefa de fazer leitura, seguida de troca de ideia,
do texto em seguida especificado, que faz parte do Roteiro de Estudo.

Grupo 1: Ação da providência divina.

Grupo 2: As bênçãos da providência divina.

Grupo 3: Proteção de Deus.

O monitor realiza um amplo debate em torno das idéias desenvolvidas no Roteiro de Estudo, após ouvir o resumo apresentado pelo relator de
cada grupo. 
Utiliza as ideias do texto inserido em anexo (Proteção de Deus) para encerrar o estudo.

ANEXO

Proteção de Deus *

Emmanuel

Clamamos pela proteção de Deus, mas, não raro, admitimos que semelhante cobertura unicamente aparece nos dias de caminho claro e céu azul.
O amparo divino, porém, nos envolve e rodeia, em todos os climas da
existência.
Urge reconhecê-los nos lances mais adversos.
Às vezes, o auxílio do Todo Misericordioso tão-somente se exprime através das doenças de longo curso ou das dificuldades materiais de extensa duração, preservando-nos contra quedas espirituais em viciação ou loucura.
Noutros ângulos da experiência, manifesta-se pela cassação de certas oportunidades de serviço ou pela supressão de regalias determinadas que estejam funcionando para nós à feição de corredores para a morte prematura.
Proteção de Deus, por isso mesmo, é também o sonho que não se realiza, a esperança adiada, o ideal insatisfeito, a prova repentina ou o transe aflitivo que nos colhe de assalto.
Encontra-se no amor de nossos companheiros, na assistência de benfeitores abnegados, na dedicação dos amigos ou no carinho dos familiares, mas igualmente na crítica dos adversários, no tempo de solidão, na separação dos entes queridos ou nos dias cinzentos de angústia em que nuvens de lágrimas se nos represam nos olhos.
Isso ocorre porque a vida é aprimoramento incessante, até o dia da perfeição, e todos nós com freqüência necessitamos do martelo do sofrimento e do esmeril do obstáculo para que se nos despoje o espírito dos envoltórios inferiores.
Pensa nisso e toda vez que te sacrifiques ou lutes, de consciência tranquila, ou toda vez que te aflijas e chores, sem a sombra da culpa, regozija-te e espera o melhor, porque a dor, tanto quanto a alegria, são recursos da proteção de Deus, impulsionando-te o coração para a luz das bênçãos eternas.

ANEXO

*XAVIER, Francisco Cândido. Rumo certo. Pelo Espírito Emmanuel. 11. ed. Rio de Janeiro:
FEB, 2008. Cap. 60, p. 221-223.
Não ajunteis para vós tesouros na terra, onde a traça e o caruncho os corroem, e onde os ladrões arrombam e roubam, mas ajuntai para vós tesouros no céu, onde nem a traça, nem o caruncho corroem e onde os
ladrões não arrombam nem roubam; pois onde está teu tesouro aí estará também teu coração.
(Mateus, 6. Bíblia de Jerusalém)

MÓDULO I – ESPERANÇAS E CONSOLAÇÕES

ROTEIRO 3

Objetivos

• Citar e analisar o principal fundamento da assistência espiritual conduzida pelos Espíritos benfeitores.
• Esclarece como ocorre o atendimento espiritual na casa espírita.

 

IDEIAS PRINCIPAIS

ESPIRITISMO, O CONSOLADOR PROMETIDO POR JESUS

MÓDULO I – ESPERANÇAS E CONSOLAÇÕES

• A assistência espiritual desenvolvida pelos Espíritos benfeitores tem como fundamento a seguinte passagem do Evangelho: Pedi e vos será dado; buscai e achareis; batei e vos será aberto; pois todo o que pede recebe; o que busca acha e ao que bate se lhe abrirá. Quem dentre vós dará uma pedra a seu filho, se este lhe pedir pão? Ou lhe dará uma cobra, se este lhe pedir peixe? Ora, se vós que sois maus sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai que está nos céus dará coisas boas aos que lhe pedem! (Mateus, 7:7-11. Bíblia de Jerusalém)
• Ação protetora dos Espíritos benfeitores ocorre sempre com o intuito de ajudar o seu tutelado a encontrar o caminho do bem, sem jamais tolher o seu livre arbítrio, pois o […] Espírito precisa de experiência para adiantar-se, experiência que, na maioria das vezes, deve ser adquirida à sua custa. É necessário que exercite suas forças, pois, do contrário, seria como uma criança a quem não permitem que ande sozinha.
Allan Kardec: O livro dos espíritos, questão 501.
• A Casa Espírita deve apresentar condições favoráveis de esclarecimento doutrinário, de apoio moral e de conforto espiritual aos que lhes batem às portas, orientando-os fraternalmente como superar as próprias dificuldades, à luz das orientações do Evangelho e do Espiritismo.

SUBSÍDIOS MÓDULO I Roteiro 3

A assistência espiritual, entendida como o conjunto de atividades organizadas de modo a proporcionar o reequilíbrio espiritual à coletividade que busca a Casa Espírita, pode ser classificada em dois tipos: a que é intermediada por benfeitores desencarnados, voluntariamente ou em atendimento a um pedido, e a realizada por pessoas encarnadas, vinculadas ou não a uma instituição benemérita.
Ainda que a metodologia e as características de assistência
apresentem diferenças na execução das ações, o objetivo deve se fundamentar sempre em um único propósito: auxiliar o próximo.
Os binômios auxílio-prestado e benefício-recebido são bem aproveitados quando o benfeitor respeita as características individuais do assistido, não lhe impõe condições para o recebimento do benefício, respeitando-lhe as manifestações do livre-arbítrio. Por outro lado, é fundamental que o assistido desenvolva o próprio esforço na superação dos desafios existenciais.
1. Os fundamentos da assistência espiritual A assistência espiritual, segundo a orientação espírita, tem como fundamento principal estes ensinamentos de Jesus: Pedi e vos será dado; buscai e achareis; batei e vos será aberto; pois todo o que pede recebe; o que busca acha
e ao que bate se lhe abrirá. Quem dentre vós dará uma pedra a seu filho, se este lhe pedir pão? Ou lhe dará uma cobra, se este lhe pedir peixe? Ora, se vós que sois maus sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais o vosso Pai que está nos céus dará coisas boas aos que lhe perdem!
(Mateus, 11: 28-30. Bíblia de Jerusalém).
Ao analisar essa passagem evangélica, Kardec apresenta a seguinte argumentação: “Do ponto de vista terreno a máxima: Buscai e achareis é semelhante a esta outra: Ajuda-te, que o céu te ajudará. É o princípio da lei do trabalho e, por conseguinte, da lei do progresso, pois o progresso é filho do trabalho, visto que o trabalho põe em ação as forças da inteligência.” (1)
Enfatiza também que se Se Deus houvesse dispensado o homem do trabalho do corpo, seus membros se teriam atrofiado; se o tivesse dispensado do trabalho da inteligência, seu espírito teria permanecido na infância, no estado de instinto animal. É por isso que Ele fez do trabalho uma necessidade produzirás. Dessa maneira serás filho das tuas obras, terás o mérito delas e serás recompensado de acordo com o que hajas feito. (2)
Compreende-se, então, por que o necessitado deve cooperar, fazer a parte que lhe cabe sempre que solicita auxílio a alguém. Jamais deve entregar-se ao jogo das circunstâncias, revoltar-se ou sucumbir-se às provações, condições que lhe agravam o sofrimento. É preciso não confundir submissão às provas da vida com resignação. A primeira produz alienação, quando não conduz ao desespero. A segunda é sempre ativa por se encontrar alicerçada na fé. 
Há inúmeros fatores envolvidos no processo de assistência espiritual, os quais podem ser assim considerados, sem nenhuma pretensão de ter esgotado o assunto:
• A assistência espiritual deve favorecer o crescimento individual
Os Espíritos benfeitores esclarecidos jamais estimulam a inércia, a preguiça ou a indolência em seus tutelados. […] “Não, os Espíritos não vêm dispensar o homem da lei do trabalho, mas mostrar-lhe a meta que lhe cumpre atingir e o caminho que a ela conduz, dizendo-lhe: Anda e chegarás. Encontrarás pedras sob os teus passos; olha e tira-as tu mesmo. Nós te daremos a força necessária, se a quiseres empregar.” (3)
• A assistência espiritual envolve compromisso moral.
Do ponto de vista moral, essas palavras de Jesus [“Buscai e achareis”. “Batei à porta e ela vos será aberta”] significam: Pedi a luz que deve iluminar o vosso o caminho e ela vos será dada;
pedi forças para resistirdes ao mal e a tereis; pedi a assistência dos Espíritos bons e eles virão acompanhar-vos e vos servirão de guia, tal como o anjo de Tobias; pedi bons conselhos e eles jamais vos serão recusados; batei à nossa porta: ela se abrirá para vós; mas, pedi sinceramente, com fé, fervor e confiança; apresentai-vos com humildade e não com arrogância, sem o que sereis abandonados às vossas próprias forças e caireis, como justo castigo do vosso orgulho. (4)
• O auxílio espiritual não comporta ostentação de qualquer natureza
Jesus pronuncia, a respeito, um alerta que deve ser objeto de reflexão:
Guardai-vos de praticar a vossa justiça diante dos homens para serdes vistos por eles. Do contrário, não recebereis recompensa junto ao vosso Pai que está nos céus. Por isso, quando deres esmola, não te ponhas a trombetear em público, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, com o propósito de ser glorificados pelos homens. Em verdade vos digo: já receberam sua recompensa. Tu, porém, quando deres esmola, não saiba tua mão esquerda o que faz tua direita, para que tua esmola fique em segredo; e o teu Pai, que vê , te recompensará.
(Mateus, 6: 1-4. Bíblia de Jerusalém)
Em complementação, analisa Kardec:
Há grande mérito em fazer o bem sem ostentação; ocultar a mão que dá é ainda mais meritório; constitui sinal incontestável de grande superioridade moral, porque, para encarar as coisas de mais alto do que o faz o vulgo, é preciso fazer abstração da vida presente e se identificar com a vida futura; numa palavra, é necessário colocar-se acima da Humanidade, para renunciar à satisfação que resulta do testemunho dos homens e esperar a aprovação de Deus. Aquele que prefere o sufrágio dos homens ao sufrágio divino, prova que tem mais fé nos homens do que em Deus e que dá mais valor à vida presente do que à vida futura, ou mesmo que não crê na vida futura. Se diz o contrário, age como se não acreditasse no que diz. (5)
• O legítimo amparo espiritual não aguarda retribuição […] Quantos há que só dão na expectativa de que o que recebe irá bradar por toda a parte o benefício recebido! que, publicamente, dariam grandes somas e que, às ocultas, não dariam uma única moeda! Foi por isso que Jesus declarou: “Os que fazem o bem com ostentação já receberam a sua recompensa”. (6)
• A assistência espiritual não impõe condições de auxílio Qual será, então, a recompensa daquele que faz pesar os seus benefícios sobre aquele que os recebe, que lhe impõe, de certo modo, testemunhos de reconhecimento, que lhe faz sentir a sua posição, exaltando o preço dos sacrifícios a que se impõe para beneficiá-lo?
[…] O bem que praticou não resulta em nenhum proveito para ele, pois que o deplora, e todo benefício deplorado é moeda falsa e sem valor. (7)
• O amparo espiritual não deve ser divulgado A beneficência praticada sem ostentação tem duplo mérito. Além de ser caridade material, é caridade moral, visto que resguarda a suscetibilidade do beneficiado, faz-lhe aceitar o benefício sem que seu amor-próprio se ressinta e salvaguardando-lhe a dignidade de homem, porque aceitar um serviço é coisa bem diversa de receber uma esmola. Ora, converter o serviço em esmola, pela maneira de prestá-lo, é humilhar o que o recebe, e há
sempre orgulho e maldade em humilhar os outros. A verdadeira caridade, ao contrário, é delicada e engenhosa em dissimular o benefício, em evitar até as simples aparências capazes de melindrar, já que todo atrito moral aumenta o sofrimento que se origina da necessidade. Ela sabe encontrar palavras brandas e afáveis que colocam o beneficiado à vontade em presença do benfeitor, ao passo que a caridade orgulhosa o esmaga. A verdadeira generosidade torna-se sublime quando o benfeitor, invertendo os papéis, acha meios de figurar como beneficiado diante daquele a quem presta serviço. Eis o que significam estas palavras: “Não saiba a mão esquerda o que dá a direita”. (8)
2. Os benfeitores espirituais.
São Espíritos devotados ao bem que demonstram sincera alegria em
auxiliar o próximo. Fazem parte de diferentes grupos, de acordo com a escala espírita que consta de O livro dos espíritos, sendo que alguns possuem qualidades morais e intelectuais superiores. Há três categorias principais: Anjos da guarda, Espíritos protetores, familiares ou simpáticos. 
2.1 – Anjo da guarda ou guardião espiritual.
O Espírito guardião é sempre de ordem elevada. A missão do guardião
é semelhante a […] “de um pai em relação aos filhos: conduzir seu protegido pelo bom caminho, ajudá-lo com seus conselhos, consolá-lo nas aflições e sustentar sua coragem nas provas da vida.” (9) O guardião acompanha o tutelado durante toda a reencarnação, do […] “nascimento até a morte. Muitas vezes ele o segue após a morte, na vida espiritual, e mesmo através muitas existências corporais” […]. (10) A ação protetora do Espírito guardião, porém, raramente se manifesta de forma ostensiva, a fim de não impedir a livre manifestação da vontade do protegido.
Se contásseis com o amparo deles, não agiríeis por vós mesmos e o vosso Espírito não progrediria. O Espírito precisa de experiência para adiantar-se, experiência que, na maioria das vezes, deve ser adquirida à sua custa. É necessário que exercite suas forças, pois, do contrário, seria como uma criança a quem não permitem que ande sozinha. A ação dos Espíritos que vos querem bem é sempre regulada de maneira a não tolher o vosso livre-arbítrio, visto que, se não tivésseis responsabilidade, não avançaríeis no caminho que vos há de conduzir a Deus. Não vendo quem o ampara, o homem se entrega às suas
próprias forças; seu guia, entretanto, vela por ele e, de vez em quando, em alto e bom som, o adverte do perigo. (11)
2.2 – Espíritos simpáticos.
São protetores que, em geral, desempenham missões temporárias junto
aos seus assistidos. Aproximam destes em razão de afinidades ou similitude de gostos. Apesar das boas intenções reveladas, a ação dos Espíritos simpáticos nem sempre alcançam o êxito desejado, pois o protetor ou o protegido podem ainda estar presos a certas imperfeições humanas.
Os Espíritos simpáticos são os que se sentem atraídos para nós por afeições particulares e por uma certa semelhança de gostos e de sentimentos, tanto para o bem quanto para o mal. A duração de suas relações se acha quase sempre subordinada às circunstâncias. […]. (12)
2.3 – Espíritos familiares.
Os Espíritos familiares se ligam a certas pessoas por laços mais ou menos duráveis, a fim de lhes serem úteis, dentro dos limites do poder de que dispõem, quase sempre muito restrito. São bons, mas às vezes pouco adiantados e mesmo um tanto levianos. Ocupam-se de boa vontade com as particularidades da vida íntima e só atuam por ordem ou com permissão dos Espíritos protetores. […]. (12)
Emmanuel orienta que conduta deve ser seguida perante o auxílio transmitido pelos benfeitores espirituais:
Confiemos nos benfeitores e nas bênçãos que nos enriquecem os dias, sem, no entanto, esquecer as próprias obrigações, no aproveitamento do amparo que nos ofertam. Pais abnegados da Terra, que nos propiciam o ensejo da reencarnação, por muito se façam servidores de nossa felicidade, não nos retiram da experiência de que somos carecedores. Mestres que nos arrancam às sombras da ignorância, por muito carinho nos dediquem, não nos isentam do aprendizado. Amigos que nos reconfortam na travessia dos momentos amargos, por mais nos estimem, não nos carregam a luta íntima. Cientistas que nos refazem as forças, nos dias de enfermidade, por mais nos amem, não usam por nós a medicação que as circunstâncias nos aconselham. Instrutores da alma que nos orientam a viagem de elevação, por muito nos protejam, não nos suprimem o suor da subida moral. […]. (21)
3. A assistência espiritual na Casa Espírita.
Trata-se de […] “um conjunto de atividades que visa a atender, adequadamente, as pessoas que buscam e frequentam o Centro Espírita visando a obter esclarecimento, orientação, ajuda e assistência espiritual e moral. ” (13)
O atendimento espiritual na Casa espírita tem como finalidade precípua:
“Acolher as pessoas, por meio de ações fraternas e continuadas, de conformidade com os princípios do Evangelho à luz da Doutrina Espírita, oferecendo aos que frequentam o Centro Espírita — em especial aos que o procuram pela primeira vez — o apoio, o esclarecimento, a consolação e o amparo de que necessitam para vencer as suas dificuldades. ” (14)
O trabalho engloba, em geral, as seguintes atividades:
Recepção: “consiste em receber os que chegam ao Centro Espírita, de
forma fraterna e solidária, conforme orienta o Evangelho à luz da Doutrina Espírita.” (15)
Atendimento fraterno pelo diálogo: […] “consiste em receber fraternalmente aquele que busca o Centro Espírita, dando-lhe a oportunidade de expor, livremente e em caráter privativo e sigiloso, suas dificuldades e necessidades.” (16)
Explanação do Evangelho: “É uma reunião pública para a explanação
do Evangelho à luz da Doutrina Espírita, de maneira programada e com uma sequência de trabalho previamente estabelecida.” (17)
Atendimento pelo passe: “O Passe, à luz da Doutrina Espírita, é uma
transmissão de energias fluídicas de uma pessoa — conhecida como médium passista — para outra pessoa que as recebe, em clima de prece, com a assistência dos Espíritos Superiores.” (18)
Irradiação: “É uma reunião privativa de vibração em conjunto para irradiar energias de paz, de amor e de harmonia, inspiradas na prática do Evangelho à luz da Doutrina Espírita, em favor de encarnados e desencarnados carentes de atendimento espiritual.” (19)
Evangelho no lar: “É uma reunião semanal da família, em dia e hora previamente estabelecidos, para o estudo do Evangelho à luz da Doutrina Espírita e a oração em conjunto.” (20)
À medida que o ser humano aperfeiçoa, fortalece-lhe a vontade de fazer o bem, de ser útil, de alguma forma, aos que sofrem. A Casa Espírita conta com o trabalho desses trabalhadores, que persistem no propósito de reduzir a carga de sofrimento que pesa sobre os ombros de seus irmãos, em humanidade. Em geral, são colaboradores anônimos, mas não menos devotados, os quais, com o passar do tempo, se transformam em instrumentos dóceis e sinceros dos benfeitores espirituais. Neste contexto, aconselha Emmanuel: (22)
Se já acordaste para o conhecimento superior, caminhas à frente com a função de guiar.
Convence-te de que quanto mais se te amplie o aperfeiçoamento íntimo, mais dilatado o número dos olhos e dos ouvidos que te procuram ver e escutar, de vez que todos aqueles que se afinam contigo, em subalternidade espiritual, passam, mecanicamente,
à condição de aprendizes que te observam. Não te descuides, pois, do amparo aos que te acompanham no educandário da vida, entendendo-se que existem quedas de pensamento determinando lamentáveis acidentes de espírito. Em toda a situação, seleciona palavras e atitudes que possam efetivamente ajudar. Ante as falhas alheias, não procedas
irrefletidamente, censurando ou aprovando isso ou aquilo, sem análise justa, a pretexto de assegurar a harmonia, mas define-te com bondade, providenciando corretivos aconselháveis, sem alarde e sem aspereza.
Se aparece a necessidade de advertência ou repreensão, já que toda escola respeitável reclama disciplina, oferece o próprio exemplo
no dever retamente cumprido, antes de falar, e, falando, escolhe, tanto quanto seja possível, lugar, tempo e maneira, segundo os comprometimentos havidos na causa do bem comum. […]Administra, onde estiveres, o auxílio espiritual com a alavanca do próprio equilíbrio. Vigilância sem violência. Calma sem preguiça. Consolo sem mentira. Verdade sem drama. Se já sabes o que deves fazer, no plano da alma, trazes o coração chamado a instruir, e um professor verdadeiro, enxergando mais longe, não apenas informa e ensina, mas também socorre e vela.

REFERÊNCIAS

1. KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. 3. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2008. Cap. XXV, item 2, p. 439.
2. ______. Item 3, p. 440-441.
3. ______. Item 4, p. 441.
4. ______. Item 5, p. 441-442.
5. ______. Cap. XIII, item 3, p. 256.
6. ______. p. 257.
7. ______. p. 257-258.
8. ______. p. 258.
9. KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. 2 ed. Rio de Janeiro: FEB, 2008. Parte segunda. Cap. IX, questão 491, p. 335.
10. ______. Questão 492, p. 335.
11. ______. Questão 501, p. 340.
12. ______. Questão 514, 345.
13. Federação Espírita Brasileira, Conselho Federativo Nacional.
Orientação ao centro espírita. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Cap. III, p. 31.
14. ______. Cap. III, p. 32.
15. ______. Cap. III-a, p. 33.
16. ______. Cap. III-b, p. 35.
17. ______. Cap. III-c, p. 39.
18. ______. Cap. III-d, p. 43.
19. ______. Cap. III-e, p. 47.
20. ______. Cap. III-f, p. 49.
21. XAVIER, Francisco Cândido. Estude e viva. Pelos Espíritos Emmanuel e André Luiz. 13. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2008. Cap. 4 (Benfeitores e bênçãos, mensagem de Emmanuel), p.33-34.
22. ______. Cap. 34 (Amparo Espiritual – mensagem de Emmanuel ), p. 198-200.

ORIENTAÇÕES AO MONITOR

Pedir aos participantes que façam leitura silenciosa do texto Seja Voluntário, de Cairbar Schutel, inserido no anexo deste Roteiro de Estudo.
Trocar opiniões a respeito das ideias desenvolvidas no texto lido. Ato contínuo, analisar em conjunto com os participantes: a) os fundamentos da assistência espiritual; b) como se processa a
ação dos Espíritos benfeitores e, c) como desenvolver o serviço de atendimento espiritual na casa espírita.
É importante que o conteúdo seja, efetivamente, analisado por meio de discussão fraterna.

ANEXO

Seja Voluntário *
Cairbar Schutel

Seja voluntário na evangelização infantil.
Não aguarde convite para contribuir em favor da Boa Nova no coração
das crianças. Auxilie a plantação do futuro.
Seja voluntário no Culto do Evangelho. Não espere a participação de todos os companheiros do lar para iniciá-lo.
Se preciso, faça-o sozinho.
Seja voluntário no templo espírita.
Não aguarde ser eleito diretor para cooperar. Colabore sem impor condições, em algum setor, hoje mesmo.
Seja voluntário no estudo edificante.
Não espere que os outros lhe chamem a atenção. Estude por conta própria.
Seja voluntário na mediunidade.
Não aguarde o desenvolvimento mediúnico, sistematicamente sentado à mesa de sessões. Procure a convivência dos Espíritos Superiores, amparando os infelizes.
Seja voluntário na assistência social.
Não espere que lhe venham puxar o paletó, rogando auxílio. Busque os
irmãos necessitados e ajude como puder.
Seja voluntário na propaganda libertadora.
Não aguarde riqueza para divulgar os princípios da fé. Dissemine, desde já, livros e publicações doutrinárias.
Seja voluntário na imprensa espírita.
Não espere de braços cruzados a cobrança da assinatura. Envie o seu concurso, ainda que modesto, dentro das suas possibilidades.
Sim, meu Amigo. Não se sinta realizado.
Cultive espontaneidade nas tarefas do bem.
“A sementeira, é grande e os trabalhadores são poucos.”
Vivemos os tempos da renovação fundamental.
Atravessemos, portanto, em serviço, o limiar da Era do Espírito!
Ressoam os clarins da convocação geral para as fileiras do Espiritismo.
Apresente-se em alguma frente de atividade renovadora e sirva sem
descansar.
Quase sempre, espírita sem serviço é alma a caminho de tenebrosos labirintos do Umbral.
Seja voluntário na Seara de Jesus, Nosso Mestre e Senhor!

ROTEIRO 4

Objetivos • Compreender o verdadeiro sentido da felicidade na Terra.
• Explicar o processo de aquisição da felicidade atual e futura.

IDEIAS PRINCIPAIS

ESPIRITISMO, O CONSOLADOR PROMETIDO POR JESUS

MÓDULO I – ESPERANÇAS E CONSOLAÇÕES

• O conceito de felicidade, atual e futura, pode ser resumido na seguinte orientação espírita: Para a vida material, é a posse do necessário; para a vida moral, a consciência tranquila e a fé no futuro.
Allan Kardec: O livro dos  espíritos, questão 922.
• As aquisições materiais não acompanharão o Espírito quando a sua partida para o mundo espiritual. Assim disse Jesus: Não ajunteis para vós tesouros na terra, onde a traça e o caruncho os corroem, e onde os ladrões arrombam e roubam, mas ajuntai para vós tesouros no céu, onde nem a traça, nem o caruncho corroem e onde os ladrões não arrombam nem roubam; pois onde está teu tesouro aí estará também teu coração.(Mateus, 6:19-21. Bíblia de Jerusalém)
• Assinalam os Espíritos superiores: Nada vos pertence na Terra, nem mesmo o vosso próprio corpo: a morte vos despoja dele, como de todos os bens materiais.
Sois depositários e não proprietários, não vos iludais. Deus vos emprestou, tendes que lhe restituir; e Ele vos empresta com a condição de que o supérfluo, pelo menos, reverta em favor dos que não têm sequer o necessário.
Allan Kardec: O evangelho segundo o espiritismo. Cap. XVI, item 14.

SUBSÍDIOS MÓDULO I Roteiro 4

O conceito de felicidade, atual e futura, pode ser resumido na seguinte
orientação espírita: “Para a vida material, é a posse do necessário; para a vida moral, a consciência tranquila e a fé no futuro.” (1)
É preciso, contudo, analisar com segurança a abrangência deste ensino espírita.
O estado de felicidade ainda é relativo, considerando as lutas e os desafios provacionais existentes na Terra. A felicidade completa é um ideal a ser alcançado, a partir da transformação do homem para melhor, como esclarecem os Espíritos da Codificação: […] “porque a vida lhe foi dada como prova ou expiação. Mas depende dele amenizar os seus males e ser tão feliz quanto possível na Terra.” (2)
Cedo ou tarde, porém, a Humanidade terrestre será feliz, pois esta é a
sua destinação, prevista nos códigos divinos. Com a evolução paulatina, o ser humano aprende a construir a própria felicidade, uma vez que ele […] “é quase sempre o artífice da sua própria infelicidade.
Praticando a lei de Deus, ele pode poupar-se de muitos males e alcançar felicidade tão grande quanto o comporte a sua existência grosseira.” (3)
O homem que se acha bem compenetrado de seu destino futuro não vê na vida corporal mais do que uma estação temporária; é como uma parada momentânea numa hospedaria precária. Consola-se facilmente de alguns aborrecimentos passageiros de uma viagem que deve conduzi-lo a uma posição tanto melhor, quanto melhor tenha
cuidado dos preparativos para realizá-la. Somos punidos já nesta vida pelas infrações que cometemos às leis que regem a existência corporal, por meio dos males decorrentes dessas mesmas infrações e dos nossos próprios excessos. Se remontarmos pouco a pouco à origem do que chamamos nossas desgraças terrenas, veremos que, na maioria dos casos, são a conseqüência de um primeiro afastamento do caminho reto. Em virtude desse desvio, enveredamos por outro, mau, e, de consequência em conseqüência, caímos na desgraça. (4)
1. Em que consiste a felicidade na Terra.
A busca da felicidade em um mundo de transição como a Terra pode resultar infrutífera, caso a pessoa concentre suas ações na posse de bens materiais e se descuide da aquisição de valores espirituais. Os bens materiais devem ser considerados, neste aspecto, os meios e não fins da felicidade.
Todo discípulo do Evangelho precisará coragem para atacar os serviços da redenção de si mesmo. Nenhum dispensará as armaduras da fé, a fim de marchar com desassombro sob tempestades. O caminho de resgate e elevação permanece cheio de espinhos. O trabalho constituir-se-á de lutas, de sofrimentos, de sacrifícios, de suor, de testemunhos. […]. (5)
É por este motivo que os bons Espíritos ensinam que devemos aprender a discernir a respeito do que, efetivamente, é necessário e o que é supérfluo à existência. Trata-se, na verdade, de poderoso desafio, considerando o utilitarismo e o consumismo presentes na sociedade moderna.
Em lúcida mensagem transmitida em 1863, em Paris, o Espírito FrançoisNicoles-Madeleine apresenta estas considerações: (6) Não sou feliz! A felicidade não foi feita para mim! Exclama geralmente o homem em todas as posições sociais. Isso, meus caros filhos, prova, melhor do que todos os raciocínios possíveis, a verdade desta máxima do Eclesiastes: “A felicidade não é deste mundo.” Com efeito, nem a riqueza, nem o poder, nem mesmo a juventude em flor são condições essenciais à felicidade. Digo mais: nem mesmo a reunião dessas três condições tão desejadas, porque incessantemente se ouvem, no seio das classes mais privilegiadas, pessoas de todas as idades se queixarem amargamente da situação em que se encontram.
[…] Neste mundo, por mais que se faça, cada um tem a sua parte de labor e de miséria, sua cota de sofrimentos e de decepções, pelo que é fácil chegar-se à conclusão de que a Terra é um lugar de provas e de expiações. […] Em tese geral, pode-se afirmar que a felicidade é uma utopia a cuja conquista as gerações se lançam sucessivamente, sem
jamais conseguirem alcançá-la. Se o homem ajuizado é uma raridade neste mundo, o homem absolutamente feliz jamais foi encontrado. Aquilo em que consiste a felicidade na Terra é coisa tão efêmera para aquele que não se deixa guiar pela ponderação, que, por um ano, um mês, uma semana de satisfação completa, todo o resto da existência é
uma série de amarguras e decepções. […].
O apego sempre reflete imperfeição moral, seja ele direcionado aos bens materiais ou às pessoas. Não se deve, contudo, confundir apego com amor. O apego é sempre de natureza restritiva, egoística. O amor, ao contrário, sabe dividir, concede liberdade e desapego.
Emmanuel esclarece bem essa situação e faz algumas recomendações
oportunas: (7)
[…] A nobreza de caráter, a confiança, a benevolência, a fé, a ciência, a penetração, os dons e as possibilidades são fios preciosos, mas o amor é o tear divino que os entrelaçará, tecendo a túnica da perfeição espiritual. A disciplina e a educação, a escola e a cultura, o esforço e a obra, são flores e frutos na árvore da vida, todavia, o amor é a raiz eterna.
Mas, como amaremos no serviço diário? Renovemo-nos no espírito do Senhor e compreendamos os nossos semelhantes. Auxiliemos em silêncio, entendendo a situação de cada um, temperando a bondade com a energia, e a fraternidade com a justiça. Ouçamos a sugestão do amor, a cada passo, na senda evolutiva. Quem ama, compreende; e quem compreende, trabalha pelo mundo melhor.
Há também outro aspecto da questão: os bens materiais não acompanharão o Espírito no mundo espiritual, após a morte do corpo físico. Nem mesmo este será levado. Assim, é sempre útil meditar a respeito desta orientação de Jesus:
Não ajunteis para vós tesouros na terra, onde a traça e o caruncho os corroem, e onde os ladrões arrombam e roubam, mas ajuntai para vós tesouros no céu, onde nem a traça, nem o caruncho corroem e onde os ladrões não arrombam nem roubam; pois onde está teu tesouro aí estará também teu coração.
(Mateus, 6:19-21. Bíblia de Jerusalém)
A última frase do ensinamento do Mestre, a que afirma: “pois onde está
teu tesouro, aí estará também teu coração”, é plena de sabedoria. Jesus destaca o valor do amor, representado na palavra “coração”. Significa dizer que a pessoa que ama concentra todas as suas energias, sentimentos e emoções no objeto do seu afeto, no seu “tesouro”, de acordo com o conceito evangélico. Além disso, destaca-se nessa passagem evangélica a questão da perecibilidade dos bens materiais e a perenidade dos tesouros espirituais.
Conforme esclarecem os Espíritos Superiores, os bens materiais são
transitoriamente concedidos por Deus aos homens para serem utilizados em proveito de seu crescimento espiritual:
Os bens da Terra pertencem a Deus, que os distribui à vontade, não sendo o homem senão o usufrutuário, o administrador mais ou menos íntegro e inteligente desses bens. Tanto eles não constituem propriedade individual do homem, que Deus anula frequentemente
todas as previsões, o que faz a riqueza escapar daquele que se julga com os melhores títulos para possuí-la. […]. (8)
Todas as coisas da matéria desaparecerão um dia, mesmo as que se revelam duráveis, seja pela natural corrosão do tempo seja pela transformação operada na Natureza. Assim, ninguém é proprietário de qualquer bem material.
Ainda que os processos de segurança sejam eficientes, esses bens não resistem aos assaltos da cobiça de alguns indivíduos, ao roubo, à destruição proposital ou por acidentes, de forma que mais dia, menos dia, serão inevitavelmente transferidos a outrem.
É o que ensina Pascal, em mensagem transmitida em Genebra, na Suiça, no ano de 1860, mas que permanece atual:
O homem só possui em plena propriedade aquilo que lhe é dado levar deste mundo.
Do que encontra ao chegar e deixa ao partir goza ele enquanto aqui permanece. Desde, porém, que é forçado a abandonar tudo isso, não tem a posse real das suas riquezas, mas, simplesmente, o usufruto. Que possui ele, então? Nada do que é de uso do corpo; tudo o que é de uso da alma: a inteligência, os conhecimentos, as qualidades morais. Isso é o que ele traz e leva consigo, o que ninguém lhe pode arrebatar, o que lhe será de muito mais utilidade no outro mundo do que neste.
Depende dele ser mais rico ao partir do que ao chegar, porque, daquilo que tiver adquirido em bem, resultará a sua posição futura. […]. (9)
Os homens prudentes empenham-se em adquirir tesouros eternos, não
transitórios. Já afirmava, a propósito, um Espírito Protetor:
Quando considero a brevidade da vida, impressiona-me dolorosamente a incessante preocupação de que é para vós objeto o bem-estar material, enquanto dais tão pouca importância ao vosso aperfeiçoamento moral, a que consagrais pouco ou nenhum tempo e que, no entanto, é o que importa para a eternidade. Dir-se-ia, diante da atividade que desenvolveis, tratar-se de uma questão do mais alto interesse para a Humanidade, quando não se trata, na maioria dos casos, senão de vos pordes em condições de satisfazer as necessidades exageradas, à vaidade, ou de vos entregardes a excessos. Quanta
aflição, inquietações e tormentos cada um se impõe; quantas noites de insônia, para aumentar uma fortuna muitas vezes mais que suficiente! Por cúmulo da cegueira, não é raro se encontrarem pessoas, escravizadas a penosos trabalhos pelo amor imoderado da riqueza e dos gozos que ela proporciona, a se vangloriarem de viver uma existência dita de sacrifício e dee não para si mesmas! Insensatos! (10)
A felicidade futura encontra-se estritamente na dependência das ações
realizadas no presente. Sendo assim, é importante viver o momento atual, consciente de que esta vivência terá conseqüências na vida futura. Para tanto, é necessária a aquisição de bens imperecíveis, representada pelo tesouro do conhecimento e da moral. Trata-se, é verdade, de uma tarefa árdua, de investimento contínuo, mas, com certeza, garantidor de felicidade duradoura, no presente e no futuro, em ambos os planos da vida.
A chave da felicidade revela-se, segundo o Espiritismo, na prática do bem, no qual se é possível exercitar a caridade. Tal prática deve ter como fundamento as lições do Evangelho, conforme assinala Vicente de Paulo: (11)
Sede bons e caridosos, pois essa é a chave dos céus, chave que tendes em vossas mãos. Toda a eterna felicidade se acha contida neste preceito: Amai-vos uns aos outros. A alma não pode elevar-se às altas regiões espirituais, senão pelo devotamento ao próximo e só encontra consolação e ventura nos arroubos da caridade. Sede bons, amparai os vossos irmãos, deixai de lado a horrenda chaga do egoísmo. Cumprido esse dever, o caminho da vida eterna se vos abrirá. […] Não vos faltam os exemplos; rara é apenas a boa vontade. Vede a multidão de homens de bem, cuja lembrança é guardada pela vossa História.
O Cristo não vos disse tudo o que tem relação com as virtudes da caridade e do amor?
Por que deixar de lado os seus divinos ensinamentos? Por que fechar os ouvidos às suas divinas palavras, o coração a todas as suas suaves sentenças? Gostaria que dispensassem mais interesse, mais fé às leituras evangélicas. […] Vossos males provêm apenas do abandono voluntário a que relegais esse resumo das leis divinas. Lede-lhe as páginas cintilantes do devotamento de Jesus e meditai-as. Homens fortes, armai-vos; homens fracos, fazei da vossa brandura, da vossa fé, as vossas armas. Sede mais persuasivos, tende mais constância na propagação da vossa nova doutrina.
2. Aspectos que garantem a felicidade atual e futura O Espírito Lacordaire (12) analisa com sabedoria as más conseqüências do apego aos bens terrenos, assinalando aspectos que garantem a felicidade, atual e futura. Destacamos, em seguida, os trechos mais significativos desta importante mensagem que se encontra em O evangelho segundo o espiritismo:
• O amor aos bens terrenos é um dos mais fortes entraves ao vosso adiantamento moral e espiritual. Pelo apego à posse de tais bens, destruís as vossas faculdades de amar, ao aplicá-las todas às coisas materiais. Sede sinceros: a riqueza proporciona uma felicidade sem mescla?
• Compreendo a satisfação, bem justa, aliás, que experimenta o homem que, por meio de trabalho honrado e assíduo, ganhou uma fortuna; mas, dessa satisfação, muito natural e que Deus aprova, a um apego que absorve todos os outros sentimentos e paralisa os impulsos do coração vai grande distância, tão grande quanto a que separa a prodigalidade exagerada da sórdida avareza, dois vícios entre os quais Deus colocou a caridade, santa e salutar virtude que ensina o rico a dar sem ostentação, para que o pobre receba sem baixeza.
• Nada vos pertence na Terra, nem mesmo o vosso próprio corpo: a morte vos despoja dele, como de todos os bens materiais. Sois depositários e não proprietários, não vos restituir; e Ele vos empresta com a condição de que o supérfluo, pelo menos, reverta em favor dos que não têm sequer o necessário.
• Os bens que Deus vos confiou despertam nos vossos corações ardente e desvairada cobiça. Já pensastes, quando vos apegais imoderadamente a uma riqueza perecível e passageira como vós mesmos, que um dia tereis de prestar contas ao Senhor daquilo que vos veio dele?
• É em vão que procurais iludir-vos na Terra,colorindo com o nome de virtude o que muitas vezes não passa de egoísmo. Em vão chamais economia e previdência ao que é apenas cupidez e avareza, ou generosidade ao que não passa de prodigalidade em proveito vosso.
Um pai de família, por exemplo, se abstém de praticar a caridade, economizando, amontoando ouro, para, diz ele, deixar aos filhos a maior soma possível de bens e evitar que caiam na miséria. É muito justo e paternal, convenho, e ninguém pode censurar; mas, será esse o único motivo que o guia?
• Infelizmente, no homem que possui bens de fortuna há um sentimento tão forte quanto o apego aos mesmos bens: é o orgulho.
• Esbanjar a riqueza não é demonstrar desprendimento dos bens terrenos:
é descaso e indiferença. Como depositário desses bens, o homem não tem o direito de os dilapidar, nem de os confiscar em seu proveito. Prodigalidade não é generosidade; é, muitas vezes, uma forma de egoísmo. Alguém que esbanje a mancheias o ouro de que disponha, para satisfazer a uma fantasia, talvez não dê um centavo para prestar um serviço.
• O desapego aos bens terrenos consiste em apreciar a riqueza no seu justo valor, em saber servir-se dela em benefício dos outros e não apenas em benefício próprio, em não sacrificar por ela os interesses da vida futura,
em perdê-la sem murmurar, caso apraza a Deus retirá-la.
• Ponderai, sobretudo, que há bens infinitamente mais preciosos do que os da Terra e essa ideia vos ajudará a desprender-vos destes últimos. O pouco apreço que se ligue a uma coisa torna menos sensível a sua perda.
O homem que se apega aos bens terrenos é como a criança, que só vê o
momento presente. O que deles se desprende é como o adulto que vê as
coisas mais importantes, por compreender estas palavras proféticas do
Salvador: “O meu reino não é deste mundo”.
• O Senhor não ordena a ninguém que se despoje do que possua, condenando-o, assim, a uma mendicidade voluntária, porquanto, quem assim agisse, tornar-se-ia uma carga para a sociedade. Proceder desse modo seria compreender mal o desprendimento dos bens terrenos, um egoísmo de outro gênero, porque seria o indivíduo eximir-se da responsabilidade que a riqueza faz pesar sobre aquele que a possui.
• O rico tem, pois, uma missão, que ele pode embelezar e tornar proveitosa a si mesmo. Rejeitar a riqueza, quando Deus vo-la dar, é renunciar aos benefícios do bem que se pode fazer, administrando-a com sabedoria.
• Aí tendes, meus amigos, o que eu queria vos ensinar acerca do desprendimento dos bens terrenos. Resumirei o que expus, dizendo: Sabei vos contentar com pouco. Se sois pobres, não invejeis os ricos, porque a riqueza não é necessária à felicidade. Se sois ricos, não esqueçais que esses bens apenas vos estão confiados e que deveis justificar o emprego que lhes derdes, como se prestásseis contas de uma tutela.

REFERÊNCIAS

1. KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Tradução de Evandro Noleto Bezerra.
2 ed. Rio de Janeiro: FEB, 2008, questão 922, p. 558.
2. ______. Questão 920, p. 557.
3. ______. Questão 921, p. 557-558.
4. ______. Questão 921 – comentário, p. 558.
5. XAVIER, Francisco Cândido. Vinha de luz. Pelo Espírito Emmanuel. 24 ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Cap. 5, p. 27.
6. KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. 1 ed. Rio de Janeiro: FEB, 2009. Cap. V, item 20, p.129- 130.
7. XAVIER, Francisco Cândido. Vinha de luz. Op. Cit., p. 27-28.
8. KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. Op. Cit. Cap. VI, item 10, p. 321.
9. ______. Item 9, p. 320.
10. ______. Item 12, p. 324.
11. ______. Cap. XIII, item 12, p. 170-171.
12. ______. Cap. XVI, item 14, p.326-331.

ORIENTAÇÕES AO MONITOR

Introduzir o tema, apresentando a orientação de Jesus que consta em Mateus, 6:19-21 (veja ideias principais), que deve ser analisado em conjunto com a turma.
Em seguida, pedir aos participantes que façam leitura reflexiva do Roteiro e, ao final, trocar ideias, em plenário, a respeito dos dois conteúdos: a) o significado de felicidade atual e futura; b) condições
que garantem a felicidade atual e a futura Realizar o fechamento do estudo com base na mensagem de Emmanuel (Riqueza para o céu),
inserida em anexo.

ANEXO

Riqueza para o Céu *

Emmanuel

“Ajuntai tesouros no céu…”
Jesus. (Mateus, 6:20.)
Quem se aflige indebitamente, ao ver o triunfo e a prosperidade de muitos homens impiedosos e egoístas, no fundo dá mostras de inveja, revolta, ambição e desesperança. É preciso que assim não seja!
Afinal, quem pode dizer que retém as vantagens da Terra, com o devido
merecimento?
Se observamos homens e mulheres, despojados de qualquer escrúpulo moral, detendo valores transitórios do mundo, tenhamos, ao revés, pena deles.
A palavra do Cristo é clara e insofismável.
— “Ajuntai tesouros no céu” — disse-nos o Senhor. Isso quer dizer “acumulemos valores íntimos para comungar a glória eterna!”
Efêmera será sempre a galeria de evidência carnal.
Beleza física, poder temporário, propriedade passageira e fortuna amoedada podem ser simples atributo da máscara humana, que o tempo transforma, infatigável.
Amealhemos bondade e cultura, compreensão e simpatia.
Sem o tesouro da educação pessoal é inútil a nossa penetração nos céus, porquanto estaríamos órfãos de sintonia para corresponder aos apelos da Vida Superior.
Cresçamos na virtude e incorporemos a verdadeira sabedoria, porque
amanhã seremos visitados pela mão niveladora da morte e possuiremos tão somente as qualidades nobres ou aviltantes que houvermos instalado em nós mesmos.

ANEXO

EADE – Roteiro 4 – A Felicidade Atual e Futura
_______________
* XAVIER, Francisco Cândido. Fonte viva. Pelo Espírito Emmanuel. 34 ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Cap. 177, p. 425-426.
Todo discípulo do Evangelho precisará coragem para atacar os serviços da redenção de si mesmo. Nenhum dispensará as armaduras da fé, a fim de marchar com desassombro sob tempestades. O caminho de resgate e elevação permanece cheio de espinhos. O trabalho constitui-se-á de lutas, de sofrimentos, de sacrifícios, de suor, de testemunhos. […].

Vinha de Luz

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