HÁ DUAS PORTAS A LARGA E A ESTREITA JESUS

HÁ DUAS PORTAS A LARGA E A ESTREITA – JESUS

A Porta Estreita e a Porta Larga (jesus).

 Dineu de Paula
Em conhecida passagem do Evangelho, Jesus exorta os homens a que entrem pela porta estreita, alertando-os de que larga é a porta, e espaçoso, o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela; E porque estreita é a porta, e apertado, o caminho que leva à vida, e poucos há que a encontrem (Mateus, 7:13-14).
É preciso compatibilizar tais assertivas com a figura de um Deus pleno de amor, justiça, bondade e poder que Ele apresentou à humanidade como um autêntico Pai.
Afinal, tem-se um Pai amoroso estabelecendo nos roteiros de Seus filhos uma passagem estreita e de difícil acesso à felicidade, enquanto a porta para a perdição apresenta-se larga, a ponto de serem poucos os que se saem bem na escolha.
O Espírito Emmanuel, mentor do médium Francisco Cândido Xavier, ajuda a entender a metáfora. No livro Ceifa de luz, ele assevera que nosso dever é nossa escola e que a senda estreita a que se refere Jesus é a fidelidade que nos cabe manter limpa e constante, no culto às obrigações assumidas diante do Bem Eterno. Ainda afirma que, para sustentá-la, é imprescindível sacrificar no santuário do coração tudo aquilo que constitua bagagem de sombra no campo de nossas aspirações e desejos.
Dessas reflexões, surge claro que a passagem pela porta estreita implica o cumprimento dos próprios deveres, o que o homem apenas consegue mediante o sacrifício de seus vícios e paixões negativas.
Os deveres que a vida impõe representam um programa de aprendizado e sublimação, traçado antes da reencarnação, o qual o Espírito se propôs a cumprir. O atendimento de tais deveres costuma ser árduo, pois a eles se contrapõem os hábitos do homem velho, necessitado de retificar suas concepções e se adequar à harmonia das leis cósmicas.
Conforme Kardec elucida em O livro dos Espíritos, nas questões 614 e seguintes, Deus rege o universo com base em leis perfeitas, plenas de justiça e misericórdia, voltadas a realizar a felicidade do homem. Elas lhe indicam o que deve fazer ou deixar de fazer e ele só é infeliz quando delas se afasta. Ou seja, a felicidade deve constituir a regra, e não a exceção.
Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, no capítulo XVIII, item 5, esclarece-se que a porta da salvação não é estreita para a Humanidade em geral, mas apenas para uma sua parcela situada, pelo seu próprio estado evolutivo, em um mundo de provas e expiações. Afinal, não faz mesmo sentido que um Deus amoroso estabeleça uma sistemática na qual a conquista da felicidade é extremamente difícil, a ponto de ensejar a perdição da maioria de Suas criaturas.
A estreiteza da porta traduz, por assim dizer, uma pequena crise do processo evolutivo, na qual o ser imortal é convidado à transcendência, ao abandono de hábitos e sentimentos próprios de fases mais primitivas, mas se apega a eles com certa insistência.
Segundo se infere da Codificação, os mundos de provas e expiações se caracterizam pela imensa maioria de seus habitantes ser formada de Espíritos com importantes conquistas intelectuais, mas moralidade vacilante, pífia, revelada pela presença de numerosos vícios e paixões negativas.
Extrai-se de O Livro dos Espíritos que as paixões humanas não são negativas em seu princípio, na medida em que este se encontra na natureza e tudo o que Deus faz é bom e tem utilidade providencial (questão 907).
As paixões podem levar à realização de grandes coisas, pois decuplicam as forças do homem e o auxiliam na execução dos desígnios da Providência (LE, questão 908). Elas apenas se tornam negativas quando o homem não mais as governa, mas é por elas governado, e causam prejuízo para ele ou para outrem.
A Espiritualidade Superior é enfática ao afirmar que o homem, pelos seus esforços, pode vencer as suas más inclinações. Ela aduz que falta ao homem é vontade de se reformar e ainda lamenta: Ah, quão poucos dentre vós fazem esforços! (LE, questão 909).
Bem se vê que a Humanidade terrena passa por uma crise evolutiva, mais propriamente por uma crise de moralidade, revelada pela vivência de paixões negativas, sobre as quais não exerce o devido controle, quando poderia fazê-lo.
A disciplina em controlar as próprias tendências negativas exige algum esforço, mas é plenamente viável. Ela constitui o necessário para viabilizar a passagem pela porta estreita de que fala o Evangelho. Trata-se de domar em si a ira, o orgulho, a inveja, o egoísmo, o ciúme, a gula, o desequilíbrio da sexualidade, dentre outros hábitos e sentimentos infelizes.
Deus, em Sua sabedoria e em Sua bondade, situa o Espírito encarnado em ambientes nos quais ele é naturalmente convidado à sublimação. Coloca-o em um contexto profissional, familiar e social em que precisa atender uma série de deveres. Se os atende, sacrificando para isso suas fantasias, caprichos e desejos, atravessa a sua porta estreita, a que lhe cabe naquela encarnação.
É necessário e urgente que a criatura encarnada se empenhe em ser um profissional honesto e competente, um pai ou mãe presente e dedicado, um filho respeitoso e obediente, um aluno estudioso, um irmão compreensivo, um esposo fiel e afetuoso, um cidadão honesto etc. Ela precisa atentar para os deveres de cada dia e cumpri-los, sem buscar desculpas para a conduta indigna.
Como ensina o Espírito Lázaro, no item 7 do capítulo XVII de O Evangelho Segundo o Espiritismo, na ordem dos sentimentos, o dever é muito difícil de cumprir-se, por se achar em antagonismo com as atrações do interesse e do coração. Ele também afirma que o dever é o mais belo laurel da razão.
Então, o senso do dever é o mais belo, o maior prêmio que a razão esclarecida confere ao homem. Ele lhe possibilita identificar o que deve fazer, embora a conduta identificada, por vezes, contrarie os desejos mais profundos de seu coração. Uma vez feita essa identificação, resta aplicar a vontade firme para viver e fazer o que é certo, o que implica domar os maus instintos, essa velha herança do primitivismo que impede a conquista da paz e da plenitude. Trata-se da evolução intelectual auxiliando a consolidação da evolução moral.
Convém ressaltar que a evolução moral constitui a conquista por excelência, que faz o Espírito ascender na escala espiritual. A Espiritualidade Superior admite três grandes ordens ou categorias principais de classificação na referida escala, a saber: Espíritos imperfeitos, bons Espíritos e Espíritos puros (LE, questões 100 e ss.).
Para passar de Espírito imperfeito para bom Espírito, o ser imortal precisa vencer por completo as más paixões e ter apenas o desejo do bem. Não são a intelectualidade, os conhecimentos e a ciência que fazem a diferença, mas a questão moral. Conforme consta da questão 107 de O Livro dos Espíritos, os bons Espíritos retiram do amor que os une uma fonte de inefável ventura, que não tem a perturbá-la nem a inveja, nem os remorsos, nem nenhuma das más paixões que constituem o tormento dos Espíritos imperfeitos.
Essa peculiaridade de desejar apenas o bem, de não possuir mais paixões malévolas, é que torna os bons Espíritos tão notáveis, às vezes até incompreensíveis, em sua psicologia.
Um bom exemplo a ser citado é o do Espírito Joanna de Ângelis, mentora do médium Divaldo Pereira Franco, na encarnação em que ostentou o nome de Joana de Cusa e conviveu com Jesus. Segundo a narrativa do livro Boa Nova, do Espírito Humberto de Campos, ditado ao médium Francisco Cândido Xavier, ao final da vida ela se encontrava, juntamente com um filho, amarrada ao poste do martírio. Por ser cristã e não renegar sua fé, foi condenada a ser queimada viva.
Nos derradeiros instantes de sua vida, quando as labaredas já lhe lambiam o corpo envelhecido, a soldadesca ainda a importunava. Um dos soldados lhe indagou se o Cristo apenas lhe havia ensinado a morrer. Ela buscou tomar fôlego, por entre as dores do martírio, e encontrou forças para responder: Não apenas a morrer, mas também a vos amar!
Impressiona que uma pessoa, em instante tão crítico, sendo queimada viva e ainda provocada, tenha encontrado forças para proclamar seu amor pelo verdugo. A chave para entender essa conduta é considerar que Joana de Cusa, nesse momento, já era um bom Espírito. Ela já havia vencido o mal em si mesma, domado todas as paixões negativas. Ela não poderia blasfemar ou ofender, pois nada disso mais existia nela. Em seu íntimo pacificado, havia apenas o bem. Ela já havia cruzado a porta estreita.
Ocorre que ninguém consegue o pleno domínio das más paixões em um repente e nem surge sublime de um instante para o outro. A evolução é um processo gradativo, embora possa ser acelerado enormemente pela vontade.
Pode-se afirmar que há a porta estreita situada ao término de uma longa jornada, que marca a transição da fase de Espírito imperfeito para a de bom Espírito. Mas também existe a porta estreita de cada existência, a fim de que ela seja bem aproveitada.
Deus é que dosa as experiências, conforme as possibilidades de cada um de Seus filhos.
Ao homem resta, em sua condição de aprendiz na grande escola da vida, identificar e cumprir os seus deveres de cada dia. Entender que a sua felicidade não vem de realizar fantasias e caprichos, que frequentemente apenas refletem o desejo de reviver hábitos de um passado que convém deixar para trás em caráter definitivo.
Finalmente, compreender que lhe compete basicamente ser digno e bondoso e aplicar a vontade firme na realização desse projeto, que constitui o seu roteiro de libertação, a sua porta estreita.

Referências bibliográficas:

1. BÍBLIA. Português. Tradução de João Ferreira de Almeida. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 1995.
2. XAVIER, Francisco Cândido.Ceifa de luz. Pelo Espírito Emmanuel. 1.ed. especial. Rio de Janeiro: FEB, 2005.
3. KARDEC, Allan. Tradução de Guillon Ribeiro. O Evangelho segundo o Espiritismo. 3. ed. especial. Rio de Janeiro: FEB, 2005.
4. KARDEC, Allan. Tradução de Guillon Ribeiro. O livro dos Espíritos. 1. ed. especial. Rio de Janeiro: FEB, 2005.
5.XAVIER, Francisco Cândido. Boa nova. Pelo Espírito Humberto de Campos. 33. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005.

O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO

Allan Kardec

A porta estreita.

3. Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta da perdição e espaçoso o caminho que a ela conduz, e muitos são os que por ela entram. — Quão pequena é a porta da vida! quão apertado o caminho que a ela conduz! e quão poucos a encontram! (S. Mateus, 7:13 e 14.)
4. Tendo-lhe alguém feito esta pergunta: Senhor, serão poucos os que se salvam? Respondeu-lhes ele: — Esforçai-vos por entrar pela porta estreita, pois vos asseguro que muitos procurarão transpô -la e não o poderão. — E quando o pai de família houver entrado e fechado a porta, e vós, de fora, começardes a bater, dizendo: Senhor, abre-nos; ele vos responderá: não sei donde sois. — Pôr-vos-eis a dizer: Comemos e bebemos na tua presença e nos instruíste nas nossas praças públicas. — Ele vos responderá: Não sei donde sois; afastai-vos de mim, todos vós que praticais a iniquidade.
Então, haverá prantos e ranger de dentes, quando virdes que Abraão, lsaac, Jacob e todos os profetas estão no reino de Deus e que vós outros sois dele expelidos. — Virão muitos do Oriente e do Ocidente, do Setentrião e do Meio-Dia, que participarão do festim no reino de Deus. — Então, os que forem últimos serão os primeiros e os que forem primeiros serão os últimos. (S. Lucas, 13:23 a 30.)
5. Larga é a porta da perdição, porque são numerosas as paixões más e porque o maior número envereda pelo caminho do mal. É estreita a da salvação, porque a grandes esforços sobre si mesmo é obrigado o homem que a queira transpor, para vencer suas más tendências, coisa a que poucos se resignam. É o complemento da máxima: “Muitos são os chamados e poucos os escolhidos.”
Tal o estado da Humanidade terrena, porque, sendo a Terra mundo de expiação, nela predomina o mal. Quando se achar transformada, a estrada do bem será a mais frequentada. Aquelas palavras devem, pois, entender-se em sentido relativo e não em sentido absoluto. Se houvesse de ser esse o estado normal da Humanidade, teria Deus condenado à perdição a imensa maioria das suas criaturas, suposição inadmissível, desde que se reconheça que Deus é todo justiça e bondade.
Mas, de que delitos esta Humanidade se houvera feito culpada para merecer tão triste sorte, no presente e no futuro, se toda ela se achasse degredada na Terra e se a alma não tivesse tido outras existências? Por que tantos entraves postos diante de seus passos? Por que essa porta tão estreita que só a muito poucos é dado transpor, se a sorte da alma é determinada para sempre, logo após a morte?
Assim é que, com a unicidade da existência, o homem está sempre em contradição consigo mesmo e com a justiça de Deus. Com a anterioridade da alma e a pluralidade dos mundos, o horizonte se alarga; faz-se luz sobre os pontos mais obscuros da fé; o presente e o futuro tornam-se solidários com o passado, e só então se pode compreender toda a profundeza, toda a verdade e toda a sabedoria das máximas do Cristo.
JESUS

As duas Estradas

Itair Ferreira
Jesus, com uma técnica pedagógica única, incomparável, e dotado da presciência divina, sabendo que as Suas palavras teriam que ficar gravadas no tempo e no espaço para eclodirem de forma robusta em nossas almas, utilizou-se de parábolas que, como sementes, na época aprazada, dariam saborosos frutos sem serem interrompidas na sua divina trajetória pelos interesses do poder temporal, por julgá-las historietas sem valor.
Com o surgimento do Espiritismo, as parábolas de Jesus ganharam o seu verdadeiro significado e cada uma a sua sábia destinação: solucionar a equação dos problemas humanos.
No imortal e incomparável Sermão do Monte, em dado momento, o Cristo nos oferece a escolha do caminho a seguir, com a parábola intitulada, “As duas estradas”:
“Entrai pela porta estreita (larga é a porta e espaçoso o caminho que conduz para a perdição e são muitos os que entram por ela), porque estreita é a porta e apertado o caminho que conduz para a vida, e são poucos os que acertam com ela” (1).
Essa porta estreita e esse caminho apertado significam o controle que o espírito humano deve ter sobre as paixões más que o desvirtuam levando-o para a porta larga do caminho, devido às suas más inclinações.
A Terra, catalogada como mundo de expiação e provas, onde predomina o mal, arrasta os que não estiverem firmes na decisão de buscar o bem, os que não renunciam aos seus vícios morais, deixando-se levar pelas facilidades da vida, pela atração dos prazeres efêmeros.
Muitas vezes adiamos a escolha da porta estreita por não nos importarmos com o conhecimento da verdade. “Deixa a vida me levar”, diz o poeta no refrão da música. Dessa forma, vamos driblando as dificuldades, os contratempos próprios da existência, com a negligência dos aspectos superiores da vida.
Jesus sempre aproveitava os horários em que o templo estivesse cheio para ministrar os ensinamentos da lei de Deus, gerando confusão, em vista da rebeldia dos fariseus e dos saduceus, dos sacerdotes e do povo, em aceitarem a sua sublime doutrina. Certa feita, Ele afirmou: “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (2). Mediante essa frase, a fúria tomou conta dos chefes religiosos, pois eles se julgavam os representantes de Deus e da verdade. Isso era uma heresia que deveria ser castigada com a morte. “Pegaram em pedras para atirarem nele”. Mas, como ainda não era chegada a Sua hora, “Jesus se ocultou e saiu do templo”. Posteriormente, advertindo Pedro, Jesus lhe disse: — “Pedro, o homem do mundo é mais frágil do que perverso!” (3).
Essa fragilidade humana é causada pela falta de conhecimento das coisas espirituais. Rebeldia natural gerada pela ignorância. Muitas vezes nos deixamos levar pelas circunstâncias da vida, esperando o tempo tudo resolver, até que somos surpreendidos, como nos afirma o instrutor André Luiz, no capítulo primeiro do seu primeiro livro, Nosso Lar, que narra a sua chegada ao mundo espiritual:
“Oh! Amigos da Terra! Quantos de vós podereis evitar o caminho da amargura com o preparo dos campos interiores do coração? Acendei vossas luzes antes de atravessar a grande sombra. Buscai a verdade, antes que a verdade vos surpreenda. Suai agora para não chorardes depois”.
Muitas pessoas questionam: “Por que essa porta tão estreita que só a muito poucos é dado transpor, se a sorte da alma é determinada para sempre, logo após a morte? Assim é que, com a unicidade da existência, o homem está sempre em contradição consigo mesmo e com a justiça de Deus. Com a anterioridade da alma e a pluralidade dos mundos, o horizonte se alarga; faz-se luz sobre os pontos mais obscuros da fé; o presente e o futuro tornam-se solidários com o passado, e só então se pode compreender toda a profundeza, toda a verdade e toda a sabedoria das máximas do Cristo” (4).
É necessário o esforço para domarmos nossa tendência de entrar na porta larga que nos conduz ao caminho fácil da ilusão. Não desanimemos, perseverando no bem, com paciência. A porta estreita nos conduzirá à estrada da felicidade verdadeira, e quem quer ser feliz tem que se fazer feliz.
Diz o amoroso Espírito Amélia Rodrigues, através da psicografia do querido Divaldo Pereira Franco: “Há flores no caminho, aguardando os homens que estejam dispostos a vencer as distâncias emocionais e espirituais que os separam, a conquistar os espaços morais!” (5).

Muita paz!

Dados bibliográficos:
1 – A Bíblia Sagrada – João Ferreira de Almeida –Mateus, cap.7, 13 e 14
2 – Idem, ibidem, João, cap.8, 32 e 59.
3 – Boa Nova – Francisco Cândido Xavier – Humberto de Campos – lição 26 – Feb.
4 – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Allan Kardec – cap. XVIII – item 5 – Feb.
5 – Há Flores no Caminho – Divaldo Pereira Franco – Amélia Rodrigues – Pág. 2 – Leal.

As duas portas e as duas estradas

Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta e espaçosa é a estrada que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela; porque estreita é a porta e apertada a estrada que conduz à vida e poucos são os que acertam com ela. (Mateus, VII, 13-14.)
Duas são as estradas que se apresentam aos homens: a da Evolução e a da Degradação.
Também são duas as portas que se abrem à pobre criatura humana: a porta da Vida e a porta da Morte.
Aqueles que caminham pela Estrada da Evolução, hão de, forçosamente, passar pela porta estreita que conduz à Vida.
Os que descem o declive da degradação, hão de atravessar a porta larga para viverem na Morte!
Há vida na Vida e há vida na Morte!
Na vida da Terra há morte; na Vida do Espaço a vida venceu a Morte.
A Estrada da Evolução é apertada, poucos são os que acertam com ela, mas grande é o número dos que não querem acertar, pois ouviram dizer que ela é apertada.
A Estrada da Degradação é larga, muitos são os que por ela passam e dela não querem sair, por ser espaçosa e facultar-lhes uma série considerável de diversões.
A Estrada do Progresso vê-se com os olhos da alma, e a alma a deseja, ardentemente, para a aquisição de seus destinos felizes; a da Degradação proporciona no presente os gozos efêmeros do mundo e o homem material por ela caminha preso a essas delícias perecíveis.
A Estrada do Progresso, por ser apertada, exige conhecimentos, reclama atenção, critério, raciocínio, para que não se decline para a direita ou para a esquerda.
A Estrada da Degradação é guarnecida de todos os atrativos, festejada com todas as músicas: nela os cinco sentidos humanos se fascinam, embriagam-se pelas sensações exteriores, aniquilando o Espírito que fala à consciência, adormecendo a alma que deixa de agitar a razão.
Para subir-se pela Estrada da Evolução e entrar-se pela porta do Progresso, é preciso Prudência, Fortaleza, Temperança, Retidão, Fé, Esperança e Caridade. Por isso: Estreita é a porta e apertado é o caminho que conduz à Vida, e poucos são os que acertam com ela.
A Estrada da Degradação é a da Soberba, da Avareza, da Luxúria, da Ira, do Ódio, da Gula, da Preguiça, da Inveja, de que o mundo está cheio; eis porque: Larga é a porta e espaçosa é a estrada que conduz à perdição e muitos são os que por ela entram.
Entrai pela Porta Estreita porque é a que dá entrada à Vida Eterna.
Cairbar Schutel, do seu livro Parábolas e Ensinos de Jesus, 1ª edição de 1928.

O EVANGEHO SEGUNDO O ESPIRITISMO

 ALLAN KARDEC

CAPÍTULO XVIII – MUITOS OS CHAMADOS E POUCOS ESCOLHIDOS

ITENS 3, 4 e 5: A PORTA ESTREITA
“Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que leva à perdição, e muitos são os que entram por ela. Que estreita é a porta, e que apertado o caminho que leva para a vida, e que poucos são os que acertam com ela!“ (Mateus, VII:1 3 e 14)
“E perguntou-lhe alguém: Senhor, são poucos, então, os que se salvam? E ele lhe disse: Porfiai por entrar pela porta estreita, porque vos digo que muitos procurarão entrar e não o poderão.
E quando o pai de família tiver entrado e fechado a porta, vós estareis de fora, e começareis a bater à porta, dizendo: Abre-nos, Senhor! E ele vos responderá, dizendo: Não sei de onde sois. Então começareis a dizer: Nós somos aqueles que, em tua presença, comemos e bebemos, e a quem ensinaste nas nossas praças.
E ele vos responderá: Não sei de onde sois; apartai-vos de mim, todos os que obrais a iniquidade. Ali será o choro e o ranger de dentes, quando virdes que Abraão, Isaac e Jacó, e todos os profetas, estão no Reino de Deus, e que vós ficais fora dele, excluídos.
E virão do Oriente e do ocidente, e do Setentrião e do Meio-Dia, muitos se sentarão à mesa do Reino de Deus. E então, os que são os últimos serão os primeiros, e os que são os primeiros serão os últimos.” ( Lucas, XIII: 23 a 30 )
Se entendermos essas alegorias de Jesus ao pé da letra, esse Deus, apresentado como “o pai de família” não se enquadra no Deus-Pai, no Deus-Amor, trazido pelo próprio Jesus.
O contexto geral dos ensinos de Jesus nos leva a compreender, nessas frases, a justiça e o amor do Pai em relação à sua criação, mostrando-nos a situação geral da atual humanidade, ainda mais próxima da animalidade do que da angelitude, pela sua imperfeição, como disse Emmanuel.
Por isso, é o homem tão atraído pelas sensações materiais, percebidas através dos sentidos físicos, confundindo as necessidades do corpo com as necessidades do Espírito, ou, iludindo-se na busca de satisfazer essas últimas, entregando-se às satisfações físicas e materiais.
Por isso também, é estreita a porta da salvação, da libertação da necessidade de permanecer na matéria, a fim de penetrar nos planos mais elevados, moradia permanente dos Espíritos que transcendem a si próprios.
(*) A fim de chegar até ela e transpô-la, há uma longa caminhada, que exige esforço contínuo na busca de conhecimentos, reclama atenção, raciocínio, prudência, fortaleza, temperança, retidão, fé, esperança e caridade, razão pela qual “estreita é a porta e apertada a estrada que conduz à Vida”, Vida eterna de perfeição e de felicidade.
A porta da perdição, da degradação, é larga, e espaçosa é a estrada que a ela conduz, por satisfazer a imperfeição, a imaturidade espiritual de quem não percebe as finalidades maiores do Espírito imortal viver na Terra. Nela o homem vive, percebendo, apenas, a realidade dos cinco sentidos, que o prendem, “aniquilando o Espírito que fala à consciência, adormecendo a alma que deixa de agitar a razão”
Essa estrada é a do orgulho, do egoísmo, da avareza, da luxúria, da ira, do ódio, da gula, da preguiça, da inveja, do desamor, atrasando e dificultando, pelas consequências de grandes dores e sofrimentos, a caminhada, que leva à transcendência espiritual de cada filho de Deus.
O entendimento da alma como independente do corpo é fundamental para a o esforço do homem na busca do seu aperfeiçoamento espiritual (intelectual e moral).
Enquanto entender a alma como consequência do funcionamento dos órgãos físicos, seus interesses serão os de gozar ao máximo os prazeres que a Terra lhe oferece, colocando assim sua felicidade na obtenção de tudo que lhe satisfaça seus interesses pessoais, incluindo nesses, por exemplo, a satisfação de ser reconhecido, pela sua inteligência, como um benfeitor da humanidade.
O espiritismo, todavia, vai além, com a afirmação comprovada da lei natural da reencarnação, a única que evidencia a justiça divina, pois, que dá a cada um dos seus filhos, a oportunidade de efetuar seu desenvolvimento espiritual, segundo seu livre-arbítrio, que lhe permite fazer suas escolhas no como viver, aprendendo com suas experiências, através das consequências das suas escolhas, inseridos todos também na lei de causa e efeito.
A unicidade da vida na Terra, com a alma sendo criada no início dessa vida, nas desigualdades existentes desde o nascimento, de capacidades intelectuais, de famílias, de comunidades, de diferentes oportunidades, etc., retira de Deus o atributo da Justiça, pois que trata seus filhos de modos diferentes, exigindo, todavia, que todos se tornem seguidores de Jesus, que já era puro e perfeito.

Dá-lhes tantas dificuldades no viver, e uma porta tão estreita, que apenas poucos podem atravessar, condenando os demais a sofrimentos eternos. “Quais as faltas de que essa humanidade seria culpada, para merecer uma sorte tão triste, no presente e no futuro, se toda ela estivesse na Terra e a alma não tivesse outras existências? Por que essa porta tão estreita, que apenas a um pequeno número é dado transpor…?”
“Com a anterioridade da alma e a pluralidade dos mundos, o horizonte se alarga, iluminam-se os pontos obscuros da fé, o presente e o futuro se mostram solidários com o passado, e somente assim poderemos compreender toda a profundidade e toda a sabedoria das máximas do Cristo.”
Compreende-se então, que esse estado da humanidade da Terra será alterado, quando o caminho do bem for o mais frequentado, tornando o homem capaz de completar seu desenvolvimento com prazer e segurança, sem tantos sofrimentos e desequilíbrios, porque, então, entende as leis do Pai, sua justiça, libertando-se dos males que criara em si mesmo, vivendo todos em um clima fraternal de progresso no bem, pelo bem e para o bem de todos.
Assim, quem já conseguiu perceber que a vida na Terra tem por objetivo a melhoria do Espírito imortal, não deve abater-se com as dificuldades e sofrimentos próprios de um mundo inferior, mas sim, buscando através da razão e da sensibilidade, aceitá-los como colheitas de semeaduras imperfeitas, de vidas passadas ou da atual, buscando no bem as soluções para os mesmos, de forma a não criar problemas semelhantes ou piores para o futuro.
Quanto ao “choro e ranger de dentes“, referia-se Jesus aos sofrimentos consequentes das faltas, após a morte, no intervalo das reencarnações, e, também aos que, não podendo continuar na Terra, quando ela transformar-se em um mundo melhor, pelo desamor e maldade, forem habitar um mundo primitivo como a Terra já o foi, nos primórdios da humanidade, para desenvolver as virtudes que continuam no seu Ser Essencial.
Na frase final do texto de Lucas: “E, então, os que são os últimos serão os primeiros e os que são os primeiros serão os últimos”, vemos que todos os Espíritos conquistarão o Reino de Deus, no seu processo evolutivo.
* – Os 3º, 4º e 5º parágrafos baseiam-se no livro Parábolas e Ensinos de Jesus, de Cairbar Schutel: cap. As Duas Estradas E As Duas Portas.
Leda de Almeida Rezende Ebner

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